|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Ações expõem Taleban rearticulado
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ataque de ontem, o quarto
classificável como espetacular
em uma semana no Paquistão,
mostra os limites da vitória reivindicada pelo país em sua luta
contra o Taleban.
Recapitulando: a partir de
uma ameaça nunca real de que
o Taleban paquistanês poderia
realmente ameaçar o poder
constituído no Paquistão, o
Exército do país ganhou carta
branca neste ano para atacar
duramente os militantes no
chamado cinturão tribal.
Após alguns meses de ofensiva, mais de 2 milhões de refugiados internos e muita violência de lado a lado, as Forças Armadas clamaram vitória.
Em agosto, com a morte do líder do Taleban paquistanês em
um ataque americano no Waziristão do Sul, o sucesso parecia
ainda mais evidente. Generais
paquistaneses já falavam de um
cenário sem a insurreição no
país, ignorando que a escolha
de uma negociação na qual líderes locais seguem dando as
cartas em regiões sem Estado
parece frágil ao extremo.
Baitullah Mehsud era o único
chefe militante que realmente
coordenava a distribuição de
armas e dinheiro que atravessavam a fronteira do país com o
Afeganistão.
No Paquistão, assim como no
vizinho, muita gente diz ser do
Taleban -mas a verdade é que
o nome virou uma espécie de
franquia para grupos com interesses diversos.
Mehsud era um dos únicos
pontos de referência. Com sua
morte no começo de agosto, a
luta interna deu esperanças a
Islamabad nem tanto de que o
Taleban acabaria, mas que ficaria desarticulado. As ações desde a semana passada mostram
outra realidade.
O mais grave, do ponto de
vista estratégico, nem são tanto
os terríveis ataques a bomba
nas áreas tribais, que como
sempre punem mais os cidadãos alheios à política do terror. A invasão do principal
quartel-general do Exército na
cidade-guarnição de Rawalpindi, durante o fim de semana,
mostra que as células ligadas ao
Taleban foram reorganizadas
-aparentemente sob a batuta
de Hakimullah Mehsud, antigo
guarda-costas de Baitullah que
pertence à sua tribo, mas não é
seu parente.
Isso significa que as armas
nucleares paquistanesas cairão
em mãos militantes?
Não é bem assim: a rede de
proteção a elas é muito mais
complexa do que o assalto a um
quartel importante, e de todo
modo os fundamentalistas não
têm organicidade para ocupar o
poder de um Estado militarizado como é o Paquistão.
Mas os eventos recentes
mostram que esta frente daquela que era chamada de
"guerra ao terror" está muito
longe de estar pacificada.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: China condena à morte seis uigures por choques de julho Índice
|