São Paulo, sábado, 14 de abril de 2007

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Berezovski diz tramar deposição de Putin

Reino Unido abre investigação e Rússia pede que britânicos revoguem asilo político de bilionário, que fugiu em 2000

Em entrevista ao jornal "The Guardian", oligarca afirma financiar os inimigos do presidente russo para promover "revolução"

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES

A Rússia pediu ontem que o Reino Unido retire do bilionário russo Boris Berezovski o asilo político e o extradite, depois de Berezovski ter declarado ao jornal britânico "The Guardian" que estava tramando uma "revolução" para derrubar o presidente Vladimir Putin. Uma nova investigação contra Berezovski foi aberta pela Procuradoria Geral russa.
As declarações de Berezovski, dono de uma fortuna avaliada em US$ 1,4 bilhão (R$ 2,8 bilhões), também levaram a polícia britânica a abrir um inquérito para apurar se o russo cometeu alguma ilegalidade.
"Não é possível mudar esse regime [de Putin] por vias democráticas. Não vai haver mudança sem força, pressão", disse Berezovski ao "Guardian".

Racha na elite
O empresário afirmou ter oferecido sua "experiência e ideologia" a membros da elite política russa que estariam descontentes com o governo Putin. "Só se muda o regime na Rússia quando uma parte da elite política discorda da outra. É isso que estou tentando fazer", disse o russo, acrescentando que está financiando os inimigos de Putin.
"De acordo com nossa legislação, a fala [de Berezovski] está sendo tratada como um crime", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
"Queremos acreditar que Londres nunca iria dar asilo a alguém que deseja usar a força contra o regime russo", disse Peskov.

Oligarquia russa
Figura controversa, Boris Berezovski, 61, é um matemático que fez fortuna durante a privatização dos imóveis e bens da Rússia, sob o governo de Boris Ieltsin (1991-1999).
Apoiador de Vladimir Putin na eleição em 2000, o bilionário deixou o país após o presidente começar uma luta contra os chamados oligarcas, de modo a centralizar o poder de volta nas mãos do Estado.
Berezovski conseguiu asilo no Reino Unido em 2003 e conseguiu evitar um pedido de extradição feito por promotores russos que o acusavam de fraude. Ele alegou que as acusações tinham motivação política. A entrevista ao "Guardian" não foi a primeira ocasião em que o bilionário sugeriu o uso da força para derrubar Putin.

Refugiado
Quando deu declaração semelhante a uma rádio de Moscou, no ano passado, Berezovski foi condenado por Jack Straw, então ministro do Exterior britânico, que ameaçou retirar seu status de refugiado.
Na ocasião, autoridades russas pediram novamente a extradição do bilionário, mas um juiz britânico afirmou que Berezovski não poderia ser extraditado enquanto fosse refugiado. Com a repercussão de suas declarações ontem, Berezovski emitiu uma nota oficial afirmando que desejava uma revolução "sem sangue".
"Apóio uma ação direta, mas não defendo ou apóio a violência", disse o russo, que voltou a ressaltar, no entanto, que, sob o regime atual, "as eleições não são um meio viável para garantir mudanças democráticas".
Berezovski disse não temer uma pressão do governo russo sobre o britânico para que perca seu status de refugiado.
"Hoje a realidade é diferente, por causa do caso Litvinenko", afirmou, referindo-se ao espião russo, também refugiado em Londres, que foi assassinado com a substância radiativa polônio-210 em novembro passado. Na ocasião, Berezovski foi um dos que acusaram o presidente Putin de encomendar a morte do dissidente.


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