São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2011

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Onda arranca os pais dos braços da filha

JONATHAN WATTS
DO "GUARDIAN", EM SHINTONA

As últimas palavras de Harumi Watanabe a seus pais foram uma súplica desesperada para que "ficassem juntos", quando o tsunami invadiu as janelas da casa de sua família e a encheu de água, lama e destroços.
Ela tinha corrido para ajudá-los assim que o terremoto aconteceu, cerca de 30 minutos antes. "Fechei minha loja e corri para casa de carro, o mais rápido que pude", diz.
"Mas não deu tempo de salvá-los. Eles eram velhos e fracos demais para andar.
Não consegui levá-los para o carro a tempo."
Todos estavam na sala da casa quanto o tsunami chegou. Watanabe estava segurando seus pais pelas mãos, mas a água foi forte demais.
Seu pai e sua mãe idosos foram arrancados de suas mãos, gritando "não consigo respirar", e arrastados para baixo, sob a água.
Watanabe ficou sozinha, lutando para não morrer.
"Subi em cima dos móveis, mas a água estava no meu pescoço. Havia só uma faixa muito estreita de ar."
Ela é uma das poucas pessoas de sorte que conseguiram sobreviver em Shintona, cidade litorânea próxima do epicentro do tremor. A baía próxima está repleta de carros, concreto e casas que foram arrancadas de suas fundações.
Uma linha férrea foi arrancada do chão e retorcida verticalmente. Carros e motocicletas se espalham pela área, quebrados e reestacionados pelo tsunami de maneira tão aleatória que alguns estão precariamente equilibrados sobre suas capotas.
Helicópteros dos serviços de emergência e da mídia sobrevoam a cidade, e pessoas que perderam entes queridos choram ao lado da estrada.
Funcionários da força de autodefesa e dos serviços de resgate procuram corpos no meio da lama.
Seu trabalho é interrompido esporadicamente por alertas de terremoto e avisos de tsunami.

Tradução de CLARA ALLAIN


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