São Paulo, quinta-feira, 13 de agosto de 2009

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Brasil promete pressionar EUA por Zelaya

Após visita de presidente deposto, Amorim diz que "quem pode dizer com todas as letras" que golpe não tem futuro é Washington

Governo brasileiro reitera apoio à "volta imediata e incondicional" ao poder de hondurenho, que disse que vai se reunir com Hillary


Alan Marques/Folha Imagem
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, é recebido no CCBB por Lula; depois do encontro, na tarde de ontem, hondurenho discursou no Congresso

LARISSA GUIMARÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro se comprometeu ontem a atuar como espécie de "advogado" do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya. O chanceler Celso Amorim afirmou que as demandas de Zelaya serão levadas ao governo americano.
A declaração foi dada após encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Zelaya, ontem à tarde, em Brasília.
"Claro que o presidente Lula se dispôs, no momento adequado, a falar com o presidente [Barack] Obama", disse Amorim. "O importante é não ter dúvida sobre o apoio do Brasil pela volta imediata, incondicional [de Zelaya ao poder]."
Amorim afirmou que a preocupação do governo brasileiro agora é com o tempo. "Para que ele volte rápido é preciso que os golpistas entendam que eles não têm futuro, e quem pode dizer isso com todas as letras para eles são os EUA, que têm maior influência direta." Hoje, cerca de 70% das exportações de Honduras vão para os EUA.
Amorim defendeu também que a solução para o impasse dependerá, além de ações do governo americano, da atuação da OEA (Organização dos Estados Americanos), que, após não obter efeitos práticos com sua decisão de suspender Honduras, negocia a visita de uma comitiva de chanceleres ao país para tentar destravar a crise.
Zelaya, que disse que vai se encontrar com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, na próxima semana, elogiou a posição "firme" do governo Obama em relação ao golpe, mas cobrou de Washington mais medidas. "Os EUA têm de ser mais firmes para reverter esse processo de golpe, porque Honduras depende da economia americana."
Ele afirmou que, por enquanto, foram tomadas medidas diplomáticas. O próximo passo, segundo ele, será a adoção de medidas no campo político, com respeito à eleição em Honduras. "Depois, virão medidas comerciais", completou.
Zelaya disse que explicou a Lula detalhes sobre o processo do golpe. Falou também das estratégias que estão sendo estudadas. "Uma delas é o não reconhecimento das eleições feitas em um Estado ilegal. A Unasul [União de Nações Sul-Americanas] tomou essa posição, e hoje o presidente Lula a ratificou."
Questionado sobre até quando prosseguirá na tentativa de reverter o golpe de Estado, ele respondeu: "Indefinidamente".
"Não há tempo determinado, mas a convicção de que só meu retorno a Honduras garante a paz, o sistema eleitoral e o sistema político no país", disse.
Ontem, pelo segundo dia consecutivo, houve enfrentamentos violentos entre policiais e manifestantes pró-Zelaya na capital hondurenha.
Depois do encontro com Lula, o hondurenho foi recebido no Congresso e chegou a fazer discurso na tribuna. À noite, recebeu um representante da Odebrecht para tratar de projetos da empresa em Honduras. Amanhã, seguirá para o Chile.
Desde que chegou ao Brasil, anteontem, em avião venezuelano, Zelaya não manteve contato com o embaixador de Honduras no país, Víctor Lozano, internado por problemas cardíacos desde segunda-feira. O presidente deposto chegou a questionar se a internação não seria uma forma de Lozano se esquivar de sua visita para não contrariar o governo golpista.
Ontem, a Folha foi ao Hospital das Forças Armadas, onde Lozano está internado, mas não conseguiu contato com ele.


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