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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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GUERRA SEM LIMITES

Anúncio recente de retirada de tropas dos EUA não satisfaz extremistas sauditas

Ataque revela pressão sobre regime

ALISTAIR LYON
DA REUTERS

Os atentados suicidas em Riad enviaram aos governantes sauditas uma mensagem contundente: que a retirada das tropas americanas do berço do islã não abrandou o ânimo de militantes ainda decididos a desestabilizar o maior exportador de petróleo do mundo.
Analistas disseram que os ataques, atribuídos por autoridades sauditas e americanas à rede Al Qaeda, chamam a atenção para as pressões que a família real saudita está sofrendo por manter uma aliança malvista com os EUA.
Ao mesmo tempo, a liderança do reino, que está envelhecendo, vem enfrentando problemas sociais e econômicos difíceis, que podem acentuar o desafio lançado pela militância islâmica.
"Os sauditas não terão tratamento diferenciado", comentou Yezid Sayigh, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres. "Existem desafios de longo prazo à liderança saudita e ao relacionamento saudita-americano que não irão desaparecer."
O terrorista saudita Osama bin Laden, líder da Al Qaeda, exigiu a expulsão das tropas americanas "infiéis" da terra que abriga os dois santuários mais sagrados do islã, em Meca e Medina. As forças americanas estão no país desde a invasão do Kuait pelo Iraque (90).
Teoricamente, a retirada de tropas, anunciada há duas semanas, deveria aliviar as tensões nas relações americano-sauditas, que vêm se intensificando desde os ataques de 11 de setembro de 2001.
Mas Neil Partrick, analista da Unidade de Inteligência da revista britânica "The Economist", disse que as explosões mostram que os radicais islâmicos não se darão por satisfeitos apenas com a saída das tropas americanas. "Em última análise, existe o desejo de desestabilizar o reino e tirar do poder a família Al Saud."
Daniel Neep, do Real Instituto de Serviços Unidos, em Londres, disse que a Arábia Saudita está se mostrando incomumente disposta a reconhecer a possibilidade de que seja a Al Qaeda a responsável pelas explosões em Riad.
No passado, os sauditas mostraram a tendência a negar que Bin Laden tenha seguidores no reino. Vários atentados lançados contra ocidentais nos últimos anos foram atribuídos por eles a uma disputa entre estrangeiros relacionada ao álcool. "Os sauditas não podem ficar parados", disse Neep, acrescentando que a presença das tropas americanas é apenas uma numa longa lista de queixas formuladas pela Al Qaeda, que critica a aliança saudita com os EUA e acusa a família real de ser indigna de ser a guardiã dos santuários sagrados de Meca e Medina.
Neep disse que a Arábia Saudita continuará a ser pressionada pelos EUA para empreender reformas, especialmente após o sucesso militar dos EUA no Iraque, mas que os atentados, ao enfatizar a ameaça comum aos dois países, pode constituir presságio de uma nova aproximação.
Para Partrick, Washington reconhece o aumento da cooperação saudita com os EUA desde os ataques de 11 de setembro, especialmente com os esforços feitos para fechar os canais financeiros que uniam o reino à Al Qaeda. "Não acho que Washington veja os sauditas como complacentes. Reconhece-se o fato de que eles têm seus problemas próprios."
De acordo com Partrick, as explosões em Riad ressaltaram as enormes pressões domésticas exercidas sobre a Arábia Saudita para que ela contribua mais do que com o apoio verbal aos esforços do secretário de Estado, Colin Powell, para conseguir amplo apoio árabe ao novo plano de paz entre Israel e os palestinos.
Como deixou clara a visita de Powell ao Egito, muitos árabes relutam em manifestar grande entusiasmo pela diplomacia americana, a não ser que Washington faça pressão real não só sobre os palestinos, mas também sobre Israel.
Sayigh disse que, diferentemente do Egito, a Arábia Saudita só recentemente começou a enfrentar desafios sistemáticos que questionam as bases do modo de governar da família real saudita, que envolve uma aliança com clérigos wahabitas fundamentalistas.
"Existe um mal-estar socioeconômico profundo e pressão para abrir o sistema e torná-lo mais transparente e responsável por seus atos", disse ele. "Tudo isso pode causar violência e conflitos políticos."


Tradução de Clara Allain.


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