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Morales impõe estado de sítio regional
Medida atinge Pando, na fronteira com o Acre, onde governo responsabilizou governador pela morte de camponeses
Militares usam força para retomar aeroporto ocupado por opositores; ação produziu um morto, que segundo rádio é soldado
FLAVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A VILLAMONTES
O governo da Bolívia declarou estado de sítio em Pando,
departamento no norte do país,
na fronteira com o Acre, um dia
depois que enfrentamentos na
região entre camponeses pró-Evo Morales e opositores causaram a morte de ao menos nove pessoas.
A medida de exceção foi
anunciada no começo da noite,
no momento em que chegavam, por rádios locais, os primeiros relatos sobre a retomada militar do aeroporto da capital do departamento, Cobija,
controlado desde 5 de setembro por grupos ligados ao governador Leopoldo Fernández,
um opositor do presidente Morales. Segundo as mesmas rádios, a ação causou a morte de
um soldado e deixou três feridos, incluindo um militar.
O decreto do estado de sítio
foi assinado pelo ministro da
Defesa, Walker San Miguel.
Horas antes, as Forças Armadas haviam divulgado um comunicado no qual se comprometeram a defender o governo
e a Constituição, anunciaram o
deslocamento de mais soldados
e armamentos para as áreas de
conflito e advertiram que não
tolerariam novas ações de
"vandalismo" de grupos opositores violentos, que ocuparam
dezenas de prédios públicos federais e duas estações energéticas nos últimos dias.
"O governo analisou a situação excepcional de Cobija nas
últimas horas e vimos que põe
em perigo não só a convivência
dos cidadãos, mas a própria vida", disse Alfredo Rada, ministro de Governo, responsável
pela Polícia Nacional.
Diálogo ofuscado
A medida ofuscou a frágil
tentativa de diálogo entre o
presidente Evo Morales e o governador de Tarija, Mario Cossío, representante dos cinco departamentos rebeldes do país
-além de Tarija, Santa Cruz,
Pando, Beni e Chuquisaca são
governados por opositores.
Cossío mantinha encontro com
Morales em La Paz quando o
estado de sítio foi anunciado.
Pelo decreto, fica proibida a
circulação entre meia-noite e
6h, o porte de armas e de explosivos. Também são vetados
eventos políticos e o governo
pode ordenar a prisão de quem
considerar responsável pela
perturbação da ordem pública.
Durante todo o dia, o governo
acusou o governador de Pando
de ter contratado pistoleiros
para atacar os camponeses na
quinta-feira, incluindo menções à presença de brasileiros
(leia box nesta página). Não havia declarações de Fernández
até o fechamento desta edição.
A opção de declarar estado de
sítio -no país ou nas regiões
governadas por opositores onde ocorrem os conflitos- estava na mesa do governo de Evo
Morales desde a semana passada, quando se intensificaram as
ocupações de aeroportos.
Mas havia, pelo menos até o
começo da semana, resistência
nas próprias Forças Armadas,
segundo uma fonte diplomática brasileira ouvida pela Folha.
Versões díspares
Ontem à noite, havia divergências entre as versões do governo, dos meios de comunicação e da oposição sobre o episódio no aeroporto de Cobija.
Segundo o vice-ministro para os Movimentos Sociais, Sacha Llorenti, um avião que levava militares à cidade foi recebido "a rajadas de metralhadoras" no local, onde líderes "cívicos" e integrantes da União Juvenil Pandina -grupos de
apoio ao governador- participavam da ocupação. Mas, segundo a rádio Erbol, o avião militar atirou do ar para dispersar
os ocupantes da pista.
As primeiras reações da oposição foram negativas. O presidente do Senado, Óscar Ortiz,
do partido Podemos (direita),
disse que Morales quis usar o
estado de sítio em Pando, de
apenas 70 mil habitantes, como
espécie de "castigo exemplar" e
alerta às regiões opositoras.
"Infelizmente, tanto o presidente como seus ministros estão equivocados. Isso não nos
vai levar à uma solução", disse.
Em Santa Cruz, o presidente
do Comitê Cívico local, Branko
Marinkovich, criticou a medida
e pediu intervenção da ONU.
Jovens aliados aos opositores
invadiram e controlaram o escritório da representante oficial de Morales em Santa Cruz.
Os protestos nos departamentos governados pela oposição a Morales têm o objetivo
estratégico de impedir que o
presidente, fortalecido pelo referendo do dia 10 de agosto em
que foi confirmado no cargo,
realize a votação para aprovar a
nova Carta do país, rejeitada
pelos opositores. A exigência
imediata é a restituição às regiões de parte de um imposto
sobre o gás redirecionado para
pagar pensões a idosos.
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