São Paulo, domingo, 13 de junho de 2004

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ÁFRICA

Casa Branca estuda possibilidade de pressionar governo do país africano a interromper ação de milícias em zona conflagrada

Washington debate se abusos no Sudão são genocídio

MARC LACEY
DO ""NEW YORK TIMES", EM NAIRÓBI (QUÊNIA)

A administração George W. Bush está analisando a possibilidade de endurecer sua política em relação ao governo do Sudão em razão dos fatos ocorridos em Darfur, a região oeste do país onde mais de 1 milhão de pessoas já foram expulsas de suas casas por milícias árabes que, segundo muitos na região, têm vínculos diretos com o Exército sudanês.
Funcionários do governo Bush dizem estar analisando se o que está acontecendo em Darfur representa genocídio. Até agora os EUA usaram apenas o termo ""limpeza étnica". As autoridades disseram que também estudam a possibilidade de impor sanções a autoridades sudanesas ligadas ao êxodo populacional.
Em entrevista telefônica concedida anteontem, o secretário de Estado americano, Colin Powell, disse que os vínculos entre as milícias, conhecidas como Janjaweed, e o governo sudanês são fortes e que muitas pessoas ainda correm risco em Darfur e na área que faz fronteira com o Chade.
""Sem ter um relatório de inteligência completo à minha frente, o que posso afirmar com confiança é que acreditamos claramente que o governo do Sudão deu, sim, apoio a essas milícias", disse.
O secretário evitou o termo ""genocídio" ao descrever os acontecimentos em Darfur, mas disse que advogados do governo estão iniciando uma revisão dos fatos para determinar se existem condições que justifiquem a afirmação de genocídio.
Se for esse o caso, aumentarão as pressões sobre os EUA, signatários da Convenção da ONU sobre o Genocídio, para que intervenham mais ativamente na região. A convenção descreve o genocídio como ""atos cometidos com a intenção de destruir, inteiramente ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso".

Demora em Ruanda
Dez anos atrás, funcionários da administração de Bill Clinton (1993-2001) hesitaram em usar o termo ""genocídio" para descrever os fatos em Ruanda, e, mais tarde, o presidente pediu desculpas pela demora.
Falando reservadamente, Powell já expressou seu desejo de impedir um massacre semelhante durante sua permanência à frente do Departamento de Estado.
""Não estou preparado para dizer qual é o termo legal correto para descrever o que está acontecendo", disse Powell. ""Tudo o que sei é que há pelo menos 1 milhão de pessoas em situação de necessidade desesperadora e que muitas delas vão morrer se não conseguirmos mobilizar a comunidade internacional e não conseguirmos que os sudaneses cooperem com a comunidade internacional. E, depois de o fato ter sido consumado, não fará grande diferença como o descrevemos."
Powell disse que a administração estuda a possibilidade de impor sanções a autoridades sudanesas específicas. Recentemente, a Câmara dos Deputados aprovou uma resolução pedindo à administração que sejam congelados os bens pessoais de indivíduos envolvidos nos deslocamentos forçados em Darfur e que esses indivíduos sejam proibidos de viajar aos Estados Unidos.
Nesta semana, os líderes do G8 (as sete nações mais ricas do mundo mais a Rússia), reunidos em Sea Island, divulgaram um comunicado convocando as autoridades sudanesas a desarmarem as milícias apoiadas pelo governo que ""são responsáveis por severas violações dos direitos humanos em Darfur".
Na sexta-feira, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou por unanimidade uma resolução pedindo a interrupção dos combates em Darfur e autorizando a preparação de uma missão de manutenção da paz a ser enviada ao sul do Sudão.
Powell disse que continua a confiar em que as negociações de paz no Quênia, que já alcançaram uma série de acordos importantes, consigam pôr fim a um conflito entre o governo sudanês e um grupo rebelde do sul do país.
Os Estados Unidos vêm pressionando pelo fim dessa guerra e oferecendo a possibilidade de um dividendo de paz se for fechado um acordo final. Mas Powell disse que a mensagem que quer enviar às autoridades sudanesas é: ""Não pensem que, quando vocês contarem com esse acordo abrangente, todos os benefícios que esperavam auferir dele vão se concretizar, se o problema em Darfur continuar presente".


Tradução de Clara Allain


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