São Paulo, quarta-feira, 13 de maio de 2009

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Morte de Alfonsín revigora oposição de esquerda a Cristina

Filho de presidente morto em março enfrenta Kirchner em eleição ao Congresso argentino e faz intenções de voto em radicais dobrar

Em ato de lançamento de sua chapa, Ricardo Alfonsín diz que sua aliança trabalha para eleger novo presidente do país no pleito de 2011


THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

A centenária UCR (União Cívica Radical), partido mais tradicional da Argentina, lançou ontem sua aliança para as eleições legislativas de junho, de olho na sucessão presidencial de 2011 e impulsionada pelo efeito político gerado pela morte, em março, do presidente Raul Alfonsín (1983-1989).
Para superar o limbo em que entrou após o fracasso do governo de Fernando de la Rúa (1999-2001), que renunciou em meio à maior crise econômica do país, a UCR aposta em união com setores da centro-esquerda e na força do sobrenome Alfonsín, com a candidatura do filho do presidente na Província de Buenos Aires, maior colégio eleitoral do país (37% do total).
A morte do radical Alfonsín, primeiro presidente eleito após a última ditadura militar argentina (1976-1983), produziu as maiores manifestações cívicas no país em 35 anos. "Houve ainda uma revalorização do radicalismo perante à opinião pública e a volta da autoestima dos radicais", disse a socióloga Doris Capurro, da consultora Ibarómetro.
Segundo Capurro, a inclusão de Ricardo Alfonsín, 57, na lista de candidatos a deputado federal da aliança radical na Província de Buenos Aires duplicou a intenção de voto na chapa, que passou de 8% a 16,9%. A UCR vem de resultados ruins nas eleições legislativas nacionais pela Província: 5,2% em 2007, 6,9% em 2005 e 9,9% em 2003.
Em contrapartida, diz a analista, o avanço do Acordo Cívico e Social, a aliança entre UCR, Coalizão Cívica (encabeçada por egressos do radicalismo) e Partido Socialista, acabou por beneficiar a lista à Câmara do governo na Província, encabeçada pelo ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007). Isso porque interrompeu a polarização entre os candidatos governistas e a aliança de centro-direita Unión PRO, que tem o empresário e deputado federal Francisco de Narváez como primeiro candidato.
"Os votos que se somaram ao radicalismo após a morte de Alfonsín vieram do setor de Narváez", afirmou Capurro. Segundo o Ibarómetro, a lista de Kirchner lidera com 40% das intenções de voto, contra 28,8% de Narváez, da frente que leva peronistas dissidentes do governo e o PRO, sigla do prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri.
Para Roberto Bacman, do Centro de Estudos de Opinião Pública, o "efeito Alfonsín" foi localizado nas Províncias de Buenos Aires e Córdoba, e já apresenta sinais de estancamento. "A espuma do efeito Alfonsín está baixando."

"Mudança segura"
O slogan da nova frente radical -"a mudança segura"- é um contraponto à retórica de Kirchner, que já afirmou que o país "explodirá" e "voltará a 2001" se o governo perder a maioria legislativa. "Vamos estabelecer as bases de um governo diferente, sem práticas dos governos [Carlos] Menem [1989-1999] e Kirchner", afirmou no ato de lançamento das candidaturas o advogado Ricardo Gil Lavedra, candidato a deputado federal pela capital.
Sobre as suspeitas de manipulação das estatísticas oficiais, Lavedra prometeu "acabar com as mentiras ao povo" e criar uma "comissão nacional de verdade estatística". "A única coisa de que temos que ter medo é de dar mais poder aos Kirchner em 28 de junho."
Sob gritos de "Alfonsín, Alfonsín", entoados a seu pai, Ricardo Alfonsín disse que as eleições trarão "equilíbrio político" e protagonismo ao Congresso. "Estamos trabalhando para eleger o próximo presidente em 2011."


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