|
Próximo Texto | Índice
Contra crise, Cristina propõe adiantar eleição
Argumento é que campanha quatro meses mais curta para o Congresso dará mais tempo à Argentina para cuidar da economia
Para analistas, governo quer evitar mais deserções na
sua base parlamentar; se Legislativo aprovar, pleito passa de outubro para junho
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
Em uma decisão surpreendente, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou ontem o envio de projeto
de lei ao Congresso para antecipar em quatro meses as eleições legislativas nacionais, de
25 de outubro para 28 de junho.
A justificativa do governo é
que se trata de encurtar o debate político para enfrentar melhor a crise mundial. "Seria
quase suicida embarcar a sociedade em disputas até outubro
quando o mundo cai em pedaços e pode cair em cima de nós",
afirmou Cristina em discurso
ao lado do marido e antecessor,
Néstor Kirchner (2003-2007).
Para analistas ouvidos pela
Folha, a antecipação obedece a
cálculos políticos e econômicos. Em meio a deserções na
base parlamentar, o governo
quer evitar a unificação da oposição em disputa essencial à governabilidade da segunda metade do mandato de Cristina.
Busca também ir às urnas antes
que os impactos da crise mundial na economia local se mostrem mais fortes.
As eleições deste ano renovam metade da Câmara de Deputados (127 de 257 vagas) e
um terço do Senado (24 de 72),
além de deputados e senadores
provinciais. Para ser efetivada,
a mudança no calendário precisa de maioria absoluta (metade
mais um) em ambas as Casas
-apesar de baixas recentes, o
governo ainda conta com maioria estreita nas duas.
Cristina conclamou as Províncias a anteciparem suas eleições -possibilidade também
prevista por via legislativa.
"Precisamos de diálogo afastado dos interesses setoriais."
O pleito é chave para o casal
Kirchner, que vive seu pior momento em sete anos. A popularidade de Cristina, eleita no final de 2007, caiu de 60% para
30% desde o conflito com o setor rural, a aliança oficial acaba
de perder uma eleição antecipada na Província de Catamarca e há sinais de retração econômica -quedas na produção
industrial (4,6% em janeiro),
nas exportações (36%) e no superávit fiscal (41%).
Para o analista Rodrigo Mallea, do Centro Nova Maioria, o
governo usa a crise mundial em
sua estratégia política. "O que
busca é evitar que a oposição
termine de se unificar, sobretudo na Província de Buenos Aires." As principais forças opositoras atuam na formação de
duas frentes -uma liderada pela tradicional União Cívica Radical (UCR, de centro) e outra
por dissidentes do Partido Justicialista (peronista, do governo) e o prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri.
Reação rápida
O governo, diz Mallea, vai para o "tudo ou nada" na Província que soma 38% dos eleitores
do país, para "empatar o jogo"
que deve perder nos outros pólos importantes -Córdoba,
Santa Fé, Mendoza e capital,
que somam 33% dos votos. Inclusive com Néstor e ministros
como candidatos.
O anúncio foi feito horas depois de o prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, possível
candidato à sucessão de Cristina e inimigo político dos Kirchner, também adiantar as eleições na cidade para junho -na
capital a decisão é somente do
Executivo. "Mostra reflexo político dos Kirchner", diz o analista Fabian Perechodnik, da
consultora Poliarquia.
Próximo Texto: Oposição critica proposta, mas demonstra divisão interna Índice
|