São Paulo, domingo, 13 de julho de 2008

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Ali defende fechar escolas muçulmanas

Ativista "atéia" absolve colégios judaico-cristãos; "eles são parte do legado histórico holandês", diz

DA REDAÇÃO

"Muçulmana atéia", Ayaan Hirsi Ali defende o fechamento das escolas islâmicas na Europa. Leia a continuação da entrevista à Folha. (CF)  

FOLHA - Em "A Virgem na Jaula", você usa várias vezes a expressão "nós muçulmanos". Você se considera muçulmana?
ALI
- Sou uma muçulmana atéia, como há católicos ateus e judeus ateus: pessoas que foram criadas em uma tradição religiosa na qual já não crêem.
Eu já não me submeto à vontade de Deus -é isso que "muçulmano" significa. Mas, é claro, continuo a compartilhar a herança cultural islâmica.

FOLHA - Você acha que os muçulmanos têm de abandonar a religião para se integrarem no Ocidente?
ALI
- Essa é a questão do século... Faço uma distinção entro o indivíduo e a doutrina. Há indivíduos bem integrados que rezam cinco vezes por dia e jejuam no Ramadã. Mas, numa sociedade como a holandesa, quase tudo entra em confronto com a doutrina islâmica. É impossível integrar-se praticando todos os aspectos da religião.

FOLHA - Sua autobiografia ("Infiel") retrata seu pai como modelo moral de sua infância e juventude. Ele ainda é um exemplo para você?
ALI
- Ele não é mais um modelo para mim hoje, porque rejeitei o sistema de valores que ele me ensinou. Mas, se ele não tivesse insistido que minha irmã e eu fossemos à escola, eu não estaria onde estou. Esse é o paradoxo: ao me mandar para a escola, ele me abriu os portões da modernidade.

FOLHA - Você defende o fechamento das escolas muçulmanas. Por que acha que as escolas cristãs podem funcionar bem em países como a Holanda, mas não as islâmicas?
ALI
- A tradição judaico-cristã é em si mesma parte do legado histórico holandês. As escolas são abertas ao questionamento científico, os alunos falam holandês, conhecem a cultura do país. Na Europa, as escolas islâmicas dificultam a integração.
Elas ensinam as crianças a serem hostis aos valores do país onde vivem, a serem parte da umma, a comunidade universal de muçulmanos. Os alunos são separados por sexo; os meninos são educados para serem dominadores e as meninas, dóceis.

FOLHA - Você diz que o islã precisa de um Voltaire [filósofo iluminista]. Você crê que possa ser esse Voltaire?
ALI
- Só houve um Voltaire, no seu tempo e seu contexto. O que quis dizer é que nós precisamos de autocrítica -e também de críticas externas. Não sou um Voltaire, mas me considero uma dessas vozes críticas nascidas dentro do islã. Precisamos combater a crença de que os responsáveis por nossas misérias são sempre os imperialistas, os norte-americanos, os judeus, nunca nós mesmos.

FOLHA - Muito do que você descreve como problemas dos países muçulmanos não seriam comuns a outras nações em desenvolvimento?
ALI
- Muitos dos problemas são compartilhados com outras nações em desenvolvimento. O que é único, nos países muçulmanos, é que eles parecem pensar que têm no islã uma alternativa superior a qualquer sistema ocidental.
Essa teoria alternativa, que muitas vezes torna a população passiva diante de maus governos, não traz a "salvação" às nações islâmicas.


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