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Propaganda chinesa resiste a terremoto
DE PEQUIM
A capital chinesa é tão
barulhenta e trepidante
que, quando senti minha
mesa e minha cadeira balançarem, pensei que havia alguma obra mais radical no prédio. Abri a janela
do meu escritório atrás de
alguma britadeira ou algum guindaste novo.
Como o chão continuou
a tremer, não tive dúvidas.
No ano passado, estive em
Pisco, no Peru, e vivi três
tremores acima de 6,5
pontos na escala Richter.
A sensação é a mesma.
Só que, no Peru, eu estava no meio da rua. Eu me
afastei das casas já destruídas e só temi que a
multidão me atropelasse.
Em Pequim, no 12º andar, não foi tão fácil. Ao
contrário de um incêndio,
você não sabe se vale a pena correr e como correr
durante um tremor. Fiquei paralisado, meio tonto, por alguns minutos.
Ao voltar para a janela,
vi surgir uma pequena
multidão que deixava bancos, restaurantes e um
shopping center que ficam
bem na frente do prédio.
Aí decidi descer e peguei
o elevador sem medo. Comecei a perguntar aos chineses que se protegiam na
calçada, fora de seus prédios, o que sentiram, como
reagiram. Descobri que o
pânico é o mesmo, até para
veteranos de terremotos.
Mas muitos jovens não
quiseram conversar comigo. Um bancário ficou bravo. "Nem terremoto vai
prejudicar a nossa Olimpíada. Você vai escrever
que tem terremotos na
China e isso vai pegar mal
para o meu país." A propaganda chinesa resiste a
terremotos.
(RJL)
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