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"Estou maravilhado", diz o economista Jeffrey Sachs
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
"Eis uma boa chance para a Venezuela sair do buraco em que estava em relativa paz e, torçamos,
respeitando o processo democrático." A opinião, dura e contundente, uma das várias que deu, é
da polêmica estrela da economia
da Universidade Harvard.
Trata-se de Jeffrey Sachs, um
dos profetas do neoliberalismo.
"O ex-presidente Hugo Chávez
estava conduzindo a Venezuela
em direção ao abismo". O economista falou à Folha por telefone
de Cambridge (Massachusetts)
minutos antes de sair para o teatro. "Soube da notícia pelo celular
no avião e estou feliz, muito feliz",
disse ele, empolgado. Conheça
seus motivos na entrevista abaixo.
Folha - O sr. se diz "maravilhado"
com a queda de Chávez. Por quê?
Jeffrey Sachs - Maravilhado, sim.
Porque o ex-presidente Hugo
Chávez estava conduzindo a Venezuela direto em direção ao abismo. A economia estava em estado
miserável, o direito à propriedade
foi minado, a liberdade de imprensa corria risco e as medidas
que ele vinha tomando eram cada
vez mais arbitrárias.
Não refletia mais a vontade do
povo e não estava cumprindo nenhuma das promessas que fez ao
ser eleito. Chávez infelizmente
reencenava um cenário político
muito típico na América Latina
nos últimos 30 anos, o do populismo. Ele mesmo se definiu como
um "populista radical".
Folha - Sim, mas o que o ex-presidente sofreu não deixa de ser um
golpe de Estado, com apoio popular, mas um golpe.
Sachs - Exatamente, mas, para
esse golpe se configurar, vai depender do que o presidente em
exercício fizer nos próximos dias.
Ele já disse que haverá eleições democráticas em breve, e eu acredito que vá haver mesmo. Com essa
condicional, os venezuelanos terão sua vontade respeitada.
Chávez estava se tornando o governo de um homem só, colocando em xeque todas as instituições
da sociedade democrática. Eu via
mais riscos à democracia antes de
sua queda do que agora, mesmo
com toda a indefinição.
Folha - E o que o sr. acha que
acontecerá daqui para a frente?
Sachs - Bem, a Venezuela já vem
decaindo há 30 anos, isso não chega a ser novidade para ninguém. É
um país que viveu do petróleo e
nada mais. O que aconteceu é que
a população cresceu significativamente e o preço real do barril de
petróleo em geral vem caindo no
último quarto de século.
O resultado é que o padrão de
vida caiu significativamente. Infelizmente, de novo, a Venezuela
interpretou errado esse fenômeno. Ele acharam: "Nós éramos ricos, agora somos pobres, alguém
deve ter roubado isso de nós".
Nunca chegaram à verdadeira
conclusão, que é: "Nós éramos ricos, agora somos pobres e o petróleo não vai mais garantir nosso
futuro, então temos de encontrar
outros meios para isso".
E isso só será alcançado com
novos produtos de exportação,
uma economia diversificada, investimento em educação. Claro
que Chávez não estava fazendo
nada a respeito disso. Ele primeiro viveu exclusivamente do petróleo e, quando os preços caíram,
passou a queimar todas as reservas em moeda estrangeira.
Quando também isso acabou, a
moeda local se desvalorizou e reside aí o clássico fim natural do ciclo populista: o governo cai. Por
isso disse que nós já vimos esse filme várias vezes antes, o que é uma
pena. O problema é que o ex-presidente não saiu deixando um novo parque industrial, competitividade, uma base diversificada da
economia, como outros, em outros países latinos, até chegaram a
fazer. Pelo contrário: ele afastou o
capital estrangeiro.
Folha - Mas a queda dele não garante uma mudança de rumo da
política econômica do país.
Sachs - Não, por isso eis uma boa
chance para a Venezuela sair do
buraco em que estava em relativa
paz e, torçamos, respeitando o
processo democrático. Mas, é
preciso dizer, não depende de
uma pessoa só. Se o povo continuar vivendo dessa miragem,
dessa ilusão, de que uma pessoa
sozinha vai resolver os problemas, acontecerá tudo de novo.
Folha - O sr. vê possibilidade de o
que aconteceu prejudicar o Brasil?
Sachs - Não, acho que o caso de
Chávez era muito particular. Estou otimista quanto ao futuro do
Brasil agora, mas a continuidade
da política governamental atual é
fundamental. Há uma eleição vindo aí e a comunidade internacional espera que seja eleito um presidente que tenha uma política
responsável, de longo prazo, que
promova a produtividade.
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