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Sistema eleitoral gera Congresso dividido
Regras cunhadas sob Pinochet preveem que partido precise superar 66% dos votos num distrito para não dividir vagas com rivais
Aliado à Concertação, Partido Comunista pode voltar a ter representantes no Legislativo nacional após um intervalo de 36 anos
Thiago Guimarães/Folha Imagem
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Operário desempregado Hector Ulloa, que pede dinheiro a caráter
DO ENVIADO A SANTIAGO
Além de elegerem o novo
presidente, os chilenos também votam hoje para renovar
toda a Câmara dos Deputados e
a metade do Senado, em eleição
ofuscada pela disputa presidencial e que pode ter como
principal novidade a volta do
Partido Comunista ao Legislativo após 36 anos.
Previsões indicam a manutenção do equilíbrio atual no
Congresso, onde a direita -na
oposição a partir da volta da democracia, em 1990- precisou,
desde então, de pouco mais de
um terço dos votos para ter metade das cadeiras.
Metade que há dois anos, por
deserções na Concertação que
anteciparam a divisão da esquerda no pleito presidencial,
se transformou em maioria, alimentada com votos de congressistas independentes.
Esse equilíbrio é resultado do
sistema eleitoral chileno, desenhado na ditadura Pinochet
(1973-1990) e que divide o país
em seções eleitorais de dois representantes, consolidando
um sistema de duas coalizões
que torna quase impossível para pequenas siglas obterem vagas no Congresso.
O chamado sistema binominal funciona da seguinte maneira: para uma coalizão obter
as duas cadeiras do distrito, deve lograr mais de dois terços
dos votos, enquanto para a minoria basta um terço para levar
uma vaga e impedir que a maioria fique com as duas.
Em cada distrito, há várias
listas de dois candidatos. O eleitor vota só em um, mas a definição dos vencedores considera a
soma da lista. Exemplo: um
candidato obtém 24% dos votos, e seu colega de lista, 1%.
Ainda assim, perderia a cadeira
se outras duas listas somarem
mais que 25% cada uma. Nesse
caso, levariam as duas vagas os
mais votados nas listas vencedoras, mesmo com votações individuais inferiores a 24%.
Se, por um lado, o sistema
produziu estabilidade política,
por motivar negociações entre
os blocos, é amplamente culpado no país pela apatia e pela dificuldade em se aprovar reformas estruturais no Congresso.
Ainda que os três candidatos
de esquerda à Presidência digam defender o fim do sistema
binominal, analistas dizem que
não há interesse real dos partidos na mudança.
"Como os deputados e senadores têm eleitorado relativamente cativo em seus distritos,
não têm interesse em mudar as
coisas", disse à Folha Claudio
Fuentes, cientista político da
Universidade Diego Portales.
Volta comunista
Adotado pela ditadura para
reduzir o numero de partidos
que existiam antes da interrupção da democracia em 1973, o
sistema funciona como uma espécie de seguro contra a derrota eleitoral.
Fora do Congresso desde então, quando somava mais de
20% dos votos e tinha em suas
fileiras o poeta Pablo Neruda
(1904-1973), senador nos anos
40, o Partido Comunista está
perto de superar essa barreira.
Mas, para isso, foi preciso pegar carona na Concertação. Pelo acerto, candidatos comunistas vão em listas da coalizão governista. Os comunistas preveem conseguir até três cadeiras, enquanto a Concertação
espera que os votos de esquerda a ajudem a dobrar a votação
da direita nesses distritos.
(THIAGO GUIMARÃES)
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