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São Paulo, sábado, 13 de setembro de 2003

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Gaddafi tenta deixar de ser pária internacional

ALASTAIR LYON
DA REUTERS, EM LONDRES

Muammar Gaddafi está tentando mostrar disposição de desfazer seus excessos passados, que o tornaram pária internacional. Com exceção dos EUA, o mundo parece já estar disposto a fazer negócios outra vez com o ditador líbio, hoje mais interessado em promover reformas do que a revolução.
Gaddafi está pagando um preço alto em termos financeiros e de orgulho para conquistar a respeitabilidade diplomática. ""Gaddafi reconheceu que o mundo mudou", disse Saad Djebbar, um advogado de Londres que aconselhou a Líbia nas negociações para a indenização das vítimas da tragédia de Lockerbie, em 1988.
Autodenominado defensor do islã e defensor da unidade árabe e, posteriormente, africana, Gaddafi é criticado pessoalmente há décadas por líderes americanos, que o vêem como uma força maligna por trás do terrorismo global.
A hostilidade da opinião pública americana, incentivada pelos setores de linha dura no Congresso e na administração Bush, complica a busca líbia pelo diálogo, busca essa que tem o respaldo de alguns lobistas de empresas petrolíferas americanas e que poderia conduzir ao fim das sanções americanas e à retomada dos laços entre os dois países.
"Alguns americanos achariam impossível readmitir a Líbia na comunidade de nações", disse o especialista em norte da África George Joffe, citando as acusações dos EUA de que Trípoli busca armas de destruição em massa.
Tendo tachado Gaddafi de ameaça à segurança mundial nos anos 80, quando Saddam Hussein ainda era visto como útil aos objetivos dos EUA, a idéia de tratar com ele hoje é vista por muitos em Washington como repulsiva.
Mas os líderes europeus adotam uma abordagem mais pragmática. O premiê espanhol, José María Aznar, aliado estreito de Bush, pretende visitar a Líbia neste mês. Outro aliado de Bush, o premiê italiano Silvio Berlusconi, se reuniu com Gaddafi em Trípoli em outubro de 2002.
O grande desafio que Gaddafi tem pela frente agora é promover reformas internas, ao mesmo tempo em que busca não ser visto como culpado pelo legado decadente de seus próprios experimentos com socialismo árabe e governo das massas.
Em junho ele arriscou-se a ofender seus companheiros da velha guarda ao nomear um tecnocrata como premiê, encarregando-o de reformar a economia estatal líbia, com isso revelando sua desilusão com o modelo socialista.


Tradução de Clara Allain


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