São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2008

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Irã renova o Parlamento após podar a oposição

Com nomes impugnados, reformistas disputam apenas 90 dos 290 distritos

Legislativa funcionará como plebiscito a Ahmadinejad; o presidente é criticado pela inflação e não por programa nuclear que busca a bomba


JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Irã renova hoje as 290 cadeiras de seu Parlamento unicameral, o Majlis, com resultados antecipadamente definidos. Ganharão os integristas, numa bem-sucedida operação para mais uma vez marginalizar os reformistas representados pelo ex-presidente, Mohammad Khatami (1997-2005), que entre 2000 e 2004 tinham a maioria parlamentar.
Os reformistas, também ligados aos ex-presidente Hashemi Rafsanjani (1989-1997), disputarão apenas 90 distritos eleitorais. Nos 200 restantes os candidatos do grupo foram impugnados pelo Conselho dos Guardiães da Revolução, um colegiado de clérigos e juristas nomeado pelo homem mais poderoso da hierarquia política e religiosa, Ali Khamenei, sucessor do aiatolá Khomeini, o que fez a revolução de 1979.
Mesmo com tantas candidaturas impugnadas -entre as vítimas há quatro ex-ministros do reformista Khatami-, Khamenei aparentemente acredita que o Irã continua a correr riscos. Exortou terça-feira os fiéis a não votarem nos candidatos supostamente apoiados pelos "inimigos ocidentais" do país.

Integristas light
É uma maneira eufêmica de tomar partido em favor dos integristas mais duros, representados pelo atual presidente, Mahmoud Ahmadinejad, o homem que deseja "varrer Israel do mapa" e que, segundo todos os indícios, quer também dotar seu país da bomba atômica.
Dentro da atual correlação de forças, o presidente tem como contrapeso o prefeito de Teerã, Mohammad Baqer Qalibaf, um integrista light.
Um parêntese. A teocracia islâmica não tem um sistema sólido de partidos políticos. Alguns deles se formam na véspera da eleição e se dissolvem na semana seguinte. Há siglas, mas elas não são tão importantes quanto grupos de pressão, em geral religiosos.
Por isso, com 44 milhões de eleitores inscritos em 45 mil seções eleitorais, não é fácil posicionar os 4.476 candidatos, exceto pelo fato de raramente serem do grupo reformista.
Nas eleições municipais de dezembro de 2006, o presidente Ahmadinejad concorreu com um partido próprio, Doce Perfume de Servir, designação muito simpática para um notório anti-semita. Mas a sigla foi mal nos 30 distritos da capital, aliás sua antiga base eleitoral.
Desta vez, para diluir interpretações que lhe sejam nocivas, Ahmadinejad concorre coligado com dois outros partidos. Se forem bem, ele ganhou. Se forem mal, perderam todos.
Uma das dimensões da eleição de hoje é justamente a de plebiscitar o presidente, que pretende se reeleger no ano que vem. Não o acusam publicamente de gastar fortunas no programa nuclear e de ter isolado o país da comunidade internacional, amargando três pacotes de sanções do Conselho de Segurança da ONU.
Essa questão é meio dogmática. O aiatolá Khamenei também apóia o controvertido enriquecimento de urânio e provavelmente os planos da bomba. Ahmadinejad é criticado por ter perdido o controle da economia. A inflação está oficialmente em 20%, ou bem mais que isso, dizem bancos ocidentais. Num país sem mecanismos de correção automática dos salários e da poupança, os pobres ficaram mais pobres.
Foram justamente eles que elegeram Ahmadinejad em 2005. Ele prometia redistribuir os benefícios do petróleo. Em verdade ele forçou a baixa dos juros e instituiu mecanismos de empréstimo bancário para a população de mais baixa renda. Mas desse modo injetou tanto dinheiro no mercado que a inflação maior era inevitável.
Cidadãos ouvidos pelo "Financial Times" e pela Reuters dizem que preço do arroz dobrou em um ano e que a carne e o peixe estão tão caros que os mais pobres pouco comemorarão em 20 de março o Nowruz, Ano Novo no calendário local.


Com agências internacionais


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