São Paulo, quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Olmert afirma que fez Rice mudar o voto

Em discurso em Israel, primeiro-ministro diz que interferiu na posição americana na ONU por meio de um telefonema a Bush

Departamento de Estado nega ter havido pressão externa na abstenção dos EUA em resolução que apela por cessar-fogo em Gaza

MARK LANDLER DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Em um caso raro de desentendimento público, o premiê israelense, Ehud Olmert, disse anteontem que a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, foi forçada a se abster na votação de uma resolução da ONU -que ela havia ajudado a redigir- sobre o conflito em Gaza depois que ele telefonou ao presidente George W. Bush.
"Eu disse que queria falar com Bush por telefone", declarou Olmert em um discurso na cidade de Ashkelon, no sul de Israel, segundo a Associated Press. "Fomos informados de que ele estava no meio de um discurso na Filadélfia, e eu disse que tinha de falar com ele imediatamente", disse o primeiro-ministro. "Ele saiu do palanque para falar comigo."
Israel se opôs à resolução, que pedia o cessar-fogo imediato, afirmando que seus termos não oferecem segurança aos israelenses. A resolução foi aprovada por 14 votos a 0, com abstenção dos EUA. Olmert alegou que, ao comunicar seus argumentos a Bush, o presidente ligou para Rice e ordenou que ela se abstivesse.
"Foi um momento embaraçoso para ela", afirmou Olmert, segundo a Associated Press.
O Departamento de Estado dos EUA contestou a versão dada por Olmert. "A inclinação de Rice sempre foi abster-se. A ideia de que ela foi contestada nessa questão é totalmente falsa", disse ontem Sean McCormack, porta-voz do departamento, que pediu esclarecimentos ao governo de Israel.
Após a votação, Rice afirmou que os EUA "apoiavam integralmente" a resolução -que apela pela saída israelense de Gaza e pelo monitoramento do tráfico de armas na fronteira do território com o Egito-, mas que optou por se abster à espera dos resultados a iniciativa de paz franco-egípcia.
O chanceler palestino, Riad Malki, se disse, no dia seguinte à votação, surpreso com a abstenção. "Haviam nos dito que os EUA votariam a favor", comentou.
Olmert declarou, em foro privado, que Rice ocasionalmente precisava ser controlada porque tinha o hábito de se adiantar ao presidente na formulação de políticas.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


Texto Anterior: Grécia barra saída de armas dos EUA que iam para Israel
Próximo Texto: Mortos em Gaza são sobretudo crianças, idosos e mulheres
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.