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ANÁLISE
Terror e Bush se alimentam
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Atentados terroristas contra cidadãos ou propriedades ocidentais legitimam a atual política externa agressiva do governo americano, que, por sua vez, é em grande parte a justificativa utilizada
pela rede Al Qaeda, do saudita
Osama bin Laden, para atacar os
interesses dos EUA, segundo analistas ouvidos pela Folha.
"A Al Qaeda busca expulsar os
ocidentais da Arábia Saudita, onde ficam Meca e Medina, os dois
locais mais importantes do mundo islâmico, e do Oriente Médio
em geral", explicou Jean Leca,
arabista e professor do Instituto
de Estudos Políticos de Paris.
"Ora, a presença dos EUA em
Najaf e em Karbala [Iraque], cidades sagradas para os muçulmanos
xiitas, só faz justificar ações extremistas aos olhos dos terroristas.
Quem cometeu os atentados em
Riad, mesmo que não tenha sido a
Al Qaeda, tinha isso em mente."
George W. Bush disse que a Al
Qaeda pode ter realizado os ataques e que os terroristas "aprenderão o significado da justiça
americana". Para Diana Owen, da
Universidade de Georgetown
(EUA), essa reação era esperada.
"Bush esteve apagado até setembro de 2001. No momento adverso, ele e seus assessores perceberam que tinham um papel crucial a desempenhar. Desde então,
todavia, o governo vem mantendo essa cultura do medo nos EUA,
que lhe é bastante favorável politicamente", analisou Owen.
"O Afeganistão, o Iraque e a
guerra ao terrorismo são temas
totalmente interligados para os
estrategistas de Bush. Assim, ataques contra ocidentais no Oriente
Médio legitimam a ação dos que
defendiam a ofensiva preventiva
contra o Iraque. É provável que a
"nova ameaça terrorista" passe a
ter grande destaque na mídia."
De acordo com Joseph Nye, reitor da Kennedy School of Government, da Universidade Harvard (EUA), Washington deve agir
cautelosamente para não transformar a guerra ao terrorismo
num choque de civilizações.
"Bin Laden quer o choque de civilizações. Mas, por enquanto, o
Ocidente não caiu nessa armadilha. Não podemos permitir que
essa idéia se torne uma profecia
que se auto-realiza", avaliou Nye.
Leca teme, porém, que uma forte reação americana dê munição
aos terroristas. "No Oriente Médio, os EUA são vistos como pró-Israel e não fazem muito para mudar isso. Quanto mais eles expuserem seu poder militar, pior
será a repercussão na região."
Washington deverá, portanto,
mostrar que sabe separar os muçulmanos radicais dos moderados. Senão, com o tempo, a profecia acabará se auto-realizando.
Ademais, os serviços secretos são
bem mais eficazes que os militares na guerra ao terrorismo.
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