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Vice-chanceler iraniano pede pressa à Petrobras
SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
O vice-chanceler iraniano,
Alireza Sheikh Attar, achou divertida a "coincidência" de sua
visita a Brasília com a da secretária de Estado americana,
Condoleezza Rice. Ele teve
agenda intensa na capital, com
encontros em vários ministérios e no Congresso.
Em entrevista à Folha,
Sheikh Attar acusou a Petrobras de não investir mais no Irã
por causa de pressões dos Estados Unidos e afirmou que o governo iraniano poderia facilitar
o acesso de empresas brasileiras ao Iraque, cujo governo
mantém relações privilegiadas
com Teerã. O número dois da
diplomacia iraniana confirmou
a vinda ao Brasil, ainda neste
ano, do presidente Mahmoud
Ahmadinejad. Abaixo, os principais trechos da entrevista.
FOLHA - A atuação da Petrobras no
Irã é um dos assuntos tratados em
sua visita a Brasília. Como andam os
projetos de investimento?
ALIREZA SHEIKH ATAR - O Irã tem
as segundas maiores reservas
mundiais de gás e de petróleo.
O interesse da Petrobras no Irã
se reflete no fato de seu escritório para todo o Oriente Médio
ser em Teerã. A Petrobras sabe
da quantidade de coisas que pode fazer no Irã. Mas acho que
há um problema no processo de
tomada de decisões na empresa...
FOLHA - A que problema o senhor
se refere?
SHEIKH ATAR - É possível que haja pressões por parte de vizinhos do Norte. Mas tudo bem.
Nem as sanções americanas
impediram o formidável crescimento de nossa indústria de
gás e de petróleo. Até petroleiras dos EUA imploram para
atuar no Irã. A bola está no
campo da Petrobras.
A concorrência na área energética é terrível. Temos acordos
com empresas de vários países
e já fizemos nossa oferta à Petrobras. Cabe a ela decidir. Não
pressionamos nem imploramos sua participação no Irã.
Mas não podemos ficar sentados esperando.
FOLHA - O Irã poderia abrir as portas do Iraque para o Brasil?
SHEIKH ATAR - Foi o que eu expliquei às autoridades brasileiras.
A questão não é mais saber como aumentar nosso comércio
bilateral. Não vim aqui para pedir commodities, mas para explicar o que pode ser feito em
matéria de investimento e de
serviços. Há uma infinidade de
projetos no Iraque. Para atendê-los, fornecemos ao governo
iraquiano um crédito de US$ 1
bilhão, sob a condição de que
esse dinheiro seja usado com
empresas iranianas.
É aí que entram as possibilidades de joint-ventures ou terceirizão a outros países, como o
Brasil. Chegou a hora de atuarmos juntos em terceiros países.
Ambos temos forte presença na
África, América Latina, Ásia...
FOLHA - Há dois anos, Lula convidou Ahmadinejad a vir ao Brasil.
Quando ocorrerá essa visita?
SHEIKH ATAR - Este é um dos assuntos que vim tratar em Brasília. Estou confiante de que essa
visita acontecerá ainda neste
ano. Os dois presidentes se encontraram na posse de Rafael
Correa e acho que eles gostaram bastante um do outro (risos). Eles compartilham uma
visão do mundo muito parecida. Ambos valorizam decisões
soberanas, a defesa do multilateralismo e o combate à injustiça nas relações internacionais.
FOLHA - O que responde aos que
acusam o presidente Ahmadinejad
de usar o programa nuclear para
desviar a atenção dos iranianos em
relação a problemas como desemprego e inflação em alta?
SHEIKH ATAR - A economia iraniana está brilhando. Nosso
crescimento é de 5,5%, temos
US$ 70 bilhões em reservas externas e o investimento estrangeiro superou US$ 10 bilhões
nos últimos anos. Nossas exportações estão em alta constante, não só por causa do petróleo. E nós vamos combater a
inflação, assim como o Brasil
fez. A questão nuclear vai muito além da busca por novas fontes de energia para responder à
crescente demanda interna.
Nosso programa é pacífico e
está conforme o que determina
o TNP (Tratado de Não-Proliferação Nuclear). O último relatório da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica)
reitera que não há evidências
de que o Irã busque um programa não-pacífico.
Estamos atuando dentro dos
nossos direitos legais. Se não
resistirmos, o Brasil e muitos
outros países serão vítimas do
método, usado por alguns, que
consiste em impor uma visão
hostil em detrimento da legalidade. É uma questão de princípio. Se a legalidade for ferida,
todos os países em desenvolvimento ficarão desamparados.
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