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ARTIGO
EUA redescobrem tolerância
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Depois da síndrome do Vietnã a síndrome do Iraque? Há
previsões, inclusive em Washington, de que o descarrilamento iraquiano fará da capital
americana centro de um superpoder convertido à humildade,
mais disposto a conversar, a
buscar soluções diplomáticas,
como no caso do Irã, pelo menos por enquanto. Nada de pretensões a donos do mundo que
levaram ao Vietnã e ao Iraque.
A secretária de Estado, Condoleezza Rice, reafirmou-o em
recado ao próprio vice-presidente dos EUA, Dick Cheney,
falcão de ponta, depois que o diretor da Agência Internacional
de Energia Atômica falou de
"malucos que andam querendo
bombardear o Irã".
Na América Latina, a referência maior dessa mudança
seria a política em relação a Cuba. Washington já estaria aceitando, segundo o "Miami Herald", uma reforma do regime
cubano em vez do chamado
"regime change". Talvez um
acordo de transição entre tecnocratas militares e uma nova
geração à frente do PC.
No auge da guerra de palavras entre o governo Bush e
Hugo Chávez, da Venezuela, foi
lançada em Washington a "estratégia da inoculação" -a
idéia era "vacinar" o continente
contra o vírus do chavismo. Os
EUA entrariam em campo com
a tarefa de construir uma frente anti-Chávez, o que acabou
não acontecendo. A maioria
dos países latino-americanos
ficou em silêncio. Rice voltou a
tratar do assunto Chávez na assembléia da OEA, em termos
bem mais modestos. Além de
um bate-boca com o delegado
venezuelano, vexame nunca
experimentado antes por um
enviado de Washington, Rice
limitou-se a pedir que o secretário-geral da OEA fosse à Venezuela.
Miguel Insulza investigaria o
caso da TV tomada por Chávez.
O pedido de Rice nem sequer
foi posto em votação. O próprio
Insulza, chileno, foi eleito secretário-geral da OEA contra a
vontade do governo Bush. Já
um sintoma de perda de peso.
Um ex-embaixador americano
de origem hispânica, Manuel
Rocha, citado pelo "Miami Herald", diz que o Iraque leva a política dos EUA para um centro
"tolerante", com abrangência
que alcança a América Latina.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
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