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COMENTÁRIO
Declaração pode cair como uma bomba
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No delicado equilíbrio das relações entre Estados Unidos e Brasil
na era Lula, na qual qualquer retórica mal-interpretada pode virar uma crise diplomática, a declaração de Marco Aurélio Garcia
sobre a Colômbia tem o potencial
de cair como uma bomba.
Não que lhe falte clareza estratégica. Há muito circula no Itamaraty e nos comandos militares a
preocupação com o eventual
transbordamento do conflito colombiano decorrente da intervenção econômico-militar dos Estados Unidos.
Os temores só cresceram com a
eleição do linha-dura Álvaro Uribe e com a ascensão do intervencionismo belicista na agenda externa norte-americana. Além disso, há dez anos as tropas regulares mais próximas do subcontinente
sul-americano, em missão oficial,
estavam no Panamá.
Logicamente ninguém vai falar
hoje em choque direto de interesses americanos e brasileiros na
fronteira colombiana, mas pensar
estrategicamente significa olhar
anos, décadas para frente. E prever cenários, de preferência os
mais preocupantes.
Garcia verbalizou a preocupação sobre um temor consistente,
em mais um sinal de que o Brasil
vai adotar uma posição "pró-ativa" na busca de sua posição de líder regional -de resto, uma promessa de campanha do então
candidato Luiz Inácio Lula da Silva que parece estar sendo cumprida.
Como ocorreu no caso da ação
na crise venezuelana, não faltará
diplomata com medo de que
Washington enxergue a posição
de Brasília uma afronta desnecessária.
O medo não é despropositado:
no mundo de George W. Bush
não há lugar para países que contrariem interesses estratégicos
dos Estados Unidos.
Quem o faz vai para algum eixo
malévolo, e não se trata apenas de
ser bombardeado. Basta ver o caso alemão, quando o maior aliado
na Europa é tratado nos Estados
Unidos como um entulho anacrônico por não concordar com a
guerra contra o Iraque.
Para o Brasil, em meio a discussões sobre regras de comércio internacional e Alca (Área de Livre
Comércio das Américas), há uma
gama muito maior de instrumentos de pressão do que grupos de
porta-aviões e bombas inteligentes.
O risco existe, assim como o
prêmio em caso de sucesso na estratégia. O que falta saber é a linha
exata a ser adotada pelo governo
brasileiro, e se haverá coerência
programática nas instâncias decisórias. Sem o Itamaraty, Garcia
corre o risco de pregar no deserto.
Com o Itamaraty, vai correr muitos outros.
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