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Ricos festejam queda do presidente
DO ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
Chuca Taberna de Obregón, 50,
mulher de um dos maiores empresários do ramo imobiliário de
Caracas, é a típica venezuelana
por trás da deposição do presidente Hugo Chávez.
Católica fervorosa e descendente de espanhóis, Chuca deixou
que suas duas filhas fossem às
manifestações de dezembro passado e a da última quinta-feira
"desde que levassem celular e se o
motorista as levasse e as trouxesse
de volta".
O ódio de Taberna a Chávez é
tamanho que, ao voltar de uma
temporada em Miami na última
sexta-feira, juntou-se a outros venezuelanos que hostilizaram o ex-chanceler Luis Alfonso Davila no
aeroporto Simon Bolívar, nos arredores de Caracas.
Alfonso Davila perdera o cargo
enquanto voltava da reunião do
Grupo do Rio, na Costa Rica. Como não havia carro oficial para
apanhá-lo no aeroporto e os taxistas negavam-se a levá-lo, com medo de terem seus carros depredados, o chanceler foi xingado por
uma multidão que embarcava e
desembarcava de vôos internacionais.
"Esse aí deveria pedir asilo em
Cuba, onde moram os amigos dele", disse Chuca, referindo-se às ligações estreitas entre Chávez e o
governo cubano. Para Chuca, que
ocasionalmente faz trabalho voluntário na escola de sua filha
mais nova, o presidente do México, Vicente Fox, é exemplo ideal
do líder que a Venezuela deveria
ter. "Ele é sério, um empresário de
sucesso, parceiro dos maiores líderes mundiais, e não amigo de
Fidel Castro. Estamos em 2002,
tenho até vergonha de lembrar
que os amigos do presidente do
meu país são Fidel Castro e Sadam Hussein [ditador iraquiano
visitado por Chávez no ano passado em Bagdá]."
A maior queixa que Chuca tem
contra Chávez é seu discurso de
ódio. "Esse governo jogou pobres
contra ricos durante três anos.
Chávez ficava repetindo aos pobres que aqueles que têm dinheiro são ladrões, desestimulando-os
a trabalhar quando o trabalho é o
único instrumento de ascensão
social. Se Chávez era tão bom para
os pobres, por que os pobres não
saíram para defendê-lo?"
A mulher do empresário parece
ter certa razão. Foi um fim melancólico para um governo que se
propôs a exercer um diálogo direto com a massa de empobrecidos
do país - que somam entre 70%
e 85% da população e não estão
registrados nos sindicatos que
atuaram contra Chávez.
A não ser por poucos panelaços
e manifestações esparsas em favor
do presidente deposto em alguns
bairros de Caracas e diante do
quartel ao qual fora levado inicialmente, em Caracas, os pobres, a
quem Chávez dizia dedicar seu
governo, não saíram às ruas para
defendê-lo.
No bairro humilde de El Valle,
que lembra uma favela, grupos de
dez a 15 manifestantes defendiam
Chávez, dizendo que "os pobres
estão com o presidente" e que não
iriam deixá-lo cair. Centenas de
pessoas assistiam a essas manifestações quietas, sem fazer nada.
""Tenho muita simpatia por
Chávez e sempre vou gostar dele,
mas acho que a Venezuela vai caminhar melhor com um presidente que não brigue tanto. Estamos cansados de briga", disse à
Folha Mayra Fernandez, 20, uma
desempregada que se diz partidária do ex-presidente. "Os ricos
nunca iriam deixá-lo governar."
Durante seus três anos de governo, Chávez não conseguiu reduzir a pobreza no país. Dado o
acúmulo de poder que concentrou num determinado momento
de sua gestão, as camadas mais
humildes esperavam algum tipo
de avanço no campo social, ainda
que seu discurso de cunho esquerdista fosse difuso e confuso.
Chávez assumiu o cargo em
1999 anunciando um programa
de investimentos públicos de US$
1 bilhão, especialmente para criar
empregos entre os mais pobres do
país. No entanto, os índices de desemprego hoje são iguais aos de
três anos atrás.
A crise social acabou unindo
trabalhadores formais - a maioria ligada ao setor petrolífero - a
empresários. A maioria dos manifestantes que participaram do
megaprotesto da quinta-feira, que
acabou com a morte de ao menos
15 pessoas, era composta por uma
massa adequadamente vestida de
estudantes, funcionários públicos
e outros que visivelmente pertenciam às classes média ou alta.
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