São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Florence Aubenas e seu tradutor ficaram seqüestrados 157 dias; ela já voltou a Paris em avião militar

Jornalista francesa é libertada no Iraque

DA REDAÇÃO

A jornalista francesa Florence Aubenas, 44, refém por 157 dias no Iraque, foi libertada na tarde de sábado e transportada ontem de volta a Paris, sendo recebida numa base militar por familiares e pelo presidente Jacques Chirac.
Ela estava em Bagdá como enviada especial do jornal "Libération". Foi seqüestrada em companhia de seu guia e tradutor, o iraquiano Hussein Hanoun al Saadi, também libertado anteontem e já de volta à sua casa, em Bagdá.
O embaixador francês no Iraque, Bernard Bajolet, disse que a operação de resgate foi "extremamente perigosa", mas não deu detalhes. A ministra francesa da Defesa, Michelle Alliot-Marie, agradeceu o empenho os serviços de inteligência de seu país, conhecidos pela sigla DGSE.
O ex-chanceler Michel Barnier, negociador francês até deixar o governo recentemente, negou que a França tenha pago resgate em troca da libertação da jornalista e de seu tradutor.
Mas o jornal italiano "Corriere della Sera" cita rumores de que o governo francês teria pago aos seqüestradores US$ 15 milhões.
O jornal "Libération" disse em seu site que, após uma longa sucessão de contatos, os reféns foram deslocados até um bairro periférico de Bagdá, onde foram por fim resgatados.
O resgate ocorreu às 16h30 locais, no sábado. Mas as autoridades que participaram da operação mantiveram o compromisso de só divulgá-lo quando a jornalista já estivesse fora do Iraque.
Antes das 17h, o próprio presidente Chirac dava a boa notícia à família de Florence Aubenas, mas pedia que ela guardasse a discrição. O diretor do "Libération", Serge July, também foi informado, mas não chegou a repassar a boa nova para seus subordinados até ontem de manhã.
A notícia só foi divulgada às 10h30 de ontem, hora de Paris, quando a porta-voz da Chancelaria, Cécile Pozzo di Borgo, divulgou um curto comunicado: "Florence Aubenas foi libertada. Ela está a caminho da França".
A retirada da jornalista de Bagdá foi feita em condições excepcionais. O aeroporto local está fechado desde sexta-feira em razão de uma tempestade de areia. O Falcon militar francês foi o único aparelho autorizado a aterrissar e a decolar em seguida.
O avião fez uma escala técnica em Chipre, onde o ministro francês das Relações Exteriores, Philippe Douste-Blazy, embarcou em companhia da ex-refém. Ela estava mais magra e com as rugas do rosto mais pronunciadas. Mostrava-se, no entanto, sorridente e muito descontraída.
O Falcon pousou na base de Villacoublay às 19h15, hora de Paris, onde cerca de 200 pessoas aguardavam a jornalista. Ela foi longamente abraçada por Jacques Chirac. O presidente francês não recebia boas notícias desde a crise aberta em 29 de maio, com a vitória do "não" no plebiscito sobre a Constituição da União Européia.
O abraço de Chirac tinha algo de inusitado. O "Libération" é um jornal em sua origem mais à esquerda do que o Partido Comunista. Chirac é líder conservador.
Mas o longo seqüestro de Aubenas teve o poder de catalisar apoios e apagar diferenças partidárias. Uma comissão de mobilização, apoiada pelo "Libé" e pela ONG Repórteres sem Fronteiras, promoveu atos públicos e espetáculos por toda a França. Dois painéis gigantescos traziam as fotos da jornalista e de seu tradutor e informavam, em Paris, o número de dias do seqüestro.
Aubenas dará entrevista amanhã. Mas disse já ontem que ela e Hussein ficaram presos pelos 157 dias no pavimento subterrâneo de uma casa, cuja localização ela não soube precisar. Seus punhos e tornozelos permaneciam atados. Uma venda lhe tapava permanentemente os olhos.
Ela disse que estava particularmente deprimida recentemente. Um dos seqüestradores lhe deu, então, de presente a possibilidade de assistir à televisão. Sintonizou o aparelho na TV5, o canal internacional em língua francesa.
Aubenas disse, então, que viu no canto da tela seu nome e o de Hussein com a menção aos 140 dias que haviam passado desde o momento do seqüestro.


Com agências internacionais

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