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Irã renova o Parlamento após podar a oposição
Com nomes impugnados, reformistas disputam apenas 90 dos 290 distritos
Legislativa funcionará como
plebiscito a Ahmadinejad; o
presidente é criticado pela
inflação e não por programa
nuclear que busca a bomba
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Irã renova hoje as 290 cadeiras de seu Parlamento unicameral, o Majlis, com resultados antecipadamente definidos. Ganharão os integristas,
numa bem-sucedida operação
para mais uma vez marginalizar os reformistas representados pelo ex-presidente, Mohammad Khatami (1997-2005), que entre 2000 e 2004
tinham a maioria parlamentar.
Os reformistas, também ligados aos ex-presidente Hashemi
Rafsanjani (1989-1997), disputarão apenas 90 distritos eleitorais. Nos 200 restantes os
candidatos do grupo foram impugnados pelo Conselho dos
Guardiães da Revolução, um
colegiado de clérigos e juristas
nomeado pelo homem mais poderoso da hierarquia política e
religiosa, Ali Khamenei, sucessor do aiatolá Khomeini, o que
fez a revolução de 1979.
Mesmo com tantas candidaturas impugnadas -entre as vítimas há quatro ex-ministros
do reformista Khatami-, Khamenei aparentemente acredita
que o Irã continua a correr riscos. Exortou terça-feira os fiéis
a não votarem nos candidatos
supostamente apoiados pelos
"inimigos ocidentais" do país.
Integristas light
É uma maneira eufêmica de
tomar partido em favor dos integristas mais duros, representados pelo atual presidente,
Mahmoud Ahmadinejad, o homem que deseja "varrer Israel
do mapa" e que, segundo todos
os indícios, quer também dotar
seu país da bomba atômica.
Dentro da atual correlação
de forças, o presidente tem como contrapeso o prefeito de
Teerã, Mohammad Baqer Qalibaf, um integrista light.
Um parêntese. A teocracia islâmica não tem um sistema sólido de partidos políticos. Alguns deles se formam na véspera da eleição e se dissolvem na
semana seguinte. Há siglas,
mas elas não são tão importantes quanto grupos de pressão,
em geral religiosos.
Por isso, com 44 milhões de
eleitores inscritos em 45 mil
seções eleitorais, não é fácil posicionar os 4.476 candidatos,
exceto pelo fato de raramente
serem do grupo reformista.
Nas eleições municipais de
dezembro de 2006, o presidente Ahmadinejad concorreu
com um partido próprio, Doce
Perfume de Servir, designação
muito simpática para um notório anti-semita. Mas a sigla foi
mal nos 30 distritos da capital,
aliás sua antiga base eleitoral.
Desta vez, para diluir interpretações que lhe sejam nocivas, Ahmadinejad concorre coligado com dois outros partidos. Se forem bem, ele ganhou.
Se forem mal, perderam todos.
Uma das dimensões da eleição de hoje é justamente a de
plebiscitar o presidente, que
pretende se reeleger no ano
que vem. Não o acusam publicamente de gastar fortunas no
programa nuclear e de ter isolado o país da comunidade internacional, amargando três pacotes de sanções do Conselho de
Segurança da ONU.
Essa questão é meio dogmática. O aiatolá Khamenei também apóia o controvertido
enriquecimento de urânio e
provavelmente os planos da
bomba. Ahmadinejad é criticado por ter perdido o controle da
economia. A inflação está oficialmente em 20%, ou bem
mais que isso, dizem bancos
ocidentais. Num país sem mecanismos de correção automática dos salários e da poupança,
os pobres ficaram mais pobres.
Foram justamente eles que
elegeram Ahmadinejad em
2005. Ele prometia redistribuir
os benefícios do petróleo. Em
verdade ele forçou a baixa dos
juros e instituiu mecanismos
de empréstimo bancário para a
população de mais baixa renda.
Mas desse modo injetou tanto
dinheiro no mercado que a inflação maior era inevitável.
Cidadãos ouvidos pelo "Financial Times" e pela Reuters
dizem que preço do arroz dobrou em um ano e que a carne e
o peixe estão tão caros que os
mais pobres pouco comemorarão em 20 de março o Nowruz,
Ano Novo no calendário local.
Com agências internacionais
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