São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2004

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VOTOS DE FÉ

Prelados conservadores dizem que é pecado votar no democrata, que é favorável ao aborto

Bispos católicos fazem blitz contra Kerry

DAVID D. KIRKPATRICK
LAURIE GOODSTEIN
DO "NEW YORK TIMES"

Para o arcebispo Charles J. Chaput, o prelado católico mais importante do Colorado, um dos Estados indecisos nas eleições presidenciais americanas, só existe uma opção de voto para os católicos fiéis: a favor de Bush e contra Kerry.
Na sexta-feira, reunido com um grupo de universitários católicos, o prelado não endossou Bush especificamente, mas apontou para o potencial impacto de sua reeleição sobre o caso Roe contra Wade, que estabeleceu o direito ao aborto nos EUA: "Decisões da Suprema Corte podem ser revertidas, certo?"
Chaput integra aliança de bispos cujo objetivo é emprestar o peso da Igreja Católica à eleição. Alarmados com a perspectiva de um presidente que, como Kerry, seja católico mas favorável ao aborto, esses bispos e outros grupos católicos vêm distribuindo nas igrejas guias que identificam o aborto, o casamento homossexual e a pesquisa com células-tronco como questões "não passíveis de negociação".
Os esforços de Chaput e seus aliados convergem com trabalho coordenado pela campanha Bush. O presidente passou quatro anos cultivando líderes católicos, organizando mais de 50 mil voluntários e contratando assessores cuja missão é aumentar o comparecimento dos católicos -cerca de 25% do eleitorado americano- às urnas.
Conservadores católicos dizem que trabalham com mais afinco em parte porque o próximo presidente deve indicar ao menos um juiz à Suprema Corte.
Nunca no passado número tão grande de bispos fez advertências explícitas aos católicos logo antes de uma eleição, no sentido de que votar em dado candidato representaria um pecado.
Menos de duas semanas atrás, Raymond Burke, bispo de St. Louis, emitiu um alerta desse tipo. O bispo Michael Sheridan, de Colorado Springs, distribuiu comunicado informando que o aborto importava mais que qualquer questão. O arcebispo John Myers, de Newark, defendeu o mesmo ponto de vista em artigo no "Wall Street Journal".
Esses bispos afirmam que o aborto e a destruição de embriões são erros categóricos na doutrina da igreja. A guerra e até a pena de morte podem se justificar sob certas circunstâncias.
Já os católicos liberais dizem que a igreja deixou a ponderação dessas questões à consciência individual. Só no final da campanha esses católicos começaram a contra-atacar, mas com muito menos recursos.
Nos jornais das dioceses de Ohio, Pensilvânia e Virgínia Ocidental, eles estão comprando anúncios com o slogan "A vida não acaba no nascimento". Os organizadores dizem que a campanha tem apoio de 200 organizações católicas.
"Se estudarmos a totalidade das questões como assunto de consciência, é possível tomar a decisão de votar em qualquer um dos dois candidatos", diz Gabino Zavala, bispo auxiliar da diocese de Los Angeles e presidente do grupo pacifista cristão que deu início à campanha.
No debate de sexta-feira, Kerry estabeleceu distinção entre sua crença pessoal como católico e sua política como ocupante de cargo eletivo, no caso do aborto.
"Fui coroinha", disse. "Mas não posso impor algo que é um artigo de fé para mim e torná-lo lei para alguém que não compartilhe dessa visão da fé."


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