São Paulo, segunda-feira, 14 de abril de 2008 |
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Brasileiros invadem campanha paraguaia
O ex-bispo Fernando Lugo e o general reformado Oviedo têm marqueteiros e apoiadores influentes vindos do Brasil
FÁBIO VICTOR ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO Permeada por temas relacionados ao Brasil, a campanha eleitoral no Paraguai, cujas eleições presidenciais acontecem no próximo domingo, foi invadida também por atores políticos brasileiros. Marqueteiros, políticos, empresários e ruralistas com interesse na disputa atuam ativamente em pelo menos duas das três principais candidaturas, do oposicionista de esquerda Fernando Lugo e do general reformado Lino Oviedo, preso acusado de tentativa de golpe em 1996 e libertado no ano passado. A governista Blanca Ovelar (do Partido Colorado, que comanda o país há 61 anos) não confirma os rumores de que faz o mesmo. Seja na condução da estratégia eleitoral ou pelos apoios, a campanha mais "verde-amarela" é a de Oviedo, reflexo especialmente do período de quatro anos que o general viveu no Brasil, entre 2000 e 2004, uma parte do tempo preso, noutra exilado. Em Brasília e no Paraná, ele cultivou relacionamentos sólidos. Um deles é com Valter Sâmara, pecuarista e dono de cartório paranaense que se diz amigo do peito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (leia ao lado). Oviedo mantinha laços estreitos com o empreiteiro Cecílio Rego Almeida, já falecido, e é amigo do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), assim como do governador Roberto Requião, que no entanto migrou para a candidatura de Lugo. Adversários do general desconfiam que empresários brasileiros financiam a campanha, o que é proibido pela lei paraguai. Os dois lados negam. A associação de Oviedo com o Brasil é explorada como algo negativo pelos adversários, mas o candidato tem procurado tirar proveito. "Ele assume que é o candidato verde-amarelo porque sabe que o Brasil tem capital e mercado para ajudar o Paraguai", diz Elsinho Mouco, o brasileiro que lidera o marketing eleitoral do general. A campanha do ex-bispo católico Lugo, líder nas pesquisas, tem pelo menos dois marqueteiros brasileiros. Um é Aírton Pisetti, secretário de Comunicação do governo do Paraná. O outro é Hiram Pessoa de Melo, com vasto currículo em pleitos internacionais. A entrada de Pisetti na disputa paraguaia abriu uma guerra política no Paraná. A oposição ao governo Requião forçou o secretário a prestar contas de suas despesas de viagem a Assunção. Pisetti nega ter usado recursos públicos nessas viagens, mas, pressionado, tirou licença do cargo e decidiu devolver dinheiro pelos dias não trabalhados. Pessoa de Melo foi levado pelo PLRA, o partido de centro-direita que integra a coalizão de Lugo e busca atenuar o tom da ala esquerdista da aliança. Tanto Requião quanto Lugo negam que haja contribuição financeira do político brasileiro. Grilagem A participação de brasileiros na campanha de Blanca Ovelar não é reconhecida pela candidata. Rivais da ex-ministra da Educação dizem que o senador Gim Argello (PTB-DF) -investigado pela polícia na Operação Aquarela e que responde por denúncias de grilagem de terras e recebimento de propina- estaria ajudando na campanha. Questionado pela Folha três vezes na última semana, por meio de sua assessoria, Argello não respondeu. Adversários de Blanca citam ainda que ela recebeu a consultoria do advogado paranaense Roberto Bertoldo -ele nega. Há pelo menos três temas que envolvem diretamente o Brasil na pauta da campanha: a revisão do Tratado de Itaipu, usina na qual os países são sócios, o futuro dos produtores rurais "brasiguaios", que se sentem ameaçado pelo projeto de reforma agrária de Lugo, e a regularização do comércio na fronteira. Segundo a Folha apurou, nos próximos dias desembarcam em Assunção inúmeros consultores, políticos e empresários brasileiros -ligados ligados ou não a uma das candidaturas- ansiosos pelo desfecho da mais disputada eleição dos últimos anos no país. Próximo Texto: Entrevista: "Oviedo é um estadista", diz paranaense Índice |
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