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La Paz decreta estado de sítio em Pando, palco de massacre
DA ENVIADA A VILLAMONTES
O governo da Bolívia declarou estado de sítio em Pando,
no norte amazônico da Bolívia,
um dia depois que enfrentamentos entre camponeses pró-Morales e opositores provocarem a morte de pelo menos oito
pessoas -o total pode chegar a
14, segundo fontes locais. Duas
outras pessoas, da radical união
juvenil local, aliada do governador oposicionista Leopoldo
Fernández, teriam morrido em
novos confrontos ontem.
Antes do anúncio do decreto,
as Forças Armadas retomaram
o aeroporto de Cobija, capital
do departamento, que havia sido tomado na semana passada
por milícias opositoras.
O decreto da medida de exceção foi assinado pelo ministro
da Defesa, Walker San Miguel,
à noite, no mesmo momento
em que estava prevista uma
reunião entre o presidente Evo
Morales e o governador de Tarija, Mario Cossío, representante dos cinco departamentos
rebeldes do país, em uma frágil
tentativa de estabelecer diálogo para resolver a crise.
Cossío já estava na sede de
governo, em La Paz, quando o
estado de sítio foi declarado.
A opção de declarar estado de
sítio estava na mesa do governo
Evo Morales desde o agudo recrudescimento da crise com as
regiões, com ataques a aeroportos, na semana passada. Mas
havia, pelo menos até o começo
da semana, resistência nas próprias Forças Armadas, segundo
uma fonte diplomática brasileira ouvida pela Folha.
Depois de uma quinta-feira
dedicada a coletar dados e contar corpos do enfrentamento
entre camponeses pró-Morales
e apoiadores da oposição em
Pando, Cossío anunciou que se
reuniria com o presidente em
local, data e hora marcados pelo governo para iniciar uma negociação. Morales topou e o encontro seguia na sede do governo, em La Paz, até o fechamento desta edição.
"Dialogar não quer dizer renunciar às nossas justas reivindicações", afirmou o governador de Tarija, que concentra
60% da produção de gás, a
principal fonte de renda do
país e central na disputa por recursos entre o governo federal
e as regiões. "Assumirei esta tarefa com enorme responsabilidade, plenamente convencido
de que esta é talvez a última
oportunidade para que o país
se encaminhe no processo de
reconciliação."
Ainda que tenham declarado
Cossío seu porta-voz, a desconfiança era a tônica de governos
departamentais e grupos "cívicos" opositores. Ao menos em
Santa Cruz, bastião da oposição, e na gasífera região do
Chaco, em Tarija, a ordem era
seguir com os protestos -incluindo as dezenas de bloqueios rodoviários que asfixiam metade do país.
A tensão ainda era grande
em Villamontes, região do Chaco boliviano rica em gás e epicentro dos ataques que afetaram o envio do combustível ao
Brasil nesta semana.
A agenda na mesa de Morales e Cossío é a mesma do final
do ano passado, quando recrudesceu o conflito com a aprovação do texto da nova Carta pelos constituintes governistas, e
na ausência dos principais representantes de oposição.
Os governadores de Pando,
Beni, Tarija e Santa Cruz e a recém-eleita opositora de Chuquisaca exigem que o governo
restitua parte de um imposto
sobre o gás, o IDH, redirecionado por La Paz para pagar
uma pensão a maiores de 60
anos. Alguns governistas dizem
que esse tema pode, sim, ser
negociado, mas ontem mesmo
Morales voltou a dizer que
quem pode decidir sobre o dinheiro são os próprios idosos.
O IDH é apenas a parte mais
visível de profundas divergências entre La Paz e os governadores sobre modelo e tamanho
de Estado, inclusão econômica
e cultural da parcela mais pobre dos indígenas e a aplicação
e controle dos recursos públicos, principalmente os gerados
pela terra e pelo gás.
Todos esses temas, com base
na visão governista, estão no
texto constitucional, principal
bandeira do governo de Morales, pendente de aprovação em
referendos. A reação violenta
coordenada nos cinco departamentos foi montada com o objetivo de barrar as consultas.
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