São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2007

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EUA atacam gasto militar na AL

General diz que latino-americanos só deveriam investir o necessário à modernização de suas forças

Conselheiro militar afirma que a região tem "baixo potencial" para conflitos, mas projeto de Chávez de defesa comum é temido

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Mesmo sendo responsáveis por quase metade dos gastos militares no mundo, os EUA recomendam cautela à América Latina ao fazer o mesmo tipo de investimento. "Nós respeitamos o direito soberano das nações de determinar quando (...) modernizar equipamento militar obsoleto, mas [essa despesa] deveria ser proporcional às ameaças atuais e não exceder as necessidades de modernização da defesa do país."
A frase é do general-brigadeiro Michael R. Moeller, em resposta a uma pergunta da Folha sobre o aumento recente de gastos militares de alguns países da região. Moeller é conselheiro de política militar dos EUA para os 32 países e 15 dependências na zona de influência do Comando Militar do Sul (USSOUTHCOM, na sigla em inglês), na América Latina.
O militar, baseado em Miami, participava de conversa online promovida na manhã de ontem pelo Departamento de Estado americano. Moeller fez a declaração acima depois de escrever que "essa é uma região em que o potencial de hostilidade entre os países é muito baixo".

Chávez
Os EUA se preocupam com a ascensão militar de Hugo Chávez na região, principalmente a proposta do presidente venezuelano de criar uma força militar entre os governos de esquerda. A Venezuela também é vista pelos EUA como uma perigosa porta de entrada para os chineses na América Latina.
Em encontro dos ministros da Defesa das três Américas na Nicarágua, no final do ano passado, o então secretário da Defesa norte-americano, Donald Rumsfeld, diria: "Entendo por que países vizinhos estejam preocupados". Ele se referia a acordo recém-fechado de compra de US$ 4,3 bilhões em armas da Rússia pela Venezuela.
Indagado ontem pela Folha se ele concordava com seu superior, o general Bantz Craddock, que o venezuelano era uma "força desestabilizadora", Moeller respondeu: "Nossas relações militares com a Venezuela são atualmente muito tensas. Isso é uma pena, porque a relação entre nossas Forças Armadas foi muito forte durante mais de 35 anos".
"Nós também sabemos", continuou Moeller, "que os desafios de hoje requerem que trabalhemos juntos para atingir o sucesso. Nós continuamos a convidar as Forças Armadas da Venezuela para exercícios multinacionais que nós co-patrocinamos com outras nações, mas eles declinaram".
Outro ponto de tensão no continente é a chamada zona da Tríplice Fronteira (Brasil-Argentina-Paraguai). Sobre esse assunto, o general-brigadeiro deu a entender que a preocupação do Comando Militar do Sul acaba de ser justificada. "Conforme visto na ameaça contra o aeroporto JFK, grupos terroristas islâmicos estão ativos em nosso hemisfério -não só na Tríplice Fronteira."
A pergunta citava depoimento do general Bantz Craddock ao Senado americano em novembro. Para ele, o "ambiente permissivo" da região fornecia a "estrutura para entidades criminais" como "narcoterroristas, terroristas islâmicos e o crime organizado mundial". Na resposta, Moeller se referiu à prisão, no dia 2 último, de três de quatro suspeitos de planejarem atacar o aeroporto internacional de Nova York. Três são da Guiana.
"No entanto", amenizou o general-brigadeiro, "via cooperação contínua de segurança e de compartilhamento de informação, as nações de nosso hemisfério podem negar a essas organizações a oportunidade de usar nossos territórios soberanos como portos seguros".


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