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Convívio gera rivalidades e atritos entre familiares de trabalhadores
Clima é tenso no acampamento montado para acompanhar operação de resgate em Copiapó
Privilégios, atenção da imprensa e dinheiro são alguns motivos; equipes de apoio tentam evitar o contágio dos mineiros
DA ASSOCIATED PRESS
A curva empoeirada que fica diante da mina de cobre e
ouro em cujo subsolo 33 homens estão presos desde o
começo de agosto pode até
estar sendo chamada de
acampamento Esperanza.
Mas o local também tem sido palco de intrigas, inveja e
rivalidades que dividem os
familiares dos mineiros que
mantêm vigília ali, justamente quando a aflição comum a
todos eles deveria uni-los.
Com o resgate dos mineiros cada vez mais iminente, o
clima no local era menos de
euforia e mais de exaustão,
com nervos em frangalhos.
"Aqui, a tensão é mais alta
do que lá em baixo. Lá embaixo, eles estão calmos"
afirmou Veronica Ticona, irmã de Ariel Ticona, 29, um
operador de máquinas.
Após 69 dias compartilhando medos e nervosismo
-e sob o escrutínio de dezenas de repórteres que agora
chegam a cerca de mil-, a
amizade inicial arrefeceu.
Alguns relacionamentos,
inicialmente pelo menos cordiais, são tão hostis como as
areias do deserto do Atacama
que circunda o acampamento. Parentes relatam em privado casos de desavenças.
Atritos e ciúmes entre as
famílias centram-se em assuntos como quem tem acesso às videoconferências de
fim de semana com os mineiros presos, quem recebe cartas e por quê.
Ou ainda quem deve falar
com a imprensa e o quanto
deve ser revelado sobre a intimidade de famílias.
Alguns reclamaram de parentes distantes em busca de
atenção da mídia internacional, dando entrevistas sobre
mineiros que mal conhecem.
E há os que, apesar do parentesco muito distante, candidatam-se a receber doações como lingeries, garrafas
de vinho, brinquedos eletrônicos e fantasias infantis.
Houve brigas inclusive sobre quem são os parentes
próximos -ou mesmo a cônjuge preferida do mineiro.
Por isso, Alberto Iturra, o
chefe da equipe de apoio psicológico aos presos, decidiu
que cada um que for resgatado se encontrará com entre
uma e três pessoas que eles
próprios deveriam designar.
E há a questão do dinheiro. Já houve problemas de relacionamento na medida em
que umas famílias têm recebido mais do que outras, inclusive de alguns veículos de
imprensa.
Devido aos atritos, Iturra
chegou a recomendar na segunda que parentes deixassem o entorno da mina e fossem para casa descansar.
"Expliquei às famílias que
a única maneira de se receber
alguém é, em primeiro lugar,
estando em sua casa para
abrir a porta", disse Iturra.
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