|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Berezovski diz tramar deposição de Putin
Reino Unido abre investigação e Rússia pede que britânicos revoguem asilo político de bilionário, que fugiu em 2000
Em entrevista ao jornal "The Guardian", oligarca afirma financiar os inimigos do presidente russo para promover "revolução"
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES
A Rússia pediu ontem que o
Reino Unido retire do bilionário russo Boris Berezovski o
asilo político e o extradite, depois de Berezovski ter declarado ao jornal britânico "The
Guardian" que estava tramando uma "revolução" para derrubar o presidente Vladimir
Putin. Uma nova investigação
contra Berezovski foi aberta
pela Procuradoria Geral russa.
As declarações de Berezovski, dono de uma fortuna avaliada em US$ 1,4 bilhão (R$ 2,8 bilhões), também levaram a polícia britânica a abrir um inquérito para apurar se o russo cometeu alguma ilegalidade.
"Não é possível mudar esse
regime [de Putin] por vias democráticas. Não vai haver mudança sem força, pressão", disse Berezovski ao "Guardian".
Racha na elite
O empresário afirmou ter
oferecido sua "experiência e
ideologia" a membros da elite
política russa que estariam descontentes com o governo Putin. "Só se muda o regime na
Rússia quando uma parte da
elite política discorda da outra.
É isso que estou tentando fazer", disse o russo, acrescentando que está financiando os
inimigos de Putin.
"De acordo com nossa legislação, a fala [de Berezovski] está sendo tratada como um crime", afirmou o porta-voz do
Kremlin, Dmitry Peskov.
"Queremos acreditar que
Londres nunca iria dar asilo a
alguém que deseja usar a força
contra o regime russo", disse
Peskov.
Oligarquia russa
Figura controversa, Boris
Berezovski, 61, é um matemático que fez fortuna durante a
privatização dos imóveis e bens
da Rússia, sob o governo de Boris Ieltsin (1991-1999).
Apoiador de Vladimir Putin
na eleição em 2000, o bilionário deixou o país após o presidente começar uma luta contra
os chamados oligarcas, de modo a centralizar o poder de volta nas mãos do Estado.
Berezovski conseguiu asilo
no Reino Unido em 2003 e conseguiu evitar um pedido de extradição feito por promotores
russos que o acusavam de fraude. Ele alegou que as acusações
tinham motivação política. A
entrevista ao "Guardian" não
foi a primeira ocasião em que o
bilionário sugeriu o uso da força para derrubar Putin.
Refugiado
Quando deu declaração semelhante a uma rádio de Moscou, no ano passado, Berezovski foi condenado por Jack
Straw, então ministro do Exterior britânico, que ameaçou retirar seu status de refugiado.
Na ocasião, autoridades russas pediram novamente a extradição do bilionário, mas um
juiz britânico afirmou que Berezovski não poderia ser extraditado enquanto fosse refugiado. Com a repercussão de suas
declarações ontem, Berezovski
emitiu uma nota oficial afirmando que desejava uma revolução "sem sangue".
"Apóio uma ação direta, mas
não defendo ou apóio a violência", disse o russo, que voltou a
ressaltar, no entanto, que, sob o
regime atual, "as eleições não
são um meio viável para garantir mudanças democráticas".
Berezovski disse não temer
uma pressão do governo russo
sobre o britânico para que perca seu status de refugiado.
"Hoje a realidade é diferente,
por causa do caso Litvinenko",
afirmou, referindo-se ao espião
russo, também refugiado em
Londres, que foi assassinado
com a substância radiativa polônio-210 em novembro passado. Na ocasião, Berezovski foi
um dos que acusaram o presidente Putin de encomendar a
morte do dissidente.
Texto Anterior: Vence prazo para Coréia do Norte fechar reator nuclear Próximo Texto: Saiba mais: Em Londres, Guerra Fria não acabou Índice
|