São Paulo, terça-feira, 13 de outubro de 2009

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"É praticamente um hospital de guerra"

DA ENVIADA A TEGUCIGALPA

A crise política de Honduras trouxe graves consequências para os serviços públicos no país, em especial na área da saúde. Com o golpe de 28 de junho, diversos países cortaram repasses assistenciais e suspenderam convênios. O corte em outras áreas também prejudica a destinação de verba do governo para centros médicos.
No Hospital Escola, o principal local de atendimento público de Tegucigalpa, o repasse de recursos públicos mingua a cada dia desde que o governo interino tomou o poder.
Não há quase medicamentos disponíveis, e faltam também equipamentos e insumos básicos para cirurgias ou simples atendimentos ambulatoriais. Segundo o subdiretor do hospital, Octavio Alvarenga, hoje só se realizam cirurgias de emergência, e, mesmo assim, materiais descartáveis estão sendo reutilizados. "É praticamente um hospital de guerra", diz ele.
Em tempos normais, o hospital, que sempre sofreu com orçamento apertado de cerca de 800 milhões de lempiras ao ano (R$ 80 milhões), tem disponível cerca de 80% dos medicamentos necessários para todos os tratamentos. Atualmente, esse percentual está abaixo de 50%. Muitos pacientes são obrigados a comprar medicamentos, como antibióticos, que antes eram gratuitos. A dívida do hospital com fornecedores também cresceu, e até materiais como gaze e agulhas deixaram de ser entregues.
Segundo Alvarenga, a direção do hospital tentou, há dois meses, declarar estado de emergência no hospital, mas a decisão foi vetada pelo Ministério da Saúde do governo interino de Roberto Micheletti. "Os recursos chegam a conta-gotas."
A crise política afetou os estoques de sangue em todo o país, segundo o médico. Com o toque de recolher, quase ninguém ia aos hospitais fazer doações. Por alguns dias, cirurgias em que o paciente pudesse necessitar de transfusão foram suspensas. Mesmo com o fim do toque de recolher, a direção diz que o hospital levará semanas para normalizar o estoque.
O hospital receberia, em setembro, equipamentos novos de tomografia e ressonância magnética, inexistentes em seu centro de imagem. Com o golpe, o convênio com a União Europeia foi suspenso.
O hospital tem só duas máquinas antigas de raio-x. Todo o resto é feito fora, e o custo ou é coberto pelo paciente ou se acumula em uma dívida que o hospital levará anos para sanar.
Os pacientes e familiares lotam corredores e escadas à espera de atendimento. (ANA FLOR)


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