São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2010

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Convívio gera rivalidades e atritos entre familiares de trabalhadores

Clima é tenso no acampamento montado para acompanhar operação de resgate em Copiapó

Privilégios, atenção da imprensa e dinheiro são alguns motivos; equipes de apoio tentam evitar o contágio dos mineiros

DA ASSOCIATED PRESS

A curva empoeirada que fica diante da mina de cobre e ouro em cujo subsolo 33 homens estão presos desde o começo de agosto pode até estar sendo chamada de acampamento Esperanza.
Mas o local também tem sido palco de intrigas, inveja e rivalidades que dividem os familiares dos mineiros que mantêm vigília ali, justamente quando a aflição comum a todos eles deveria uni-los.
Com o resgate dos mineiros cada vez mais iminente, o clima no local era menos de euforia e mais de exaustão, com nervos em frangalhos.
"Aqui, a tensão é mais alta do que lá em baixo. Lá embaixo, eles estão calmos" afirmou Veronica Ticona, irmã de Ariel Ticona, 29, um operador de máquinas.
Após 69 dias compartilhando medos e nervosismo -e sob o escrutínio de dezenas de repórteres que agora chegam a cerca de mil-, a amizade inicial arrefeceu.
Alguns relacionamentos, inicialmente pelo menos cordiais, são tão hostis como as areias do deserto do Atacama que circunda o acampamento. Parentes relatam em privado casos de desavenças.
Atritos e ciúmes entre as famílias centram-se em assuntos como quem tem acesso às videoconferências de fim de semana com os mineiros presos, quem recebe cartas e por quê.
Ou ainda quem deve falar com a imprensa e o quanto deve ser revelado sobre a intimidade de famílias.
Alguns reclamaram de parentes distantes em busca de atenção da mídia internacional, dando entrevistas sobre mineiros que mal conhecem.
E há os que, apesar do parentesco muito distante, candidatam-se a receber doações como lingeries, garrafas de vinho, brinquedos eletrônicos e fantasias infantis.
Houve brigas inclusive sobre quem são os parentes próximos -ou mesmo a cônjuge preferida do mineiro.
Por isso, Alberto Iturra, o chefe da equipe de apoio psicológico aos presos, decidiu que cada um que for resgatado se encontrará com entre uma e três pessoas que eles próprios deveriam designar.
E há a questão do dinheiro. Já houve problemas de relacionamento na medida em que umas famílias têm recebido mais do que outras, inclusive de alguns veículos de imprensa.
Devido aos atritos, Iturra chegou a recomendar na segunda que parentes deixassem o entorno da mina e fossem para casa descansar.
"Expliquei às famílias que a única maneira de se receber alguém é, em primeiro lugar, estando em sua casa para abrir a porta", disse Iturra.


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