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Nova lei de mídia é vingança em dobro para Cristina, diz analista
Aprovação no Senado atinge em cheio grupo Clarín e abre fissura em partido opositor
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
Ao obter do Congresso a
aprovação de seu projeto de Lei
de Serviços Audiovisuais, no último sábado, a presidente da
Argentina, Cristina Kirchner,
cravou uma dupla revanche.
Ela se vingou, a um só tempo,
do grupo Clarín e de seu vice,
Julio Cobos, segundo análise
de Nelson Castro, um dos mais
respeitados comentaristas políticos da Argentina.
A nova lei fixa limites à propriedade de rádios e TVs e à fatia desses mercados que cada
empresa pode deter. As regras
prejudicam o Clarín, que supera os limites impostos em todas
as áreas disciplinadas pela lei.
O grupo anunciou que considera o texto inconstitucional e
que recorrerá à Justiça, para
evitar a ordem de se desprender de parte de seus negócios.
Clarín e governo estão em
choque desde 2008. Ao enviar o
projeto ao Congresso, a presidente afirmou que seu objetivo
era "desmonopolizar" o setor.
"Não há dúvida de que o Clarín cometeu erros e que tem
posição de domínio de mercado
em algumas áreas", escreveu
Nelson Castro, no jornal "Perfil". "O problema é que o que
querem os Kirchner não é enquadrá-lo num marco de maior
equilíbrio, mas destruí-lo."
A ira dos Kirchner contra o
Clarín é dada como fato pela
imprensa argentina, embora
seus motivos não estejam suficientemente esclarecidos. Não
há dúvida, porém, de que a cobertura dos órgãos de imprensa
do grupo sobre o conflito do governo com o agronegócio, em
2008, incomodou Cristina.
"É inimaginável que o conflito agrário chegasse à envergadura a que chegou sem o apoio
dos meios de comunicação. A
TV não informava; agitava. O
relato foi escandaloso", disse à
Folha o secretário de Cultura
da Nação, Jorge Coscia, em entrevista na qual defendeu a Lei
de Serviços Audiovisuais.
"Acreditamos que os meios
de comunicação têm toda a liberdade, inclusive de querer
desestabilizar um governo, mas
o Estado e a sociedade têm a
responsabilidade de gerar equilíbrios diferentes. O único modo de conseguir isso é abrindo
maiores possibilidades de acesso aos meios", disse Coscia.
A desavença de Cristina com
Cobos também remonta ao
conflito com o campo. Foi dele
o voto de desempate que derrubou no Senado projeto do governo de taxação do setor.
Diferentemente de Cristina,
Cobos não é peronista. Ergueu
sua carreira política na União
Cívica Radical (UCR). Ao cooptar o voto de uma senadora da
UCR para a lei, Cristina impôs
uma dura derrota a Cobos.
A senadora Dora Sánchez,
que era contra o projeto, mudou seu voto e insinuou que o
fazia após negociar com o governo repasse de verbas para a
sua Província, Corrientes. Segundo Castro, Cobos tentou,
em vão, demover a senadora de
votar com o kirchnerismo e
abrir uma fissura no partido
pelo qual ele sonha candidatar-se à Presidência em 2011.
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