São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2010

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Sob desconfiança global, líder sudanês se escora na China

Apoio diplomático de Pequim ajuda Omar al Bashir, que busca a reeleição nesta semana, a sobreviver na Presidência

Patronos, que ficam com maioria do petróleo extraído no Sudão, têm recebido farta recompensa, como mostram os maiores prédios de Cartum


FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A CARTUM (SUDÃO)

Com a prisão por crimes de guerra em Darfur pairando sobre seu governo, o presidente do Sudão, Omar al Bashir, tem se escorado no apoio diplomático da China para sobreviver no cargo. E a recompensa aos patronos tem sido farta. Para comprovar, basta olhar para o horizonte de Cartum, a capital.
Dois arranha-céus modernistas, com vidros escuros, sobem paralelamente na cidade, para abrigar as maiores petrolíferas operando no Sudão.
Um, em formato de cone, é o novo quartel-general da Greater Nile Petroleum Operating Company (GNPOC), com 16 andares, restaurante e um minishopping center próprio, com capacidade para abrigar 650 trabalhadores. O outro, cilíndrico, do mesmo tamanho, pertence à PetroDar.
Ambas têm muito em comum, a começar do fato de serem controladas por capital chinês. As obras também estão sob responsabilidade de uma empreiteira chinesa, a China Jiangsu International. A meio caminho dos dois prédios, um dormitório abriga chineses, que dormem em contêineres.
"Eles são muito baratos e fazem bem o serviço. Mas é preciso sempre ter alguém supervisionando", diz o sudanês Hisham Fathi, consultor de engenharia do projeto da GNPOC.
Ao custo de 75 milhões, o prédio começou a ser erguido em agosto de 2008, e ficará pronto em maio, três meses antes do prazo. As petroleiras sino-sudanesas têm pressa.
A exploração do petróleo sudanês está em ascensão. Em 2008, foram 500 mil barris extraídos por dia, mas o volume cresceu desde então. Segundo Fathi, só a GNPOC extraiu, em 2009, 200 mil barris por dia. "Até o final do ano, chegaremos perto de 300 mil", afirma.
Como o consumo interno é mínimo, a maior parte é exportada para a China. As petroleiras têm presença "vertical": prospectam, exploram e transportam por longos oleodutos.
Novas áreas de exploração têm sido descobertas ao norte de Cartum, mas as maiores reservas são no sul, que votará pela independência em janeiro. O Sudão, assim, pode se ver de repente sem soberania sobre ricas jazidas, mas deve manter certo grau de controle sobre elas. Os únicos dutos para exportar o petróleo do sul rumam ao norte, até a cidade de Porto Sudão, no mar Vermelho.
Em breve, outras cinco torres devem ser erguidas na mesma região que abriga as da GNPOC e PetroDar. Terão escritórios, todos ligados a empresas do setor do petróleo.
Ao lado, haverá um condomínio residencial de luxo, um projeto do governo chamado Alsanut. "Os chineses farão tudo. A engenharia, o design e a contratação de mão de obra", afirma Mohammed Sharief, gerente de infraestrutura.
Também no refino, o governo sudanês achou melhor "terceirizar" para os chineses. A principal refinaria do país é em tese uma parceria. Mas uma olhada no organograma da empresa mostra quem manda: o diretor-geral é chinês, e seu vice, sudanês.
Além disso, grandes obras de engenharia, usadas como propaganda de campanha por Bashir, têm a marca da engenharia e financiamento chineses.


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