São Paulo, terça-feira, 13 de outubro de 2009

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ANÁLISE

Ações expõem Taleban rearticulado

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ataque de ontem, o quarto classificável como espetacular em uma semana no Paquistão, mostra os limites da vitória reivindicada pelo país em sua luta contra o Taleban.
Recapitulando: a partir de uma ameaça nunca real de que o Taleban paquistanês poderia realmente ameaçar o poder constituído no Paquistão, o Exército do país ganhou carta branca neste ano para atacar duramente os militantes no chamado cinturão tribal.
Após alguns meses de ofensiva, mais de 2 milhões de refugiados internos e muita violência de lado a lado, as Forças Armadas clamaram vitória.
Em agosto, com a morte do líder do Taleban paquistanês em um ataque americano no Waziristão do Sul, o sucesso parecia ainda mais evidente. Generais paquistaneses já falavam de um cenário sem a insurreição no país, ignorando que a escolha de uma negociação na qual líderes locais seguem dando as cartas em regiões sem Estado parece frágil ao extremo.
Baitullah Mehsud era o único chefe militante que realmente coordenava a distribuição de armas e dinheiro que atravessavam a fronteira do país com o Afeganistão.
No Paquistão, assim como no vizinho, muita gente diz ser do Taleban -mas a verdade é que o nome virou uma espécie de franquia para grupos com interesses diversos.
Mehsud era um dos únicos pontos de referência. Com sua morte no começo de agosto, a luta interna deu esperanças a Islamabad nem tanto de que o Taleban acabaria, mas que ficaria desarticulado. As ações desde a semana passada mostram outra realidade.
O mais grave, do ponto de vista estratégico, nem são tanto os terríveis ataques a bomba nas áreas tribais, que como sempre punem mais os cidadãos alheios à política do terror. A invasão do principal quartel-general do Exército na cidade-guarnição de Rawalpindi, durante o fim de semana, mostra que as células ligadas ao Taleban foram reorganizadas -aparentemente sob a batuta de Hakimullah Mehsud, antigo guarda-costas de Baitullah que pertence à sua tribo, mas não é seu parente.
Isso significa que as armas nucleares paquistanesas cairão em mãos militantes?
Não é bem assim: a rede de proteção a elas é muito mais complexa do que o assalto a um quartel importante, e de todo modo os fundamentalistas não têm organicidade para ocupar o poder de um Estado militarizado como é o Paquistão.
Mas os eventos recentes mostram que esta frente daquela que era chamada de "guerra ao terror" está muito longe de estar pacificada.


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