São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Propaganda chinesa resiste a terremoto

DE PEQUIM

A capital chinesa é tão barulhenta e trepidante que, quando senti minha mesa e minha cadeira balançarem, pensei que havia alguma obra mais radical no prédio. Abri a janela do meu escritório atrás de alguma britadeira ou algum guindaste novo.
Como o chão continuou a tremer, não tive dúvidas. No ano passado, estive em Pisco, no Peru, e vivi três tremores acima de 6,5 pontos na escala Richter. A sensação é a mesma.
Só que, no Peru, eu estava no meio da rua. Eu me afastei das casas já destruídas e só temi que a multidão me atropelasse.
Em Pequim, no 12º andar, não foi tão fácil. Ao contrário de um incêndio, você não sabe se vale a pena correr e como correr durante um tremor. Fiquei paralisado, meio tonto, por alguns minutos.
Ao voltar para a janela, vi surgir uma pequena multidão que deixava bancos, restaurantes e um shopping center que ficam bem na frente do prédio.
Aí decidi descer e peguei o elevador sem medo. Comecei a perguntar aos chineses que se protegiam na calçada, fora de seus prédios, o que sentiram, como reagiram. Descobri que o pânico é o mesmo, até para veteranos de terremotos.
Mas muitos jovens não quiseram conversar comigo. Um bancário ficou bravo. "Nem terremoto vai prejudicar a nossa Olimpíada. Você vai escrever que tem terremotos na China e isso vai pegar mal para o meu país." A propaganda chinesa resiste a terremotos. (RJL)


Texto Anterior: Terremoto mata ao menos 10 mil na China
Próximo Texto: Mídia chinesa demora a dar importância ao desastre
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.