São Paulo, sábado, 14 de março de 2009

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Contra crise, Cristina propõe adiantar eleição

Argumento é que campanha quatro meses mais curta para o Congresso dará mais tempo à Argentina para cuidar da economia

Para analistas, governo quer evitar mais deserções na sua base parlamentar; se Legislativo aprovar, pleito passa de outubro para junho

THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

Em uma decisão surpreendente, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou ontem o envio de projeto de lei ao Congresso para antecipar em quatro meses as eleições legislativas nacionais, de 25 de outubro para 28 de junho.
A justificativa do governo é que se trata de encurtar o debate político para enfrentar melhor a crise mundial. "Seria quase suicida embarcar a sociedade em disputas até outubro quando o mundo cai em pedaços e pode cair em cima de nós", afirmou Cristina em discurso ao lado do marido e antecessor, Néstor Kirchner (2003-2007).
Para analistas ouvidos pela Folha, a antecipação obedece a cálculos políticos e econômicos. Em meio a deserções na base parlamentar, o governo quer evitar a unificação da oposição em disputa essencial à governabilidade da segunda metade do mandato de Cristina. Busca também ir às urnas antes que os impactos da crise mundial na economia local se mostrem mais fortes.
As eleições deste ano renovam metade da Câmara de Deputados (127 de 257 vagas) e um terço do Senado (24 de 72), além de deputados e senadores provinciais. Para ser efetivada, a mudança no calendário precisa de maioria absoluta (metade mais um) em ambas as Casas -apesar de baixas recentes, o governo ainda conta com maioria estreita nas duas.
Cristina conclamou as Províncias a anteciparem suas eleições -possibilidade também prevista por via legislativa. "Precisamos de diálogo afastado dos interesses setoriais."
O pleito é chave para o casal Kirchner, que vive seu pior momento em sete anos. A popularidade de Cristina, eleita no final de 2007, caiu de 60% para 30% desde o conflito com o setor rural, a aliança oficial acaba de perder uma eleição antecipada na Província de Catamarca e há sinais de retração econômica -quedas na produção industrial (4,6% em janeiro), nas exportações (36%) e no superávit fiscal (41%).
Para o analista Rodrigo Mallea, do Centro Nova Maioria, o governo usa a crise mundial em sua estratégia política. "O que busca é evitar que a oposição termine de se unificar, sobretudo na Província de Buenos Aires." As principais forças opositoras atuam na formação de duas frentes -uma liderada pela tradicional União Cívica Radical (UCR, de centro) e outra por dissidentes do Partido Justicialista (peronista, do governo) e o prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri.

Reação rápida
O governo, diz Mallea, vai para o "tudo ou nada" na Província que soma 38% dos eleitores do país, para "empatar o jogo" que deve perder nos outros pólos importantes -Córdoba, Santa Fé, Mendoza e capital, que somam 33% dos votos. Inclusive com Néstor e ministros como candidatos.
O anúncio foi feito horas depois de o prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, possível candidato à sucessão de Cristina e inimigo político dos Kirchner, também adiantar as eleições na cidade para junho -na capital a decisão é somente do Executivo. "Mostra reflexo político dos Kirchner", diz o analista Fabian Perechodnik, da consultora Poliarquia.


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