|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Esquerda não "decola" apesar do descontentamento
DO CONSELHO EDITORIAL
Se há descontentamento com o
funcionamento da democracia,
gerida por governos de direita ou,
no máximo, de centro, o lógico seria que a esquerda surgisse como
a alternativa de poder.
Não é o que está acontecendo na
América Latina. Por quê?
"Enquanto as economias permanecerem dependentes dos
mercados e dos capitais, não há
outra via possível", responde
Kenneth Maxwell (Council on Foreign Relations).
Vai mais longe Lowell Fleischer
(Centro de Estudos Estratégicos
Internacionais): "A esquerda está
morta. Há uma só via, o chamado
modelo neoliberal, modificado
para levar em conta diferenças
nacionais ou regionais".
Na contramão, Alan Angell
(Oxford) recusa-se "a escrever o
obituário da esquerda", por acreditar que "é impossível predizer o
futuro dos desenvolvimentos políticos; quem haveria de prever,
nos anos 80, que as idéias dominantes na América Latina logo viriam a ser as do neoliberalismo?".
Angell admite, em todo o caso,
que "a esquerda na América Latina não tem um conjunto convincente de respostas para a questão
de como combinar crescimento
econômico sustentado com justiça social". Acrescenta: "Mas ninguém mais tem".
Cynthia McClintock (George
Washington University) concorda com Angell no fato de que "a
esquerda tem sido incapaz de
construir uma mensagem desde a
queda do Muro de Berlim".
Mas aponta também uma circunstância agravante para o descontentamento da sociedade:
"Muitos líderes elegem-se como
centro-esquerdistas, mas governam como centro-direitistas, o
que frustra os cidadãos".
Outro especialista a apontar carências nas formulações de esquerda é Francisco Panizza (London School of Economics):
"O problema da esquerda latino-americana é que esteve historicamente associada a categorias
como classe, Estado, povo e nação, que hoje são profundamente
problemáticas. Também tendeu a
usar como termos equivalentes
globalização e neoliberalismo,
que são questões diferentes. A
globalização aumentou o poder
do capital, mas tem também uma
dimensão democratizante e internacionalizante que a esquerda
não consegue representar".
Tudo somado, tem-se que a alternativa ao modelo neoliberal
pode ser, na prática, mais assustadora do que a esquerda sempre
foi para o status quo, pelo menos
na visão de Maxwell (Council on
Foreign Relations):
"A alternativa mais perigosa hoje é a do colapso do Estado onde o
narcodinheiro manda. A Colômbia está perto disso. Ou Estados
cujos sistemas políticos não podem mais lidar com demandas
contraditórias de uma população
zangada e mobilizada. O Equador
está perto disso. Ou Estados em
que velhos autocratas, mesmo
eleitos, não podem abandonar o
poder e usam meios cada vez
mais pesados para frustrar o processo democrático."
(CR)
Texto Anterior: Democracia em crise: Elite resiste às reformas, diz Castañeda Próximo Texto: Multimídia Índice
|