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GUERRA SEM LIMITES
Anúncio recente de retirada de tropas dos EUA não satisfaz extremistas sauditas
Ataque revela pressão sobre regime
ALISTAIR LYON
DA REUTERS
Os atentados suicidas em Riad
enviaram aos governantes sauditas uma mensagem contundente:
que a retirada das tropas americanas do berço do islã não abrandou
o ânimo de militantes ainda decididos a desestabilizar o maior exportador de petróleo do mundo.
Analistas disseram que os ataques, atribuídos por autoridades
sauditas e americanas à rede Al
Qaeda, chamam a atenção para as
pressões que a família real saudita
está sofrendo por manter uma
aliança malvista com os EUA.
Ao mesmo tempo, a liderança
do reino, que está envelhecendo,
vem enfrentando problemas sociais e econômicos difíceis, que
podem acentuar o desafio lançado pela militância islâmica.
"Os sauditas não terão tratamento diferenciado", comentou
Yezid Sayigh, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos,
de Londres. "Existem desafios de
longo prazo à liderança saudita e
ao relacionamento saudita-americano que não irão desaparecer."
O terrorista saudita Osama bin
Laden, líder da Al Qaeda, exigiu a
expulsão das tropas americanas
"infiéis" da terra que abriga os
dois santuários mais sagrados do
islã, em Meca e Medina. As forças
americanas estão no país desde a
invasão do Kuait pelo Iraque (90).
Teoricamente, a retirada de tropas, anunciada há duas semanas,
deveria aliviar as tensões nas relações americano-sauditas, que
vêm se intensificando desde os
ataques de 11 de setembro de 2001.
Mas Neil Partrick, analista da
Unidade de Inteligência da revista
britânica "The Economist", disse
que as explosões mostram que os
radicais islâmicos não se darão
por satisfeitos apenas com a saída
das tropas americanas. "Em última análise, existe o desejo de desestabilizar o reino e tirar do poder a família Al Saud."
Daniel Neep, do Real Instituto
de Serviços Unidos, em Londres,
disse que a Arábia Saudita está se
mostrando incomumente disposta a reconhecer a possibilidade de
que seja a Al Qaeda a responsável
pelas explosões em Riad.
No passado, os sauditas mostraram a tendência a negar que Bin
Laden tenha seguidores no reino.
Vários atentados lançados contra
ocidentais nos últimos anos foram atribuídos por eles a uma disputa entre estrangeiros relacionada ao álcool. "Os sauditas não podem ficar parados", disse Neep, acrescentando que a presença das
tropas americanas é apenas uma
numa longa lista de queixas formuladas pela Al Qaeda, que critica a aliança saudita com os EUA e acusa a família real de ser indigna
de ser a guardiã dos santuários sagrados de Meca e Medina.
Neep disse que a Arábia Saudita continuará a ser pressionada pelos EUA para empreender reformas, especialmente após o sucesso militar dos EUA no Iraque,
mas que os atentados, ao enfatizar a ameaça comum aos dois países,
pode constituir presságio de uma nova aproximação.
Para Partrick, Washington reconhece o aumento da cooperação saudita com os EUA desde os ataques de 11 de setembro, especialmente com os esforços feitos
para fechar os canais financeiros
que uniam o reino à Al Qaeda.
"Não acho que Washington veja
os sauditas como complacentes.
Reconhece-se o fato de que eles
têm seus problemas próprios."
De acordo com Partrick, as explosões em Riad ressaltaram as
enormes pressões domésticas
exercidas sobre a Arábia Saudita
para que ela contribua mais do
que com o apoio verbal aos esforços do secretário de Estado, Colin
Powell, para conseguir amplo
apoio árabe ao novo plano de paz
entre Israel e os palestinos.
Como deixou clara a visita de
Powell ao Egito, muitos árabes relutam em manifestar grande entusiasmo pela diplomacia americana, a não ser que Washington
faça pressão real não só sobre os
palestinos, mas também sobre Israel.
Sayigh disse que, diferentemente do Egito, a Arábia Saudita só recentemente começou a enfrentar
desafios sistemáticos que questionam as bases do modo de governar da família real saudita, que
envolve uma aliança com clérigos
wahabitas fundamentalistas.
"Existe um mal-estar socioeconômico profundo e pressão para
abrir o sistema e torná-lo mais
transparente e responsável por
seus atos", disse ele. "Tudo isso
pode causar violência e conflitos
políticos."
Tradução de Clara Allain.
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