São Paulo, domingo, 14 de janeiro de 2007

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[!]Foco

Em NY, briga no gel serve de terapia para mulheres e diversão para homens

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

De dia, Karen Mitchels, 32, é executiva de um banco de investimentos em Wall Street. Usa scarpin salto alto Christian Louboutin (ela mostra), tailleur Dolce & Gabbana, brincos e anéis Tiffany, óculos de sol Prada e batom Victoria's Secret.
À noite, longe do mercado financeiro, é Jezebel. Sem nada. Ou melhor: de biquíni de bolinha amarelinha, comprado a US$ 20 numa feira hippie, para não ter a genitália desnudada ou ficar com os seios ao léu.
Duas vezes ao mês, Mitchels vai ao "Amateur Female Jello Wrestling". Em português, uma luta livre amadora de mulheres. O show acontece num bar do Lower East Side, no sul de Manhattan. Qualquer um pode entrar, mas só elas lutam.
A organização do evento diz que "mulheres de todos os tamanhos, formas e nível técnico são estimuladas a participar". Mas é preciso chegar às 18h30 (a luta começa às 20h) para esclarecimentos sobre o que pode e o que não pode ser feito.
O que pode: empurrar, agarrar, puxar, abraçar, derrubar. O que não pode: unhadas, socos e mão naquilo. Na prática, vale tudo.
Todas as participantes têm nome de guerra e vestem-se de acordo. As mais populares têm torcida, que grita, empurra e até puxa cabelo. Vale tudo, lembra?
"Uma amiga me trouxe aqui. E eu trouxe outra, que trouxe outra. Penso que estou batendo no chefe durante a luta. É ótimo canalizar toda a raiva em alguém", diz Mitchels. Aliás, Jezebel.
O ringue é uma banheira inflável de espuma e gel. Elas escorregam, caem, levantam, empurram. Na platéia, homens (na maioria solteiros e desacompanhados) deliram. "Pagaria o que fosse para estar no meio delas", diz o economista Brian Collins, 29, cerveja na mão.
Mas o que leva mulheres bem-sucedidas a se despir, subir num ringue e bater (e apanhar)? "Não é o tipo de coisa que mulheres comuns fazem. E é mais um show do que uma competição esportiva", diz Dana Sterling, organizadora do evento.
Barbara, 34, freqüenta a festa há dez meses. Codinome: Safo, aquela, a poetisa da ilha de Lesbos. Mas a sexualidade das participantes não é discutida no bar.
"Criamos nossas próprias personagens e fazemos de tudo com elas", diz Safo, que é advogada e pede que seu nome verdadeiro não seja divulgado. "Estou num clima Paris Hilton e Britney Spears, sem calcinha", brinca. Estava de blusa da Minnie Mouse e short jeans.
"Todo mundo tem vontade de bater nos outros. Mas nas sociedades civilizadas não se pode. Por isso é que é ótimo", diz Stella Sensel, também organizadora da luta e juíza da competição. Sim, o evento tem vencedoras. A de dezembro foi Safo.
Para as que lutam, a entrada é gratuita. Para as que assistem, US$ 3. Homens acompanhados de mulheres pagam US$ 7. Homens sós, US$ 15. "Entendeu o recado, marmanjo? Traga uma mulher", diz o anúncio da festa.


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