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Para agradar empresários, Chávez põe fim a imposto
Presidente extingue alíquota de 1,5% sobre transações de pessoas jurídicas
Medida visa ainda combater a inflação; aceno a setor produtivo se enquadra em fase de moderação chavista
em período pré-eleitoral
Presidência da Venezuela/France Presse
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Chávez manuseia um livro sobre economia durante encontro com empresários venezuelanos
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Sem sair do tom moderado
dos últimos dias, o presidente
da Venezuela, Hugo Chávez,
promoveu seu primeiro grande
encontro com empresários em
dois anos para anunciar um pacote de incentivos ao investimento privado. A principal medida foi a extinção do ITF, alíquota de 1,5% que incide sobre
transações financeiras de pessoas jurídicas.
"Alguém poderia pensar que,
se eu tivesse um plano para eliminar o setor privado, vocês estariam aqui?", perguntou Chávez à platéia de empresários
anteontem à noite, em evento
realizado no recém-estatizado
hotel Alba Caracas -até o ano
passado, o local era administrado pela cadeia Hilton.
O fim do ITF foi a medida
mais aplaudida pela platéia.
Chávez anunciou ainda maior
agilidade para a venda a empresas de dólares subsidiados em
até R$ 82 mil, desde que usados
para importar bens de capital, e
o perdão da dívida de R$ 188
milhões de 25.149 pequenos
produtores -vários dos quais
estão sob investigação, acusados de forjarem papéis para obter empréstimo.
O presidente venezuelano
também anunciou um fundo de
R$ 1,6 bilhão para financiar "setores estratégicos" da indústria
privada e exortou a criação de
empresas mistas.
"Nós podemos perfeitamente fazer aliança com o setor privado", disse. "Peço a todos que
deponham o ódio: aqui não podemos nos odiar."
Fim do livre mercado
Apesar do afago, Chávez disse que a Venezuela está "na
construção do socialismo". "O
livre mercado acabou aqui. Não
existe nem existirá nunca jamais. Isso é o mais perverso
que pode haver."
Na saída do evento, transmitido em cadeia obrigatória de
rádio e TV, empresários elogiaram principalmente o fim do
ITF e a reaproximação com o
governo. "Esse é o chamado de
fundo que se vem pedindo há
tempos, a empresa privada é
parte da solução para buscar o
bem-estar do país", disse Lorenzo Mendoza, presidente da
Polar, a maior empresa de alimentos do país, várias vezes
ameaçada de nacionalização.
Ausente do encontro, o presidente da Conindustria (Confederação Venezuelana de Industriais), Eduardo Gómez Sigala,
disse que, com a exceção do fim
do ITF, as medidas não abordam temas de fundo, como os
conflitos trabalhistas.
"Ele ratificou que sua política
é socialista, que os controles
[de câmbio e de preços] continuam e que espera que neste
país jamais voltem as liberdades econômicas", disse à TV
Globovisión o dirigente da entidade que reúne as maiores indústrias do país.
Inflação
O presidente Chávez também exortou os empresários a
ajudarem no combate da inflação, que neste ano já acumula
12,4% -a maior taxa da América Latina. "Apenas peço um esforço maior a vocês, tenho moral para fazê-lo."
Com a ajuda aos empresários, o governo venezuelano espera desacelerar a inflação, diminuindo o descompasso entre
a demanda, que cresceu 9,2%
no primeiro trimestre, e a oferta interna, que aumentou apenas 4,8% no mesmo período,
segundo dados do banco central venezuelano.
Para Asdrúbal Oliveiros, diretor da consultoria Ecoanalítica, a eliminação do ITF e a aceleração da entrega de dólares
terão um efeito apenas de curto
prazo na inflação.
"Por outro lado, não há uma
mudança na política econômica. O governo continua dando
prioridade a políticas de subsídio, de ajuda fiscal, mas o estímulo aos investimentos passa
pelo respeito ao marco jurídico
vigente e por uma revisão profunda dos mecanismos do congelamento de preços, o que para mim é a principal trava aos
investimentos locais", afirmou.
Oliveiros aposta que Chávez
não tomará nenhuma medida
drástica até as eleições regionais de novembro, que renovarão governadores e prefeitos.
"O único marcador da política
do presidente é o seu nível de
popularidade. Qualquer reforma profunda só virá depois de
dezembro."
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