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Vaticano estabelece diretrizes bioéticas em novo documento
Igreja reforça a sua oposição a fertilização "in vitro", clonagem, pesquisa com células-tronco embrionárias e uso de contraceptivos
"A Dignidade da Pessoa",
primeiro manual da Santa Sé sobre o tema em 21 anos, registra ainda condenação a congelamento de embriões
ELISABETTA POVOLEDO
LAURIE GOODSTEIN
DO "NEW YORK TIMES", NO VATICANO
O Vaticano lançou ontem o
mais abrangente e extenso documento sobre questões bioéticas dos últimos 20 anos. O novo
manual leva em conta recentes
desenvolvimentos na tecnologia biomédica e reforça a oposição da Igreja Católica à fertilização "in vitro", à clonagem humana, ao teste genético de embriões antes que sejam implantados e à pesquisa com células-tronco embrionárias.
O Vaticano afirma que essas
técnicas violam o princípio de
que toda vida humana é sagrada e que crianças só deveriam
ser concebidas por meio de relações entre casais.
O manual de instrução, de 32
páginas, intitulado "Dignitas
Personae", ou "A Dignidade da
Pessoa", foi preparado pela
Congregação para a Doutrina
da Fé, órgão do Vaticano responsável por manter a ortodoxia católica, e aprovado pelo papa Bento 16. O texto foi desenvolvido para oferecer respostas
morais a questões bioéticas
surgidas nos 21 anos transcorridos desde que a congregação,
na ocasião comandada pelo hoje pontífice, havia lançado seu
manual anterior sobre o tema.
O texto proíbe o uso da pílula
do dia seguinte, DIUs e do medicamento abortivo RU 486,
alegando que eles podem resultar no equivalente a abortos.
Embriões congelados
A Igreja também objeta o
congelamento de embriões,
porque isso os expõe a potenciais danos e manipulação e
apresenta o insolúvel problema
do que fazer com os embriões
congelados que não venham a
ser implantados. Existem centenas de milhares de embriões
nessa situação nos Estados
Unidos, um fato que levou os
especialistas em ética da igreja
a reiterar a oposição à fertilização "in vitro".
"Não existe maneira moralmente lícita de escapar ao beco
sem saída criado pelos milhares de embriões congelados que
já existem", disse monsenhor
Elio Sgreccia, presidente emérito da Academia Pontifical para a Vida.
A audiência visada pelo Vaticano inclui tanto os católicos
como médicos, cientistas, pesquisadores médicos e legisladores que possam estar envolvidos na regulamentação de
novos desenvolvimentos em
tecnologia biomédica.
Nos EUA, o presidente eleito
Barack Obama afirmou que ele
revogaria as restrições ao financiamento federal de pesquisas com células-tronco embrionárias adotadas durante o
governo de George W. Bush.
O documento do Vaticano
reitera que a Igreja se opõe à
pesquisa com células-tronco
derivadas de embriões, mas
não se opõe a pesquisas com células-tronco derivadas de adultos, do sangue de cordões umbilicais ou de fetos que tenham
"morrido de causas naturais".
Luis Francisco Ladaria Ferrer, secretário da Congregação
para a Doutrina da Fé, disse
que o documento provavelmente "será acusado de conter
muitas proibições". Mas ele as
justificou dizendo que "a igreja
se sente obrigada a dar voz
àqueles que não têm voz".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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