São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2010

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Hospital reserva 2 pisos para mineiros

No 3º andar, ficarão os dez resgatados em estado mais grave e uma UTI reforçada, sem acesso dos parentes

Já no 2º, devem ficar os tidos como saudáveis; todos terão de passar pelo menos 48 horas na instituição em Copiapó

DA ENVIADA A COPIAPÓ (CHILE)

Pedro Gutierrez, 24, mineiro, estava ontem pela manhã na sala de espera da emergência do Hospital Regional San José del Carmen, o mesmo para onde os mineiros resgatados na mina San José devem ser levados.
Gutierrez esperava para ser internado. Ele sofre um sangramento incessante no estômago. Cigarro demais? "Não, álcool demais", diz.
Pedro trabalha em uma mina de cobre de Terra Amarela, vizinha a Copiapó. Roupas sujas, cara inchada, pele torrada, ele tem de pagar pelos exames no hospital.
É que, apesar de público, o lugar cobra para realizar alguns serviços. Um exame de sedimento de urina sai pelo equivalente a R$ 0,50, mas se não pagar, não faz.
Pedro acha que os mineiros resgatados ficarão ricos. "Famosos eles já são." Mas adverte os colegas: "Não se esqueçam de que mineiro rico da noite para o dia é até comum. Mas é um ouro maldito. Difícil é se manter rico".
Para os mineiros resgatados da San José, foram reservados o segundo e o terceiro andares do hospital. O térreo e a pediatria continuarão atendendo as pessoas comuns, além de parte da UTI.
No terceiro piso do hospital, ficarão os dez mineiros em condições mais graves de saúde. Alguns deverão passar por pequenas cirurgias.
Cauterização de feridas causadas por fungos e extração de dentes condenados são as principais intervenções esperadas. A UTI foi reforçada com dez leitos extras.
Nesse terceiro piso, o acesso das famílias será restrito -elas ficarão em uma sala de espera-, e todo o andar estará guardado por policiais.
Os mineiros considerados saudáveis serão levados ao segundo andar do hospital. Lá, os homens serão alojados em apartamentos individuais com banheiro. Terão direito a um acompanhante.
Todos os mineiros deverão permanecer no hospital por um mínimo de 48 horas -mesmo os que estiverem em boas condições de saúde.
O prefeito de Copiapó, Maglio Cicardini, bigodão, cabelos presos em um rabo de cavalo e botas de bico fino (reluzentes apesar da poeira onipresente), mandou fazer 50 faixas para homenagear os mineiros. Afixou-as todas no entorno do hospital.
"Bem-vindos, Heróis. Saúda-os seu prefeito e a comunidade copiapina", dizem as faixas, que também estampam uma foto de Cicardini.
Desde cedo, o bigodão se postou diante do hospital. Ele prometia ajudar as famílias com o dinheiro da festa que todas pretendem realizar. "Mas não me façam todas elas no sábado", dizia ele, que quer estar em todas.
(LAURA CAPRIGLIONE)


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