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"É praticamente um hospital de guerra"
DA ENVIADA A TEGUCIGALPA
A crise política de Honduras
trouxe graves consequências
para os serviços públicos no
país, em especial na área da
saúde. Com o golpe de 28 de junho, diversos países cortaram
repasses assistenciais e suspenderam convênios. O corte
em outras áreas também prejudica a destinação de verba do
governo para centros médicos.
No Hospital Escola, o principal local de atendimento público de Tegucigalpa, o repasse de
recursos públicos mingua a cada dia desde que o governo interino tomou o poder.
Não há quase medicamentos
disponíveis, e faltam também
equipamentos e insumos básicos para cirurgias ou simples
atendimentos ambulatoriais.
Segundo o subdiretor do hospital, Octavio Alvarenga, hoje só
se realizam cirurgias de emergência, e, mesmo assim, materiais descartáveis estão sendo
reutilizados. "É praticamente
um hospital de guerra", diz ele.
Em tempos normais, o hospital, que sempre sofreu com orçamento apertado de cerca de
800 milhões de lempiras ao ano
(R$ 80 milhões), tem disponível cerca de 80% dos medicamentos necessários para todos
os tratamentos. Atualmente,
esse percentual está abaixo de
50%. Muitos pacientes são
obrigados a comprar medicamentos, como antibióticos, que
antes eram gratuitos. A dívida
do hospital com fornecedores
também cresceu, e até materiais como gaze e agulhas deixaram de ser entregues.
Segundo Alvarenga, a direção
do hospital tentou, há dois meses, declarar estado de emergência no hospital, mas a decisão foi vetada pelo Ministério
da Saúde do governo interino
de Roberto Micheletti. "Os recursos chegam a conta-gotas."
A crise política afetou os estoques de sangue em todo o
país, segundo o médico. Com o
toque de recolher, quase ninguém ia aos hospitais fazer doações. Por alguns dias, cirurgias
em que o paciente pudesse necessitar de transfusão foram
suspensas. Mesmo com o fim
do toque de recolher, a direção
diz que o hospital levará semanas para normalizar o estoque.
O hospital receberia, em setembro, equipamentos novos
de tomografia e ressonância
magnética, inexistentes em seu
centro de imagem. Com o golpe, o convênio com a União Europeia foi suspenso.
O hospital tem só duas máquinas antigas de raio-x. Todo o
resto é feito fora, e o custo ou é
coberto pelo paciente ou se
acumula em uma dívida que o
hospital levará anos para sanar.
Os pacientes e familiares lotam corredores e escadas à espera de atendimento.
(ANA FLOR)
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