São Paulo, domingo, 14 de maio de 2000


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MULTIMÍDIA
Le Monde - de Paris
Romance considerado blasfemo irrita estudantes islâmicos

EGITO - Na segunda-feira, 8 de maio, a cidade do Cairo foi palco das mais violentas manifestações de rua desde a Guerra do Golfo, dez anos atrás.
Cerca de 2.000 estudantes da universidade islâmica Al Azhar deixaram o campus de Madinet Nasr, num subúrbio residencial do Cairo, para enfrentar as forças da ordem.
Eles se diziam dispostos a "derramar seu sangue pelo Alcorão" e exigiam a demissão do ministro da Cultura, Farouk Hosni, por sua responsabilidade na publicação de um romance visto pelos islâmicos como blasfemo.
A intervenção da polícia, que usou gás lacrimogêneo e balas de borracha, deixou 55 estudantes feridos. Na quarta-feira, a comissão de assuntos religiosos do Parlamento decidiu pedir a apreensão do livro.
O alarme foi dado pelo jornal islâmico "Al Chaab". Mohammad Abbas, que vinha assinando uma série de artigos intitulados "Os protocolos dos sábios árabes", em que criticava os governos que não aplicam os preceitos do islamismo, denunciou em termos violentos um romance publicado em novembro por um organismo oficial.
"Un festin d'algues" (Um festim de algas), do autor sírio Haidar Haidar, foi qualificado como obra "descrente e depravada" que descreve o profeta como "libertino".
Na semana seguinte o "Al Chaab" dedicou quase todas suas páginas a uma campanha contra o romance, seu autor, seus editores, o ministro da Cultura, os pensadores e os intelectuais liberais.
Num primeiro momento, a ofensiva islâmica levou o Ministério da Cultura a recuar. Em comunicado à imprensa, o ministério informou que já tinha retirado o livro dos pontos-de-venda desde fevereiro, após críticas formuladas pelo semanário independente "Al Ousboue".
O ministério decidiu formar uma comissão de inquérito, composta por críticos literários e funcionários do ministério, para determinar os responsáveis pela publicação do livro e se este é realmente blasfemo.
O comunicado acrescentava que "Um festim de algas" foi publicado pela primeira vez em Beirute, em 1983, e que suas sete reedições tinham sido vendidas nas livrarias do Cairo.
O livro conta a história de dois intelectuais de esquerda iraquianos que fogem da ditadura do presidente Saddam Hussein no final dos anos 1970. Eles se escondem no sul do Iraque, onde meditam sobre as causas da marcha à ré descrita pelo mundo árabe.
O ministro da Cultura, Farouk Hosni, passou depois ao contra-ataque, falando em "terrorismo intelectual" e explicando que a comissão que havia formado não era encarregada de investigar, e sim de explicar ao público o real conteúdo do romance.
Enquanto isso, mil intelectuais egípcios subscreveram um abaixo-assinado denunciando "a incitação à violência contra os responsáveis pela publicação do romance no Egito".
Para o autor do livro, Haidar Haidar, "a guerra declarada pelas forças obscurantistas tem como alvo não apenas meu romance, mas toda criatividade ou luz. Depois da derrota política que amargaram, querem monopolizar a interpretação do islã e impor um totalitarismo cultural."

The Wall Street Journal - de Nova York
Elián vai sofrer "lavagem cerebral'

ESTADOS UNIDOS - O isolamento do náufrago cubano Elián González, 6, com seu pai, em uma casa do governo, seria o primeiro passo para a lavagem cerebral à qual ele será submetido em sua volta a Cuba, afirma o editorial do jornal.
O editorial critica a secretária de Justiça dos EUA, Janet Reno por ter decidido retirar Elián à força da casa de seus parentes em Miami para devolver o menino ao pai.
Elián é o menino que naufragou em novembro do ano passado vindo de Cuba em uma balsa com sua mãe, que morreu no naufrágio. Resgatado por pescadores, o menino foi entregue a parentes que viviam em Miami. Ele foi retirado da casa de seu tio-avô Lázaro González à força, por ordem de Reno. Seu pedido de asilo político está sendo julgado pela 11ª Corte de Apelações de Atlanta.
"Reno usou a força para atingir os resultados desejados por Clinton e Castro" diz o jornal. "Pode ser que Elián cresça e se torne um comunista bem ajustado. Mas talvez, em uma duas décadas, ele se pergunte sobre o que realmente aconteceu com sua mãe."


Tradução de Clara Allain


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