São Paulo, terça-feira, 14 de abril de 2009

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EUA liberam viagem de parentes a Cuba

Remessas de dinheiro também deixam de ter limite; apesar de distensão, embargo de Washington a Havana segue vigente

Casa Branca diz que meta é fomentar democracia; ação é a mais significativa em 3 décadas e cumpre promessa de campanha de Obama

LaJohn Watson Riley-13.mar.09
Cubano-americanos embarcam em Miami rumo a Havana; fim da limitação de viagens à ilha injetará verba na economia local

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O governo americano anunciou ontem o fim das restrições para que familiares de cubanos vivendo nos EUA possam viajar a Cuba e enviar dinheiro ou artigos como produtos de higiene, roupas e outros "presentes" a moradores da ilha.
Empresas americanas de telecomunicações também foram autorizadas a realizar licenciamentos em Cuba para implementar serviços de telefonia fixa e celular, transmissão de TV via satélite e internet.
Embora o embargo comercial que já dura 47 anos não tenha sido levantado, as medidas anunciadas abrem a possibilidade de voos comerciais regulares serem restabelecidos com a ilha. Hoje, só há voos fretados.
Existem cerca de 1,5 milhão de norte-americanos com parentes vivendo em Cuba.
"A conexão dos cubano-americanos com familiares em Cuba não só é um direito básico no sentido humanitário mas também nossa melhor ferramenta para ajudar a fomentar o início de uma democracia de base na ilha", diz o comunicado da Casa Branca, que sublinha o desejo por uma Cuba "que respeite os direitos básicos, econômicos e políticos de todos os cidadãos".
Sob a nova política, cubano-americanos poderão viajar livremente à ilha e enviar quantias de dinheiro sem limites a seus familiares. A única restrição que persiste nesse aspecto é que o governo dos EUA procurará se certificar de que as quantias não serão encaminhadas para o governo cubano ou para o Partido Comunista.
Não foi detalhado como exatamente o governo dos EUA poderá controlar isso.
Revertendo política imposta pelo ex-presidente George W. Bush em 2004, os cubano-americanos poderão enviar uma série de produtos a parentes na ilha, desde que estes não acabem caindo nas mãos do governo ou do Partido Comunista.
Inicialmente, as maiores empresas de telecomunicações dos EUA não comentaram as mudanças e as novas oportunidades de negócios que elas significam. Mas as decisões provocaram altas significativas na Bolsa de Valores de Nova York em ações de empresas que podem vir a se beneficiar com as medidas, como companhas aéreas, de cruzeiro marítimo e até de mineradoras canadenses.
"O presidente (Obama) está tomando essas medidas no sentido de ajudar os cubanos a conquistar direitos humanos básicos", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, sobre a decisão. "São ações tomadas para ampliar o fluxo de informações (com Cuba)."
Não foi anunciado, porém, nenhuma medida que indique uma aproximação política entre os governos dos dois países.
O anúncio pelo governo Obama preenche uma promessa de campanha do presidente de estreitar as relações com Cuba, que está a apenas 144 quilômetros da costa da Flórida.
Foi feito ainda às vésperas da Cúpula das Américas, que acontece a partir desta sexta em Trinidad e Tobago e que tem a relação Washington-Havana como o tema que mais causa expectativa. E marca um salto em relação à medida recém-aprovada pelo Congresso que suprimiu a verba federal para fiscalizar quem burlasse as restrições antes vigentes.

Reações
Embora alguns congressistas tenham considerado as medidas insuficientes (muitos querem liberdade total para qualquer americano visitar a ilha), outros parlamentares criticaram a abertura. Para estes, as ações podem beneficiar o regime comunista em Havana e retardar o seu fim. Cuba é comandada pelo irmão de Fidel Castro, Raúl, desde fevereiro de 2008, quando Fidel se afastou do poder oficialmente um ano e meio após adoecer.
Os irmãos cubano-americanos e congressistas republicanos (partido de oposição ao de Obama) da Flórida Mario e Lincoln Diaz-Balart, soltaram comunicado afirmando que Obama está cometendo um erro "muito sério".
A principal crítica é que o governo dos EUA estaria fazendo uma "concessão unilateral, que proverá à ditadura em Cuba milhões de dólares anuais".

"A conexão dos cubano-americanos com familiares em Cuba não só é um direito básico no sentido humanitário mas também nossa melhor ferramenta para ajudar a fomentar o início da democracia de base na ilha"

"Todos que aderem aos valores democráticos fundamentais anseiam por uma Cuba que respeite os direitos humanos, políticos e econômicos básicos de todos seus cidadãos. O presidente Obama acredita que as medidas aqui apresentadas ajudarão a converter essa meta em realidade
trechos do comunicado da Casa Branca"
trechos do comunicado da Casa Branca



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