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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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Perseguida pelos EUA, Al Qaeda se descentraliza e mantém ameaça

OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO

Os atentados em Riad frustraram as primeiras manifestações de otimismo que começavam a surgir entre funcionários de agências de inteligência dos EUA em relação aos resultados da guerra contra o terrorismo. E em especial quanto à capacidade da rede Al Qaeda, provável autora das ações de anteontem, de organizar um novo ataque tão coordenado, apesar da implacável perseguição que tem enfrentado desde os atentados de 11 de setembro de 2001.
Ontem, após os ataques na Arábia Saudita, fontes das áreas de inteligência nos EUA já falavam na necessidade de "redobrar os esforços na guerra contra o terror".
Mas, segundo especialistas ouvidos pela Folha, um novo ataque de grandes proporções como o de anteontem era uma questão de tempo. "Apesar de ser o movimento mais caçado da história, a Al Qaeda e suas organizações associadas representarão uma ameaça significativa em 2003 e nos próximos anos", disse Rohan Gunaratna, autor do livro "Inside Al Qaeda -Global Network of Terror" (dentro da Al Qaeda - rede global do terror), da Columbia University Press.
Segundo texto do "Washington Post" na semana passada, a ausência de atentados em grande escala durante a guerra no Iraque -silêncio interrompido brutalmente pelas bombas na capital saudita- reforçara a percepção nos EUA de que a capacidade operacional da Al Qaeda estaria severamente comprometida. "Era o grande momento para eles. Ou se fariam ouvir ou se calariam. E eles fracassaram", disse Cofer Black, chefe do grupo de combate ao terrorismo do Departamento de Estado dos EUA.
As mortes ou as prisões de importantes membros da cúpula da Al Qaeda, os interrogatórios e a eliminação do Afeganistão como um porto seguro para operações terroristas teriam bloqueado a capacidade de comunicação e de operação da rede.
Cerca de 3.000 suspeitos foram detidos em 98 países desde 2001. Algumas das principais lideranças da Al Qaeda foram tiradas de circulação e, embora seu líder maior, Bin Laden, provavelmente esteja vivo e siga desaparecido, ele, segundo analista de inteligência dos EUA, "precisa se movimentar constantemente e manter a cabeça baixa, concentrando-se em sobreviver a cada dia".
Segundo os especialistas ouvidos pela Folha, a Al Qaeda, que já possuía relações com organizações extremistas islâmicas em diversos países, vive um processo de descentralização ainda maior e buscará trabalhar mais proximamente com grupos terroristas ao redor do mundo. "O teatro de guerra vai se ampliar", diz Gunaratna, que alerta para um possível incremento do terror na África, no Sudeste Asiático, no Oriente Médio, no Cáucaso e também na América Latina.
Tradicionalmente, a cúpula da Al Qaeda priorizava ataques contra alvos estratégicos mais difíceis e deixava os mais fáceis para seus grupos associados. Com a perseguição aos níveis mais altos da organização e a intensificação das ações de inteligência e das medidas de segurança nos EUA, Europa e Ásia Central, muitos de seus membros estão trabalhando com grupos terroristas em regiões menos visadas, que passarão a ter acesso a tecnologias, táticas e técnicas sofisticadas.
Essa nova estratégia já pôde ser vista em 2002, quando a Al Qaeda ou grupos associados mataram turistas alemães na sinagoga de Djerba (Tunísia), técnicos franceses em Karachi (Paquistão), turistas australianos e ocidentais numa discoteca em Bali (Indonésia) e turistas israelenses e trabalhadores quenianos num hotel israelense em Mombaça (Quênia).
"Precisaremos aguardar muitos anos antes de declarar qualquer vitória contra o terrorismo", disse Tom Sanderson, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (Washington).


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