Proposta do prefeito para criar escritórios e parques esbarra na oposição dos verdes e dos comunistas

DO "INDEPENDENT", EM PARIS

A Câmara Municipal de Paris abriu ontem o debate sobre o Plano Local de Urbanismo (PLU), que vai moldar o desenvolvimento da cidade mais visitada do mundo até 2020. Na prática, o PLU pode decidir o futuro social, econômico e arquitetônico da capital francesa até o fim do século 21. Antes, no entanto, o prefeito socialista Bertrand Delanoe deve enfrentar a oposição irada de seus aliados verdes e comunistas. Delanoe defende a construção de um grande parque na zona noroeste da cidade e a criação de mais espaços para escritórios. Os comunistas, por sua vez, querem que Paris seja ampliada para cima -permitindo, pela primeira vez, a construção de florestas de arranha-céus em sua periferia. E os verdes acham que a expansão deve ser em sentido horizontal, apagando barreiras físicas e psicológicas entre a capital e seus conturbados subúrbios. A idéia de Delanoe é preservar o caráter da cidade e, ao mesmo tempo, interromper a fuga de empregos e cidadãos para os subúrbios e as Províncias francesas. Nos últimos 15 anos, Paris perdeu 10% de seus empregos, e a população de pouco mais de 2 milhões de habitantes vem diminuindo à taxa de 1% ao ano. Para tanto, o prefeito sugere criar um parque grande e imóveis residenciais de baixo preço numa região atravessada por ramais ferroviários que caíram em desuso no 17º "arrondissement" (distrito). Também quer converter em escritórios pátios ferroviários abandonados ou subutilizados perto de outras estações principais. Há ainda o plano de erigir uma floresta de edifícios e um shopping ao norte do setor nordeste do Boulevard Péripherique, a avenida de dez pistas que circunda a cidade.

Críticas
Mas o plano de Delanoe vem sendo criticado como "tímido" ou uma corruptela do caráter tradicional de Paris. Os aliados verdes de Delanoe na Câmara o acusam de se vende ao setor comercial, colocando ênfase excessiva na construção de espaços para escritórios e insuficiente na criação de habitações "sociais". A maioria dos turistas que visita Paris se encanta ao ver quão pouco a cidade se deixou modificar pelo século 20. A uniformidade e as vistas urbanas amplas da capital francesa foram conseguidas graças a um programa grande -na época, extremamente controverso- de planejamento e renovação urbana inaugurado em 1853. Ninguém está sugerindo que seja hora de Paris ser recortada e remodelada novamente. Mas muita gente, inclusive Delanoe, argumenta que uma grande cidade, se quiser continuar grande, não pode ficar imutável.