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Papa lança livro que reafirma importância da divindade de Jesus
Volume se inscreve em debate teológico e aborda a história do cristianismo
DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em seu novo livro, "Jesus
von Nazareth" (Jesus de Nazaré, ainda sem tradução para o
português), o primeiro que lança já como papa, Bento 16 emprega argumentos teológicos a
fim de mostrar que a figura do
Jesus histórico não pode ser
dissociada da figura do Jesus
divino e que é por meio Dele
que se dá a união entre Deus e o
homem. Mais, o papa, obviamente, descarta o caráter mitológico da figura de Jesus.
O livro, que tem 448 páginas
e foi publicado inicialmente em
italiano e polonês, além de alemão, abrange vários episódios
da vida de Jesus.
O cardeal austríaco Christoph Schonborn, que apresentou a obra em seu lançamento,
no Vaticano, enfatizou a crítica
da Igreja Católica às visões históricas e pseudo-históricas de
Jesus que não o tratam como
uma divindade e a relacionou a
fenômenos contemporâneos.
"As inumeráveis imagens fantasiosas de Jesus como um revolucionário, como um modesto reformador social, como o
amante secreto de Maria Madalena podem ser jogadas com
o resto no jazigo da história",
afirmou o dom Schonborn, que
é também arcebispo de Viena.
As palavras do cardeal
Schonborn, principalmente na
citação de Jesus como um reformador social, faziam referência implícita também à Teologia da Libertação.
O próprio livro do papa expõe parte da visão que fez a
Santa Sé advertir, no mês passado, obras do teólogo espanhol Jon Sobrino, um dos patriarcas da teologia da libertação. Sobrino, naturalizado espanhol, foi advertido publicamente porque parte de seus
textos, conforme explicava então o documento do Vaticano,
valorizava demais "o componente histórico da figura de Jesus, separando-a de sua dimensão divina".
Segundo a agência Associated Press, questionado sobre as
idéias do papa acerca da teologia da libertação, o cardeal austríaco afirmou que Bento 16
"certamente esclarecerá a
orientação de uma verdadeira
teologia da libertação em sua
visita ao Brasil", que começa no
próximo dia 9.
A resposta é Deus
Num dos trechos da obra em
que Bento 16 enfatiza o caráter
divino de Jesus, ele se pergunta: "O que Jesus trouxe de fato,
se não foi a paz ao mundo, o
bem-estar para todos e um
mundo melhor? (...) Ele trouxe
Deus".
Mesmo abordando temas como pobreza e desigualdade social, o sumo pontífice não desvinculou seu combate da necessidade, que ele enxerga, da
transformação do homem por
meio de Deus para o pôr em
prática. A idéia é clara em passagem sobre o colonialismo e a
exploração dos países mais pobres pelos mais ricos: "Em vez
de dar a eles [os povos colonizados] Deus, o Deus que é próximo de nós por meio de Jesus
(...), nós demos a eles o cinismo
de um mundo sem Deus, no
qual só o poder e o lucro interessam".
Além da rejeição de um Jesus
não divino, o papa tratou em
seu livro também de tema recorrente em seus escritos e discursos, qual seja, o que ele julga
a falta de valores éticos manifesta em certos hábitos das sociedades. Nessa linha ele criticou o estilo de vida dos ricos,
mencionando "as vítimas das
drogas, do turismo sexual, pessoas destruídas por dentro, vazias a despeito da abundância
de seus bens materiais".
Bento 16 lembra no prefácio
da obra, porém, que ela é o resultado do trabalho de um teólogo. "Qualquer um é livre para
me contestar", escreve.
O livro começará a ser vendido na segunda-feira, aniversário de 80 anos do papa. Segundo a editora italiana da obra, a
Rizzoli, "Jesus von Nazareth" é
o primeiro volume de uma série de dois. Ele deve ser traduzido em mais de 20 línguas.
Presente
Bento 16 faz aniversário na
próxima segunda, mas quem
vai ganhar um presente são os
cerca de mil funcionários do
Vaticano. Cada um receberá
500 (cerca de R$ 1.370) por
conta das comemorações dos
80 anos do pontífice.
Além disso, 16 de abril será feriado na Santa Sé. Ninguém vai
trabalhar, à exceção dos funcionários que cuidarão da apresentação de uma orquestra para Bento 16. Ele é pianista e admirador de música erudita.
Com agências internacionais
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