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EUA sustam relatório sobre abusos
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Os casos de torturas e abusos
contra prisioneiros no Iraque levaram os EUA a adiar, por prazo
indeterminado, a divulgação de
relatório anual produzido pelo
Departamento de Estado sobre
ações para a promoção de direitos
humanos no mundo.
Inicialmente, o relatório "Supporting Human Rights and Democracy: The US Record 2003-2004" seria divulgado no dia 5, no
mesmo dia em que o Congresso
dos EUA convocou o secretário
da Defesa, Donald Rumsfeld, para
depor sobre a tortura no Iraque.
Oficialmente, os EUA alegaram
"razões técnicas que retardaram a
finalização" do relatório.
Segundo a Folha apurou, a crise
no Iraque foi central para o adiamento do documento, que soaria
"hipócrita" se divulgado agora.
Não há uma nova data.
O primeiro relatório do tipo foi
lançado em 2003, anunciado como uma demonstração de que os
EUA "trabalham diariamente para tornar a questão dos direitos
humanos uma realidade".
No documento, a China, por
exemplo, foi qualificada como
"autoritária" e responsável por
"reprimir indivíduos e grupos políticos e religiosos". O embaixador americano em Pequim, Mark
Lambert, foi co-vencedor de um
prêmio criado para os ""defensores dos direitos humanos".
O documento de 2002-2003 relatou atividades dos EUA e de organizações financiadas pelos
americanos para a promoção dos
direitos humanos em 92 países.
A base do relatório adiado é o
"US Human Rights Report", divulgado anualmente há mais de
duas décadas e que relata violações de direitos humanos no
mundo -exceto as dos EUA. O
deste ano saiu em fevereiro.
Sobre o Iraque, o documento
relata apenas violações anteriores
à queda do regime de Saddam
Hussein, mas que, ironicamente,
poderiam ser aplicadas também
aos americanos: "Indivíduos presos são rotineiramente submetidos a maus-tratos, incluindo prolongados interrogatórios acompanhados de torturas, espancamentos e de várias privações".
Segundo disse à Folha um funcionário do Departamento de Estado, mesmo após as provas materiais de violação de direitos humanos no Iraque, nenhum dos
dois relatórios deverá citar as violações americanas, porque o objetivo é falar de outros países.
Uma das linhas centrais do formato do "US Human Rights Report" foi forjada no governo Carter (1977-81) e informa sobre "o
respeito à integridade de pessoas,
incluindo torturas, prisões arbitrárias, recusa a julgamentos justos e invasões de domicílios".
Além da tortura, também começam a aparecer nos EUA informações sobre procedimentos em
prisões no Iraque que violam as
próprias regras americanas.
Segundo o jornal "The Washington Post", apenas 600 dos
mais de 43 mil iraquianos detidos
pelos EUA no país foram encaminhados às autoridades no Iraque
para serem processados.
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