São Paulo, sábado, 13 de junho de 2009

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ANÁLISE

Efeito da resolução é duvidoso

MARTIN FACKLER
CHOE SANG-HUN
DO "NEW YORK TIMES", EM SEUL

Ameaças e testes de armas norte-coreanas seguidas por sanções lideradas pelos EUA e acordos de vida curta viraram um padrão lamentavelmente familiar na reação do mundo ao programa nuclear da Coreia do Norte. Com a nova rodada de sanções do Conselho de Segurança, a dúvida é se há pontos de pressão reais aos quais o hermético governo norte-coreano vá reagir, ou se tudo não passa de palavrório.
Após o segundo teste nuclear feito por Pyongyang, em 25 de maio, EUA e aliados retomaram medidas, como o congelamento das contas bancárias de Pyongyang no exterior, que, no passado, pareceram ser mais dolorosas para o regime.
Diplomatas descrevem as novas sanções como potencialmente algumas das mais fortes já adotadas contra Pyongyang.
Mas Rússia e China resistiram aos chamados por tornar sua aplicação obrigatória, de modo que não se sabe quão grande será seu impacto.
Obrigatório ou não, muitos analistas e ex-diplomatas questionaram se qualquer regime de punições teria impacto suficiente para romper o ciclo.
Desta vez, além de sanções financeiras, a resolução prevê um mais rígido embargo de armas e uma possível interdição de embarcações norte-coreanas -Pyongyang já disse que considerará qualquer revista de seus navios um ato de guerra.
Mas, para a maioria dos analistas, nenhuma ameaça é suficiente para frear um regime que vê armas atômicas como cruciais para sobreviver e que enfrenta décadas de sanções e dificuldades econômicas (inclusive a morte por fome de parte de sua população) sem capitular a pressões externas.
E isso supondo que as sanções sejam plenamente aplicadas. Embora muitas dessas medidas já tenham sido incluídas em resoluções anteriores da ONU, China e Rússia relutavam em aplicá-las.
Tanto os críticos quanto os proponentes das sanções concordam que a chave para fazê-las funcionar é a China, a principal parceira comercial e fonte de ajuda da Coreia do Norte.
A China divide com a Coreia do Norte uma fronteira de 1.370 quilômetros de extensão, e seu comércio anual com Pyongyang, que movimenta US$ 2 bilhões por ano, representa mais de 40% de todo o comércio externo norte-coreano, segundo estimativas do governo sul-coreano. Seul disse que o comércio da Coreia do Norte com a China cresceu 23% apenas no ano passado.
Autoridades dos EUA e da Coreia do Sul temem que, embora a continuação dos testes norte-coreanos tenha desagradado a Pequim, a China relute em pressionar Pyongyang demais. Acham que a China teme provocar o colapso do regime vizinho, o que poderia levá-la a ser inundada de refugiados e criar em sua fronteira uma nova Coreia unificada, pró-EUA.
Segundo analistas, o necessário para convencer a Coreia do Norte a abrir mão de suas armas nucleares é uma "grande barganha" de incentivos, que incluiria assistência econômica, normalização das relações com os EUA e a promessa de que Washington não atacará ou derrubará o regime.


Tradução de CLARA ALLAIN


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