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Ataque mina relação
entre EUA e sauditas
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Os atentados terroristas contra
alvos ocidentais ontem em Riad
marcam um novo estremecimento no "casamento de conveniência" que vigora há décadas entre
os americanos e a Arábia Saudita,
o maior fornecedor individual de
petróleo para os Estados Unidos.
Duas semanas antes, os EUA
haviam anunciado oficialmente a
retirada de cerca de 5.000 soldados do solo saudita, após dez anos
de permanência arrastada e conflituosa que começou após a
Guerra do Golfo, em 1991.
"Depois da mudança de regime
do Iraque, toda a região está agora
mais segura", disse no final de
abril o secretário da Defesa dos
EUA, Donald Rumsfeld, ao explicar oficialmente o movimento.
Por trás da justificativa, que se
mostrou precipitada, contou a
forte pressão do governo saudita
de retirar os americanos de seu
território, onde se encontram
duas cidades sagradas para os
muçulmanos, Meca e Medina.
Durante a maior parte do tempo, as tropas dos EUA ficaram
restritas a uma base afastada, na
qual reproduziram uma espécie
de "subúrbio" americano.
Embora esse "confinamento"
tenha ocorrido em boa medida
como resposta a dois ataques terroristas, em 95 e 96, que mataram
24 soldados americanos no país, o
governo saudita sempre fez questão de limitar ao máximo a presença física dessas tropas.
Nas duas recentes guerras, no
Afeganistão e no Iraque, a Arábia
Saudita não permitiu que ataques
aos dois países partissem de seu
território.
A relação entre os EUA e a Arábia Saudita começou a ficar envenenada após os atentados de 11 de
setembro de 2001.
Os sauditas comemoram pelas
ruas de Riad o sucesso dos ataques. Quinze dos 19 terroristas diretamente envolvidos eram sauditas, assim como Osama bin Laden, que, em vídeo divulgado pelos EUA, admitiu responsabilidade pelos atentados.
Imediatamente, a imprensa
americana voltou-se contra o governo saudita, que, rapidamente
realizou algumas prisões de supostos terroristas que operavam
no país.
Ontem, em resposta aos novos
ataques, Bush anunciou que vai
"punir os assassinos" que cometeram os atentados. Resta saber
com que meios, já que o movimento americano era exatamente
o inverso, de retirada.
De qualquer modo, os ataques
voltam a reforçar a posição dos
chamados "falcões" da atual administração e devem desviar novamente a atenção da opinião pública da fragilidade econômica.
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