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IRAQUE SOB TUTELA
Florence Aubenas e seu tradutor ficaram seqüestrados 157 dias; ela já voltou a Paris em avião militar
Jornalista francesa é libertada no Iraque
DA REDAÇÃO
A jornalista francesa Florence
Aubenas, 44, refém por 157 dias
no Iraque, foi libertada na tarde
de sábado e transportada ontem
de volta a Paris, sendo recebida
numa base militar por familiares e
pelo presidente Jacques Chirac.
Ela estava em Bagdá como enviada especial do jornal "Libération". Foi seqüestrada em companhia de seu guia e tradutor, o iraquiano Hussein Hanoun al Saadi,
também libertado anteontem e já
de volta à sua casa, em Bagdá.
O embaixador francês no Iraque, Bernard Bajolet, disse que a
operação de resgate foi "extremamente perigosa", mas não deu detalhes. A ministra francesa da Defesa, Michelle Alliot-Marie, agradeceu o empenho os serviços de
inteligência de seu país, conhecidos pela sigla DGSE.
O ex-chanceler Michel Barnier,
negociador francês até deixar o
governo recentemente, negou
que a França tenha pago resgate
em troca da libertação da jornalista e de seu tradutor.
Mas o jornal italiano "Corriere
della Sera" cita rumores de que o
governo francês teria pago aos seqüestradores US$ 15 milhões.
O jornal "Libération" disse em
seu site que, após uma longa sucessão de contatos, os reféns foram deslocados até um bairro periférico de Bagdá, onde foram por
fim resgatados.
O resgate ocorreu às 16h30 locais, no sábado. Mas as autoridades que participaram da operação
mantiveram o compromisso de
só divulgá-lo quando a jornalista
já estivesse fora do Iraque.
Antes das 17h, o próprio presidente Chirac dava a boa notícia à
família de Florence Aubenas, mas
pedia que ela guardasse a discrição. O diretor do "Libération",
Serge July, também foi informado, mas não chegou a repassar a
boa nova para seus subordinados
até ontem de manhã.
A notícia só foi divulgada às
10h30 de ontem, hora de Paris,
quando a porta-voz da Chancelaria, Cécile Pozzo di Borgo, divulgou um curto comunicado: "Florence Aubenas foi libertada. Ela
está a caminho da França".
A retirada da jornalista de Bagdá foi feita em condições excepcionais. O aeroporto local está fechado desde sexta-feira em razão
de uma tempestade de areia. O
Falcon militar francês foi o único
aparelho autorizado a aterrissar e
a decolar em seguida.
O avião fez uma escala técnica
em Chipre, onde o ministro francês das Relações Exteriores, Philippe Douste-Blazy, embarcou em
companhia da ex-refém. Ela estava mais magra e com as rugas do
rosto mais pronunciadas. Mostrava-se, no entanto, sorridente e
muito descontraída.
O Falcon pousou na base de Villacoublay às 19h15, hora de Paris,
onde cerca de 200 pessoas aguardavam a jornalista. Ela foi longamente abraçada por Jacques Chirac. O presidente francês não recebia boas notícias desde a crise
aberta em 29 de maio, com a vitória do "não" no plebiscito sobre a
Constituição da União Européia.
O abraço de Chirac tinha algo de
inusitado. O "Libération" é um
jornal em sua origem mais à esquerda do que o Partido Comunista. Chirac é líder conservador.
Mas o longo seqüestro de Aubenas teve o poder de catalisar
apoios e apagar diferenças partidárias. Uma comissão de mobilização, apoiada pelo "Libé" e pela
ONG Repórteres sem Fronteiras,
promoveu atos públicos e espetáculos por toda a França. Dois painéis gigantescos traziam as fotos
da jornalista e de seu tradutor e
informavam, em Paris, o número
de dias do seqüestro.
Aubenas dará entrevista amanhã. Mas disse já ontem que ela e
Hussein ficaram presos pelos 157
dias no pavimento subterrâneo
de uma casa, cuja localização ela
não soube precisar. Seus punhos e
tornozelos permaneciam atados.
Uma venda lhe tapava permanentemente os olhos.
Ela disse que estava particularmente deprimida recentemente.
Um dos seqüestradores lhe deu,
então, de presente a possibilidade
de assistir à televisão. Sintonizou
o aparelho na TV5, o canal internacional em língua francesa.
Aubenas disse, então, que viu
no canto da tela seu nome e o de
Hussein com a menção aos 140
dias que haviam passado desde o
momento do seqüestro.
Com agências internacionais
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