São Paulo, terça-feira, 13 de outubro de 2009

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China condena à morte seis uigures por choques de julho

Chinês han que participou de linchamento, estopim da crise, recebe mesma sentença

Província de Xinjiang, palco dos confrontos, continua sob restrições, e hotéis e cibercafés do resto do país têm ordem de evitar uigures

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A Justiça chinesa condenou ontem à morte seis homens envolvidos nos violentos distúrbios étnicos na Província de Xinjiang, que mataram quase 200 pessoas em julho passado.
Outro homem foi condenado à prisão perpétua. Os sete condenados são uigures, minoria muçulmana que formava a maioria da população da Província de Xinjiang até a ocupação da região pelas tropas de Mao Tsé-tung em 1949.
Eles foram condenados por homicídio, roubo e vandalismo. Para organizações de uigures exilados, o julgamento não seguiu procedimentos legais e pode inflamar mais as tensões de uigures contra chineses han.
Em 5 de julho passado, 197 pessoas morreram na ruas de Urumqi, capital de Xinjiang -147 chineses han (maioria étnica do país) e 50 uigures. Graças a uma política de Pequim iniciada nos anos 60, de enviar chineses han para colonizar a região uigur, 80% da população atual de Urumqi é chinesa han.
Uigures no exílio também reclamam que a cobertura da mídia estatal chinesa só fala das vítimas han e não da violência contra os chineses uigures.
Em outra sentença, um homem foi condenado à morte e outro à prisão perpétua por participar do linchamento de dois operários uigures em uma fábrica de brinquedos em Guangzhou, no sul da China. O episódio foi o estopim dos distúrbios de Xinjiang. Os dois foram linchados após um ex-empregado chinês han, insatisfeito com a chegada dos uigures, espalhar boato de que tinham estuprado uma jovem.
A impunidade dos suspeitos do linchamento provocou a ira dos uigures em Urumqi. Em 5 de julho, eles organizaram um protesto violento. Reprimidos pela polícia, manifestantes atacaram chineses nas ruas locais.
As duas sentenças foram divulgadas ao mesmo tempo pela mídia estatal chinesa.
Abdukerim Abduwayit, Gheni Yusup, Abdulla Mettohti, Adil Rozi, Nureli Wuxiu'er e Alim Metyusup foram condenados diante de 400 pessoas, entre elas deputados, assessores do Partido Comunista e familiares das vítimas. O julgamento foi feito em uigur, com tradução para o chinês.

Sem internet
A situação em Xinjiang está longe de voltar ao normal.
Segundo a Rádio Nacional da China, 14 mil militares e paramilitares foram enviados a Urumqi anteontem. As conexões de internet na Província de 22 milhões de habitantes estão bloqueadas desde 5 de julho. Hotéis no resto do país precisam reportar à polícia chegadas de hóspedes uigures e são orientados a não hospedá-los. Cibercafés têm a mesma ordem de não receber uigures.
Na semana passada, a rede Al Qaeda divulgou mensagem convocando os uigures a declararem "guerra santa" contra o regime de Pequim. O governo chinês diz que o crescimento econômico da região beneficia a todos e que os dois grupos étnicos convivem em harmonia.


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