|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sob desconfiança global, líder sudanês se escora na China
Apoio diplomático de Pequim ajuda Omar al Bashir, que busca a reeleição nesta semana, a sobreviver na Presidência
Patronos, que ficam com maioria do petróleo extraído no Sudão, têm recebido farta recompensa, como mostram os maiores prédios de Cartum
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A CARTUM (SUDÃO)
Com a prisão por crimes de
guerra em Darfur pairando sobre seu governo, o presidente
do Sudão, Omar al Bashir, tem
se escorado no apoio diplomático da China para sobreviver
no cargo. E a recompensa aos
patronos tem sido farta. Para
comprovar, basta olhar para o
horizonte de Cartum, a capital.
Dois arranha-céus modernistas, com vidros escuros, sobem paralelamente na cidade,
para abrigar as maiores petrolíferas operando no Sudão.
Um, em formato de cone, é o
novo quartel-general da Greater Nile Petroleum Operating
Company (GNPOC), com 16
andares, restaurante e um minishopping center próprio,
com capacidade para abrigar
650 trabalhadores. O outro, cilíndrico, do mesmo tamanho,
pertence à PetroDar.
Ambas têm muito em comum, a começar do fato de serem controladas por capital
chinês. As obras também estão
sob responsabilidade de uma
empreiteira chinesa, a China
Jiangsu International. A meio
caminho dos dois prédios, um
dormitório abriga chineses,
que dormem em contêineres.
"Eles são muito baratos e fazem bem o serviço. Mas é preciso sempre ter alguém supervisionando", diz o sudanês Hisham Fathi, consultor de engenharia do projeto da GNPOC.
Ao custo de 75 milhões, o
prédio começou a ser erguido
em agosto de 2008, e ficará
pronto em maio, três meses antes do prazo. As petroleiras sino-sudanesas têm pressa.
A exploração do petróleo sudanês está em ascensão. Em
2008, foram 500 mil barris extraídos por dia, mas o volume
cresceu desde então. Segundo
Fathi, só a GNPOC extraiu, em
2009, 200 mil barris por dia.
"Até o final do ano, chegaremos
perto de 300 mil", afirma.
Como o consumo interno é
mínimo, a maior parte é exportada para a China. As petroleiras têm presença "vertical":
prospectam, exploram e transportam por longos oleodutos.
Novas áreas de exploração
têm sido descobertas ao norte
de Cartum, mas as maiores reservas são no sul, que votará
pela independência em janeiro.
O Sudão, assim, pode se ver de
repente sem soberania sobre
ricas jazidas, mas deve manter
certo grau de controle sobre
elas. Os únicos dutos para exportar o petróleo do sul rumam
ao norte, até a cidade de Porto
Sudão, no mar Vermelho.
Em breve, outras cinco torres devem ser erguidas na mesma região que abriga as da
GNPOC e PetroDar. Terão escritórios, todos ligados a empresas do setor do petróleo.
Ao lado, haverá um condomínio residencial de luxo, um
projeto do governo chamado
Alsanut. "Os chineses farão tudo. A engenharia, o design e a
contratação de mão de obra",
afirma Mohammed Sharief, gerente de infraestrutura.
Também no refino, o governo sudanês achou melhor "terceirizar" para os chineses. A
principal refinaria do país é em
tese uma parceria. Mas uma
olhada no organograma da empresa mostra quem manda: o
diretor-geral é chinês, e seu vice, sudanês.
Além disso, grandes obras de
engenharia, usadas como propaganda de campanha por Bashir, têm a marca da engenharia
e financiamento chineses.
Texto Anterior: Entrevista: Tabu cerca o uso da bomba, diz professor Próximo Texto: Frase Índice
|