São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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OPOSITOR
MAXIM ROSS


Governo repete os anos 70, que terminaram mal

DA REPORTAGEM LOCAL

Para o economista Maxim Ross, 65, investimentos em cooperativas e estatização de empresas já foram testados na Venezuela nos anos 50 e 70. "Começam bem, mas terminam em catástrofe, com dívidas que todos os venezuelanos temos que pagar."
Ross foi professor por 25 anos da Universidade Central da Venezuela e lecionou na London School of Economics e em Oxford. Participou de movimentos de oposição a Chávez, como a Assembléia de Cidadãos. Leia trechos da entrevista que ele concedeu de Caracas. (RJL)

 


SEM TRANSPARÊNCIA
"O governo patrocina milhares de cooperativas, mas não sabemos quanto se investe. Há muito subsídio, muito financiamento barato. Há pouca transparência do governo, nunca saberemos quanto essas cooperativas custam ao Estado. O que sabemos é que o impacto na economia é marginal.
O governo criou uma empresa chamada Mercal, que distribui farinha de milho, frango e carne. Tem enorme participação militar. Não paga impostos e ninguém sabe se dá lucro ou prejuízo."

ANOS 70
"Nos anos 50, tínhamos a Corporação de Mercado Agrícola, que fazia o mesmo, vendia produtos alimentícios a preços justos. Anos depois, ela quebrou, completamente endividada e todos os venezuelanos tivemos que pagar as dívidas. Já tivemos essas boas intenções antes.
Tivemos o Banco Agrícola e o Bandagro, que quebraram. Sempre que o Estado se meteu em atividades produtivas, tivemos resultados iniciais bons, mas que terminaram em catástrofes. Com mais conteúdo ideológico, Chávez repete governos anteriores dos anos 70."

GASTAR SEM DOR
"As estatizações são um absurdo completo. Nos anos 80, nossas linhas telefônicas estavam sempre congestionadas, tínhamos uma tecnologia atrasada, você precisava subornar alguém para conseguir uma linha. Privatizada, a Cantv oferece um excelente serviço.
O pior é se perguntar: quem o governo vai colocar para administrar essas empresas? Por mais honestos que sejam, não terão a capacidade que uma empresa privada tem. Em nossa história, o capital do Estado sempre se gasta com menos dor e menos controle."

SEM JUSTIÇA
"Quanto o governo vai gastar para indenizar os acionistas da Cantv? Por causa do anúncio do presidente, o valor das ações foi derrubado. E tudo depende de como o governo calcule essa indenização. Será o valor dos ativos? Será o valor de mercado? Ou o potencial da empresa? Quando as terras da fazenda La Marqueseña foram desapropriadas, o governo pagou muito abaixo do preço de mercado. Não temos mais tribunais neutros. É aceitar o que o governo diz, ou então não se recebe."


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