|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Morte de Alfonsín revigora oposição de esquerda a Cristina
Filho de presidente morto em março enfrenta Kirchner em eleição ao Congresso argentino e faz intenções de voto em radicais dobrar
Em ato de lançamento de sua chapa, Ricardo Alfonsín diz que sua aliança trabalha para eleger novo presidente do país no pleito de 2011
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
A centenária UCR (União Cívica Radical), partido mais tradicional da Argentina, lançou
ontem sua aliança para as eleições legislativas de junho, de
olho na sucessão presidencial
de 2011 e impulsionada pelo
efeito político gerado pela morte, em março, do presidente
Raul Alfonsín (1983-1989).
Para superar o limbo em que
entrou após o fracasso do governo de Fernando de la Rúa
(1999-2001), que renunciou em
meio à maior crise econômica
do país, a UCR aposta em união
com setores da centro-esquerda e na força do sobrenome Alfonsín, com a candidatura do filho do presidente na Província
de Buenos Aires, maior colégio
eleitoral do país (37% do total).
A morte do radical Alfonsín,
primeiro presidente eleito após
a última ditadura militar argentina (1976-1983), produziu
as maiores manifestações cívicas no país em 35 anos. "Houve
ainda uma revalorização do radicalismo perante à opinião pública e a volta da autoestima
dos radicais", disse a socióloga
Doris Capurro, da consultora
Ibarómetro.
Segundo Capurro, a inclusão
de Ricardo Alfonsín, 57, na lista
de candidatos a deputado federal da aliança radical na Província de Buenos Aires duplicou a
intenção de voto na chapa, que
passou de 8% a 16,9%. A UCR
vem de resultados ruins nas
eleições legislativas nacionais
pela Província: 5,2% em 2007,
6,9% em 2005 e 9,9% em 2003.
Em contrapartida, diz a analista, o avanço do Acordo Cívico
e Social, a aliança entre UCR,
Coalizão Cívica (encabeçada
por egressos do radicalismo) e
Partido Socialista, acabou por
beneficiar a lista à Câmara do
governo na Província, encabeçada pelo ex-presidente Néstor
Kirchner (2003-2007). Isso
porque interrompeu a polarização entre os candidatos governistas e a aliança de centro-direita Unión PRO, que tem o
empresário e deputado federal
Francisco de Narváez como
primeiro candidato.
"Os votos que se somaram ao
radicalismo após a morte de Alfonsín vieram do setor de Narváez", afirmou Capurro. Segundo o Ibarómetro, a lista de
Kirchner lidera com 40% das
intenções de voto, contra
28,8% de Narváez, da frente
que leva peronistas dissidentes
do governo e o PRO, sigla do
prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri.
Para Roberto Bacman, do
Centro de Estudos de Opinião
Pública, o "efeito Alfonsín" foi
localizado nas Províncias de
Buenos Aires e Córdoba, e já
apresenta sinais de estancamento. "A espuma do efeito Alfonsín está baixando."
"Mudança segura"
O slogan da nova frente radical -"a mudança segura"- é
um contraponto à retórica de
Kirchner, que já afirmou que o
país "explodirá" e "voltará a
2001" se o governo perder a
maioria legislativa. "Vamos estabelecer as bases de um governo diferente, sem práticas dos
governos [Carlos] Menem
[1989-1999] e Kirchner", afirmou no ato de lançamento das
candidaturas o advogado Ricardo Gil Lavedra, candidato a deputado federal pela capital.
Sobre as suspeitas de manipulação das estatísticas oficiais,
Lavedra prometeu "acabar com
as mentiras ao povo" e criar
uma "comissão nacional de
verdade estatística". "A única
coisa de que temos que ter medo é de dar mais poder aos
Kirchner em 28 de junho."
Sob gritos de "Alfonsín, Alfonsín", entoados a seu pai, Ricardo Alfonsín disse que as
eleições trarão "equilíbrio político" e protagonismo ao Congresso. "Estamos trabalhando
para eleger o próximo presidente em 2011."
Texto Anterior: Comandante no Afeganistão caiu por divergências Próximo Texto: Filho atribui renascimento a conflito rural Índice
|