São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2007

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Correa quer proibir bancos de financiar imprensa

Presidente equatoriano afirma que a regra acabará com "relação incestuosa"

Proibição é sugestão para Constituinte; emissora de banqueiro divulgou vídeo de ministro que propôs legislação para finanças

DA REDAÇÃO

O presidente do Equador, Rafael Correa, defendeu ontem que a próxima Constituição do país proíba bancos de financiarem meios de comunicação para acabar com o que julga ser uma relação "incestuosa" entre os dois setores.
"Uma reforma que deve fazer a Assembléia Constituinte [que fará a nova Carta] é proibir essa relação incestuosa entre grupos financeiros e meios [de comunicação]", disse Correa.
As declarações são mais um capítulo da tensão no Equador entre os bancos, os meios de comunicação e o governo Correa, que envolve ao menos três episódios: dois escândalos com gravações ilegais onde aparece o ministro da Economia, Ricardo Patiño, e o envio ao Congresso do projeto da Lei de Regulação do Custo Máximo Efetivo do Crédito, legislação que, segundo o governo, "acabará com os excessos da banca" e forçará a queda dos juros.
No último domingo, veio a público uma gravação, supostamente feita em 12 de fevereiro, na qual o presidente do Congresso, Jorge Cevallos, de oposição ao governo, aparece antecipando ao ministro da Economia detalhes sobre a sessão do Parlamento do dia 15 daquele mês -quando foi aprovado o referendo sobre a convocação da Assembléia Constituinte.
Ontem, Correa atribuiu a divulgação à "imprensa corrupta vinculada aos bancos" -o vídeo foi transmitido pelo canal Teleamazonas, cujo proprietário é Fidel Egas, dono do Banco da Pechincha. As imagens provocaram a expulsão do presidente do Congresso de seu partido, o Prian (de oposição a Correa).
Patiño já é investigado por ter aparecido em um vídeo, em maio, supostamente passando a uma corretora de Quito informações privilegiadas sobre a venda de bônus da dívida equatoriana. Na época, o ministro disse que ele próprio gravou a conversa "para provar" como há negociatas com os títulos.
No discurso de ontem, o presidente equatoriano também atacou a campanha publicitária lançada pela Associação de Bancos Privados do Equador contra o projeto de lei de regulamentação do crédito. A campanha lembra a crise financeira de 1998, que desaguaria na dolarização da economia, em 2000, e afirma que a lei pode produzir crise semelhante.

Relação complicada
Correa, que tomou posse em janeiro, tem tido uma relação complicada com a imprensa. Ele está processando o jornal "La Hora" por causa de um editorial que o acusava de "governar com tumulto, pedras e paus". No domingo, apoiou a decisão do colega Hugo Chávez, da Venezuela, de não renovar a concessão do canal oposicionista RCTV. Até o fim da noite de ontem, nem a Teleamazonas nem outros meios de comunicação do Equador tinham se pronunciado sobre as declarações de Correa.
A convocação da Constituinte foi aprovada no referendo, em abril, por mais de 80% dos votos. Os constituintes serão eleitos em setembro.


Com agências internacionais


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