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Comandante militar rejeita "intromissão" de Chávez
David Mercado/Reuters
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Morales participa de desfile militar em Cochabamba
DA ENVIADA A VILLAMONTES (BOLÍVIA)
O comandante-em-chefe das
Forças Armadas da Bolívia, general Luis Trigo, dirigiu-se ontem ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, aliado estratégico de Evo Morales, para rejeitar "intromissões externas de
qualquer índole" em assuntos
do país. O venezuelano voltara
a dizer que, em caso de golpe
contra o governo boliviano,
apoiaria "qualquer movimento
armado" para defendê-lo.
O comunicado lido às câmeras de TV, no qual Trigo reafirmou a defesa do governo, parece ter pego de surpresa o Palacio Quemado, sede da Presidência, e provocou mal-estar
pela advertência pública a Chávez. O anúncio foi feito de manhã, mas só no fim da tarde o site da agência oficial de notícias,
ABI, o publicou -sem menção
ao venezuelano.
"Ao presidente da Venezuela,
senhor Hugo Chávez, e à comunidade internacional dizemos
que as Forças Armadas rejeitam intromissões externas de
qualquer índole, venham de
onde vierem e não permitirão
que nenhum, militar ou força
estrangeira pise em território
nacional", leu Trigo.
A declaração foi interpretada
como mensagem principalmente ao público castrense, no
qual uma ala -considerada minoritária pelos analistas, mas
majoritária pelos opositores-
mostra-se refratária à presença
venezuelana na esfera militar
do país. Caracas financiou boa
parte da recuperação de equipamentos e até prédios militares bolivianos. São helicópteros
cedidos por Chávez, também
com militares venezuelanos,
que transportam Morales.
Há também a ala militar que,
embora não se oponha a Chávez, considera excessivo o engajamento dos militares no
projeto de Morales, que integrou-os ao governo dando-lhes
um papel de destaque na nacionalização dos hidrocarbonetos,
em 2006, e os fez distribuir seu
programa de transferência de
renda para crianças em idade
escolar. Mas até essa parcela
pende para o lado do governo
quando atitudes da oposição
resvalam no separatismo.
De acordo com uma fonte ligada à cúpula da Polícia Nacional, a reação de Trigo era esperada por essas duas parcelas
das Forças e visa mostrar independência e gerar coesão.
"É uma declaração claramente demagógica de Trigo.
Ele sabe do descontentamento
com o curso dados às Forças
Armadas, principalmente nos
postos médios da hierarquia do
Exército", reagiu Javier Limpias, ex-parlamentar por Santa
Cruz e ativo nas ações autonomistas do departamento do leste, em desafio a La Paz.
Crise e humilhação
Chávez já havia feito declarações semelhantes antes, causando incômodo, mas a conjuntura de aguda crise, com discussão do papel e dos limites de
ação dos militares, provocou o
comunicado, dizem analistas
ouvidos pela Folha.
Havia desconforto pela escalação de soldados para a tarefa
de proteger prédios públicos e
instalações gasíferas sem que,
como prevê um decreto do governo Carlos Mesa (2003-2005), o governo estabelecesse
por escrito os limites da repressão. O decreto veio depois
que, em 2003, o Exército reprimiu manifestantes na chamada
"guerra do gás", contra a exportação do combustível aos EUA,
que deixou 70 mortos. Militares, incluindo oficiais, foram ou
estão sendo julgados na Justiça
comum pelas mortes.
Nesta semana, nem as Forças Armadas nem a Polícia Nacional estavam autorizadas a
usar armas de fogo e tinham a
orientação de evitar mortes. A
situação produziu cenas humilhantes para os soldados. Até
Morales, em discurso ontem,
responsabilizou-se pelos episódios. Em Santa Cruz, soldados apanharam. No campo gasífero de Volta Grande, em
Chuquisaca, tiveram de negociar com os opositores para receber os fuzis de volta. Ontem,
Trigo disse que os militares não
atuarão contra o povo, mas
contra "os delinqüentes".
(FM)
NA INTERNET
www.folha.com.br/082563
A íntegra do comunicado
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