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ONG acusa Pequim de tolerar rede de prisões clandestinas
Moradores das Províncias mais distantes que vão à capital chinesa reclamar das autoridades locais acabam encarcerados
Human Rights Watch faz denúncias em relatório às vésperas da primeira visita à China de Barack Obama, que chega a Xangai no domingo
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A organização pró-direitos
humanos Human Rights
Watch (HRW) acusou ontem o
governo chinês de tolerar uma
rede de prisões clandestinas
nas quais prefeituras e governos provinciais mantêm pessoas que buscam protestar em
Pequim.
Um relatório da HRW com
38 entrevistas com pessoas detidas enquanto tentavam apresentar queixas ao governo central foi divulgado ontem em
Hong Kong. Há relatos de torturas, surras e abusos sexuais
em prisões instaladas em pensões e pequenos hotéis.
Milhares de chineses vão a
Pequim, especialmente das
Províncias mais remotas, para
apresentar queixas contra autoridades locais, reclamando
sobre despejos, corrupção e
abusos de poder.
O sistema de petições existe
há séculos -era bastante popular na última dinastia imperial
chinesa- e foi mantido pelos
comunistas.
Como vários governantes locais são avaliados pelo Partido
Comunista a partir do número
de queixas contra eles, começaram a surgir (no ano passado
com maior intensidade) denúncias de que quadrilhas
abordavam os reclamantes em
seu caminho a Pequim.
Grande negócio
Como bônus e promoções de
autoridades locais têm relação
com a avaliação deles feita pelo
partido, deter os queixosos ou
fazê-los sumir virou um grande
negócio. O relatório diz que as
quadrilhas recebem entre 150 e
300 yuans (R$ 37,5 a R$ 75) por
dia de detenção. A estimativa é
de que 10 mil pessoas por ano
fiquem detidas ilegalmente.
"Estamos falando de um país
[a China] em que a tortura é comum e sistemática nas prisões
oficiais. As ilegais estão dez degraus abaixo disso", disse, em
comunicado oficial, Sophie Richardson, diretora da HRW.
A Human Rights Watch divulgou o estudo a poucos dias
da chegada do presidente americano, Barack Obama, em sua
primeira visita oficial à China,
que começa no domingo.
Não se sabe se Obama falará
sobre a situação dos direitos
humanos na China com seus
anfitriões. O tema não constou
entre as prioridades da secretária de Estado, Hillary Clinton,
em sua visita, realizada no último mês de março.
Um porta-voz da Chancelaria chinesa afirmou ontem que
não há prisões clandestinas no
país. Na segunda-feira, o Ministério da Segurança Pública divulgou uma lista de novas regras para o sistema prisional
chinês, entre elas as proibições
de campos de trabalho forçado
e da cobrança da comida aos
presidiários.
Mas não há nenhuma referência às prisões ilegais. Denúncias de violência, porém,
começam a surgir até na mídia
chinesa, controlada pelo governo. Em uma deles, um guarda
admitiu que estuprou uma moça de 21 anos da Província de
Anhui, que foi a Pequim se
queixar de assédio sexual em
sua faculdade.
Na prisão clandestina em que
ficou, ela foi violentada, com 12
outros presos como testemunhas. Cinquenta presos conseguiram fugir após o policial deixar o lugar.
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