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Perseguida pelos EUA, Al Qaeda se descentraliza e mantém ameaça
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
Os atentados em Riad frustraram as primeiras manifestações
de otimismo que começavam a
surgir entre funcionários de agências de inteligência dos EUA em
relação aos resultados da guerra
contra o terrorismo. E em especial
quanto à capacidade da rede Al
Qaeda, provável autora das ações
de anteontem, de organizar um
novo ataque tão coordenado, apesar da implacável perseguição que
tem enfrentado desde os atentados de 11 de setembro de 2001.
Ontem, após os ataques na Arábia Saudita, fontes das áreas de inteligência nos EUA já falavam na necessidade de "redobrar os esforços na guerra contra o terror".
Mas, segundo especialistas ouvidos pela Folha, um novo ataque
de grandes proporções como o de
anteontem era uma questão de
tempo. "Apesar de ser o movimento mais caçado da história, a
Al Qaeda e suas organizações associadas representarão uma
ameaça significativa em 2003 e
nos próximos anos", disse Rohan
Gunaratna, autor do livro "Inside
Al Qaeda -Global Network of Terror" (dentro da Al Qaeda - rede
global do terror), da Columbia
University Press.
Segundo texto do "Washington
Post" na semana passada, a ausência de atentados em grande escala durante a guerra no Iraque
-silêncio interrompido brutalmente pelas bombas na capital
saudita- reforçara a percepção
nos EUA de que a capacidade
operacional da Al Qaeda estaria
severamente comprometida. "Era
o grande momento para eles. Ou
se fariam ouvir ou se calariam. E
eles fracassaram", disse Cofer
Black, chefe do grupo de combate
ao terrorismo do Departamento
de Estado dos EUA.
As mortes ou as prisões de importantes membros da cúpula da
Al Qaeda, os interrogatórios e a
eliminação do Afeganistão como
um porto seguro para operações
terroristas teriam bloqueado a capacidade de comunicação e de
operação da rede.
Cerca de 3.000 suspeitos foram
detidos em 98 países desde 2001.
Algumas das principais lideranças da Al Qaeda foram tiradas de
circulação e, embora seu líder
maior, Bin Laden, provavelmente
esteja vivo e siga desaparecido,
ele, segundo analista de inteligência dos EUA, "precisa se movimentar constantemente e manter
a cabeça baixa, concentrando-se
em sobreviver a cada dia".
Segundo os especialistas ouvidos pela Folha, a Al Qaeda, que já
possuía relações com organizações extremistas islâmicas em diversos países, vive um processo
de descentralização ainda maior e
buscará trabalhar mais proximamente com grupos terroristas ao
redor do mundo. "O teatro de
guerra vai se ampliar", diz Gunaratna, que alerta para um possível
incremento do terror na África,
no Sudeste Asiático, no Oriente
Médio, no Cáucaso e também na
América Latina.
Tradicionalmente, a cúpula da
Al Qaeda priorizava ataques contra alvos estratégicos mais difíceis
e deixava os mais fáceis para seus
grupos associados. Com a perseguição aos níveis mais altos da organização e a intensificação das
ações de inteligência e das medidas de segurança nos EUA, Europa e Ásia Central, muitos de seus
membros estão trabalhando com
grupos terroristas em regiões menos visadas, que passarão a ter
acesso a tecnologias, táticas e técnicas sofisticadas.
Essa nova estratégia já pôde ser
vista em 2002, quando a Al Qaeda
ou grupos associados mataram
turistas alemães na sinagoga de
Djerba (Tunísia), técnicos franceses em Karachi (Paquistão), turistas australianos e ocidentais numa discoteca em Bali (Indonésia)
e turistas israelenses e trabalhadores quenianos num hotel israelense em Mombaça (Quênia).
"Precisaremos aguardar muitos
anos antes de declarar qualquer
vitória contra o terrorismo", disse
Tom Sanderson, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (Washington).
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