São Paulo, sexta-feira, 14 de março de 2008

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Vice-chanceler iraniano pede pressa à Petrobras

SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O vice-chanceler iraniano, Alireza Sheikh Attar, achou divertida a "coincidência" de sua visita a Brasília com a da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice. Ele teve agenda intensa na capital, com encontros em vários ministérios e no Congresso. Em entrevista à Folha, Sheikh Attar acusou a Petrobras de não investir mais no Irã por causa de pressões dos Estados Unidos e afirmou que o governo iraniano poderia facilitar o acesso de empresas brasileiras ao Iraque, cujo governo mantém relações privilegiadas com Teerã. O número dois da diplomacia iraniana confirmou a vinda ao Brasil, ainda neste ano, do presidente Mahmoud Ahmadinejad. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

 

FOLHA - A atuação da Petrobras no Irã é um dos assuntos tratados em sua visita a Brasília. Como andam os projetos de investimento?
ALIREZA SHEIKH ATAR -
O Irã tem as segundas maiores reservas mundiais de gás e de petróleo. O interesse da Petrobras no Irã se reflete no fato de seu escritório para todo o Oriente Médio ser em Teerã. A Petrobras sabe da quantidade de coisas que pode fazer no Irã. Mas acho que há um problema no processo de tomada de decisões na empresa...

FOLHA - A que problema o senhor se refere?
SHEIKH ATAR -
É possível que haja pressões por parte de vizinhos do Norte. Mas tudo bem. Nem as sanções americanas impediram o formidável crescimento de nossa indústria de gás e de petróleo. Até petroleiras dos EUA imploram para atuar no Irã. A bola está no campo da Petrobras. A concorrência na área energética é terrível. Temos acordos com empresas de vários países e já fizemos nossa oferta à Petrobras. Cabe a ela decidir. Não pressionamos nem imploramos sua participação no Irã. Mas não podemos ficar sentados esperando.

FOLHA - O Irã poderia abrir as portas do Iraque para o Brasil?
SHEIKH ATAR -
Foi o que eu expliquei às autoridades brasileiras. A questão não é mais saber como aumentar nosso comércio bilateral. Não vim aqui para pedir commodities, mas para explicar o que pode ser feito em matéria de investimento e de serviços. Há uma infinidade de projetos no Iraque. Para atendê-los, fornecemos ao governo iraquiano um crédito de US$ 1 bilhão, sob a condição de que esse dinheiro seja usado com empresas iranianas. É aí que entram as possibilidades de joint-ventures ou terceirizão a outros países, como o Brasil. Chegou a hora de atuarmos juntos em terceiros países. Ambos temos forte presença na África, América Latina, Ásia...

FOLHA - Há dois anos, Lula convidou Ahmadinejad a vir ao Brasil. Quando ocorrerá essa visita?
SHEIKH ATAR -
Este é um dos assuntos que vim tratar em Brasília. Estou confiante de que essa visita acontecerá ainda neste ano. Os dois presidentes se encontraram na posse de Rafael Correa e acho que eles gostaram bastante um do outro (risos). Eles compartilham uma visão do mundo muito parecida. Ambos valorizam decisões soberanas, a defesa do multilateralismo e o combate à injustiça nas relações internacionais.

FOLHA - O que responde aos que acusam o presidente Ahmadinejad de usar o programa nuclear para desviar a atenção dos iranianos em relação a problemas como desemprego e inflação em alta?
SHEIKH ATAR -
A economia iraniana está brilhando. Nosso crescimento é de 5,5%, temos US$ 70 bilhões em reservas externas e o investimento estrangeiro superou US$ 10 bilhões nos últimos anos. Nossas exportações estão em alta constante, não só por causa do petróleo. E nós vamos combater a inflação, assim como o Brasil fez. A questão nuclear vai muito além da busca por novas fontes de energia para responder à crescente demanda interna.
Nosso programa é pacífico e está conforme o que determina o TNP (Tratado de Não-Proliferação Nuclear). O último relatório da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) reitera que não há evidências de que o Irã busque um programa não-pacífico.
Estamos atuando dentro dos nossos direitos legais. Se não resistirmos, o Brasil e muitos outros países serão vítimas do método, usado por alguns, que consiste em impor uma visão hostil em detrimento da legalidade. É uma questão de princípio. Se a legalidade for ferida, todos os países em desenvolvimento ficarão desamparados.


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