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MULTIMÍDIA
Le Monde - de Paris
Romance considerado blasfemo irrita estudantes islâmicos
EGITO - Na segunda-feira, 8 de
maio, a cidade do Cairo foi palco
das mais violentas manifestações
de rua desde a Guerra do Golfo,
dez anos atrás.
Cerca de 2.000 estudantes da
universidade islâmica Al Azhar
deixaram o campus de Madinet
Nasr, num subúrbio residencial
do Cairo, para enfrentar as forças
da ordem.
Eles se diziam dispostos a "derramar seu sangue pelo Alcorão" e
exigiam a demissão do ministro
da Cultura, Farouk Hosni, por sua
responsabilidade na publicação
de um romance visto pelos islâmicos como blasfemo.
A intervenção da polícia, que
usou gás lacrimogêneo e balas de
borracha, deixou 55 estudantes
feridos. Na quarta-feira, a comissão de assuntos religiosos do Parlamento decidiu pedir a apreensão do livro.
O alarme foi dado pelo jornal islâmico "Al Chaab". Mohammad
Abbas, que vinha assinando uma
série de artigos intitulados "Os
protocolos dos sábios árabes", em
que criticava os governos que não
aplicam os preceitos do islamismo, denunciou em termos violentos um romance publicado em
novembro por um organismo oficial.
"Un festin d'algues" (Um festim
de algas), do autor sírio Haidar
Haidar, foi qualificado como obra
"descrente e depravada" que descreve o profeta como "libertino".
Na semana seguinte o "Al
Chaab" dedicou quase todas suas
páginas a uma campanha contra
o romance, seu autor, seus editores, o ministro da Cultura, os pensadores e os intelectuais liberais.
Num primeiro momento, a
ofensiva islâmica levou o Ministério da Cultura a recuar. Em comunicado à imprensa, o ministério
informou que já tinha retirado o
livro dos pontos-de-venda desde
fevereiro, após críticas formuladas pelo semanário independente
"Al Ousboue".
O ministério decidiu formar
uma comissão de inquérito, composta por críticos literários e funcionários do ministério, para determinar os responsáveis pela publicação do livro e se este é realmente blasfemo.
O comunicado acrescentava
que "Um festim de algas" foi publicado pela primeira vez em Beirute, em 1983, e que suas sete reedições tinham sido vendidas nas
livrarias do Cairo.
O livro conta a história de dois
intelectuais de esquerda iraquianos que fogem da ditadura do
presidente Saddam Hussein no final dos anos 1970. Eles se escondem no sul do Iraque, onde meditam sobre as causas da marcha à
ré descrita pelo mundo árabe.
O ministro da Cultura, Farouk
Hosni, passou depois ao contra-ataque, falando em "terrorismo
intelectual" e explicando que a comissão que havia formado não
era encarregada de investigar, e
sim de explicar ao público o real
conteúdo do romance.
Enquanto isso, mil intelectuais
egípcios subscreveram um abaixo-assinado denunciando "a incitação à violência contra os responsáveis pela publicação do romance no Egito".
Para o autor do livro, Haidar
Haidar, "a guerra declarada pelas
forças obscurantistas tem como
alvo não apenas meu romance,
mas toda criatividade ou luz. Depois da derrota política que amargaram, querem monopolizar a interpretação do islã e impor um totalitarismo cultural."
The Wall Street Journal - de Nova York
Elián vai sofrer "lavagem cerebral'
ESTADOS UNIDOS - O isolamento
do náufrago cubano Elián González, 6, com seu pai, em uma casa
do governo, seria o primeiro passo para a lavagem cerebral à qual
ele será submetido em sua volta a
Cuba, afirma o editorial do jornal.
O editorial critica a secretária de
Justiça dos EUA, Janet Reno por
ter decidido retirar Elián à força
da casa de seus parentes em Miami para devolver o menino ao pai.
Elián é o menino que naufragou
em novembro do ano passado
vindo de Cuba em uma balsa com
sua mãe, que morreu no naufrágio. Resgatado por pescadores, o
menino foi entregue a parentes
que viviam em Miami. Ele foi retirado da casa de seu tio-avô Lázaro
González à força, por ordem de
Reno. Seu pedido de asilo político
está sendo julgado pela 11ª Corte
de Apelações de Atlanta.
"Reno usou a força para atingir
os resultados desejados por Clinton e Castro" diz o jornal. "Pode
ser que Elián cresça e se torne um
comunista bem ajustado. Mas talvez, em uma duas décadas, ele se
pergunte sobre o que realmente
aconteceu com sua mãe."
Tradução de Clara Allain
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