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ARTIGO
A precária aposta de Bush
Há três desfechos possíveis para a nova estratégia dos EUA para o Iraque, e o pessimista é o mais provável legado do presidente americano a seu sucessor
JAMES HOGE
EDITOR DA "FOREIGN AFFAIRS"
A despeito de crescente oposição no Congresso por parte
tanto dos democratas quanto
de alguns republicanos, o presidente Bush decidiu enviar mais
tropas para enfrentar os insurgentes, e fornecer mais verbas a
fim de gerar empregos para os
iraquianos naquele país devastado pela violência. Mas Bush
terá de superar grandes obstáculos antes de obter sucesso.
No Congresso, os críticos estão correndo para determinar
que haja limites para os recursos investidos na nova campanha, e para o prazo que ela terá
para se provar bem sucedida.
Quanto ao público, pesquisas
de opinião demonstram que
uma ampla maioria dos americanos duvida de que a maré
possa ser revertida, ou que a segurança dos Estados Unidos requeira esse resultado.
Há três desfechos possíveis.
Contrariando todas as expectativas, a escalada poderia impor
controle à insurgência por tempo suficiente para permitir que
o desenvolvimento político e
econômico estabilize o Iraque.
Ou os reforços poderiam representar o último e frustrado esforço antes da retirada das tropas americanas, deixando que o
destino do Iraque seja decidido
pelos iraquianos e por seus nervosos vizinhos. Ou o governo
Bush poderia continuar combatendo, sem resultados perceptíveis, e legar a confusão ao
vencedor da disputa presidencial americana em 2008.
Por diversos motivos, um
desfecho pessimista é o mais
provável. O plano de Bush não
funcionará sem que o governo
de Nuri al Maliki, no Iraque,
aceite reprimir as milícias xiitas, e não apenas as sunitas, e
acate os compromissos políticos e econômicos que os sunitas moderados desejam.
O premiê Maliki prometeu
cooperar com o novo plano de
Bush, mas seu comportamento
no passado sugere fortemente
que ele não quer ou não pode
dar assistência mais que mínima. Maliki não agiu como líder
de união nacional, mas sim como defensor da causa xiita, e
expôs laços condenáveis com o
Irã, o que não dá aos sunitas
motivos para que confiem nele.
Um segundo motivo para ceticismo é que as 21.500 tropas
adicionais solicitadas por Bush
não formam contingente suficiente para pacificar Bagdá, na
opinião dos especialistas no
combate a insurgências.
E, por fim, facções iraquianas
enraivecidas e desiludidas estão reforçando as fileiras da insurgência a cada dia. Os insurgentes adotaram táticas mais
efetivas e demonstraram capacidade de esperar até que contra-ataques percam o ímpeto,
reaparecendo quando a área está livre. O novo plano de Bush
prevê que o papel das tropas
americanas seja reduzido de
maneira significativa antes do
fim dete ano. Com base no desempenho histórico, é duvidoso que o Exército iraquiano seja
capaz de fornecer segurança
confiável ao país, nesse prazo.
Derrocada política
A menos que as condições no
Iraque melhorem de maneira
perceptível, Bush perderá a influência que lhe resta, e concluirá seu segundo mandado
presidencial isolado e deixado à
margem. Com a aproximação
da eleição de 2008, as cisões
nas fileiras republicanas crescerão, entre os partidários e os
inimigos do "impulso" no Iraque. E os candidatos democratas à Presidência serão pressionados pela base de seu partido a
estipular um cronograma de
retirada.
No Iraque, o plano de Bush
talvez cause certa redução na
violência sectária, mas só por
algum tempo. A perspectiva
mais realista é que o conflito civil entre sunitas e xiitas prossiga por alguns anos, até que surja um vencedor claro, um compromisso gerado pela exaustão
ou uma divisão do país.
Entre os vizinhos do Iraque,
há crescente preocupação
quanto ao potencial de tumulto
regional. Os governos sunitas
do Egito, Arábia Saudita, Jordânia e dos países do Golfo Pérsico se preocupam acima de tudo com o esforço do Irã para desenvolver a bomba atômica, os
recursos que o país fornece a
grupos radicais e suas ambições de dominar a região.
Aos olhos deles, o Irã foi o
maior beneficiário da guerra no
Iraque, e os americanos sofreram a maior perda de poder e
influência. Com o Iraque passando por uma crise sem prazo
para terminar, Washington
precisa trabalhar para conter as
forças caóticas que ameaçam a
estabilidade em toda essa região rica em petróleo. Um ingrediente essencial será uma
diplomacia revigorada, começando pela retomada da mediação no conflito entre Israel e os
palestinos. Assistência à defesa
para os países do golfo Pérsico
também é uma prioridade.
O problema mais perturbador é o esforço incessante do
Irã para se equipar com armas
atômicas, ao mesmo tempo em
que desenvolve mísseis de longo alcance. Dado o fato de que o
Irã é uma teocracia xiita radical, disposta a apoiar grupos
terroristas de pendores semelhantes, os alarmes estão soando em toda a região.
Os EUA e Israel insistem, até
agora sem sucesso, em que o Irã
precisa ser impedido de adquirir os recursos necessários a
produzir armas nucleares. E, de
sua parte, Egito e Arábia Saudita contemplam programas nucleares próprios, em resposta à
ameaça iraniana. É evidente
que o fiasco no Iraque solapou
os esforços liderados pelos
EUA para conter as ambições
nucleares do Irã e impedir a desestabilização da região. No
ano que se inicia, não há crises
mais importantes do que estas
para os EUA.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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