São Paulo, terça-feira, 13 de outubro de 2009

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Nova lei de mídia é vingança em dobro para Cristina, diz analista

Aprovação no Senado atinge em cheio grupo Clarín e abre fissura em partido opositor

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

Ao obter do Congresso a aprovação de seu projeto de Lei de Serviços Audiovisuais, no último sábado, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, cravou uma dupla revanche.
Ela se vingou, a um só tempo, do grupo Clarín e de seu vice, Julio Cobos, segundo análise de Nelson Castro, um dos mais respeitados comentaristas políticos da Argentina.
A nova lei fixa limites à propriedade de rádios e TVs e à fatia desses mercados que cada empresa pode deter. As regras prejudicam o Clarín, que supera os limites impostos em todas as áreas disciplinadas pela lei.
O grupo anunciou que considera o texto inconstitucional e que recorrerá à Justiça, para evitar a ordem de se desprender de parte de seus negócios.
Clarín e governo estão em choque desde 2008. Ao enviar o projeto ao Congresso, a presidente afirmou que seu objetivo era "desmonopolizar" o setor.
"Não há dúvida de que o Clarín cometeu erros e que tem posição de domínio de mercado em algumas áreas", escreveu Nelson Castro, no jornal "Perfil". "O problema é que o que querem os Kirchner não é enquadrá-lo num marco de maior equilíbrio, mas destruí-lo."
A ira dos Kirchner contra o Clarín é dada como fato pela imprensa argentina, embora seus motivos não estejam suficientemente esclarecidos. Não há dúvida, porém, de que a cobertura dos órgãos de imprensa do grupo sobre o conflito do governo com o agronegócio, em 2008, incomodou Cristina.
"É inimaginável que o conflito agrário chegasse à envergadura a que chegou sem o apoio dos meios de comunicação. A TV não informava; agitava. O relato foi escandaloso", disse à Folha o secretário de Cultura da Nação, Jorge Coscia, em entrevista na qual defendeu a Lei de Serviços Audiovisuais.
"Acreditamos que os meios de comunicação têm toda a liberdade, inclusive de querer desestabilizar um governo, mas o Estado e a sociedade têm a responsabilidade de gerar equilíbrios diferentes. O único modo de conseguir isso é abrindo maiores possibilidades de acesso aos meios", disse Coscia.
A desavença de Cristina com Cobos também remonta ao conflito com o campo. Foi dele o voto de desempate que derrubou no Senado projeto do governo de taxação do setor.
Diferentemente de Cristina, Cobos não é peronista. Ergueu sua carreira política na União Cívica Radical (UCR). Ao cooptar o voto de uma senadora da UCR para a lei, Cristina impôs uma dura derrota a Cobos.
A senadora Dora Sánchez, que era contra o projeto, mudou seu voto e insinuou que o fazia após negociar com o governo repasse de verbas para a sua Província, Corrientes. Segundo Castro, Cobos tentou, em vão, demover a senadora de votar com o kirchnerismo e abrir uma fissura no partido pelo qual ele sonha candidatar-se à Presidência em 2011.


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