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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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Ataque mina relação entre EUA e sauditas

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Os atentados terroristas contra alvos ocidentais ontem em Riad marcam um novo estremecimento no "casamento de conveniência" que vigora há décadas entre os americanos e a Arábia Saudita, o maior fornecedor individual de petróleo para os Estados Unidos.
Duas semanas antes, os EUA haviam anunciado oficialmente a retirada de cerca de 5.000 soldados do solo saudita, após dez anos de permanência arrastada e conflituosa que começou após a Guerra do Golfo, em 1991.
"Depois da mudança de regime do Iraque, toda a região está agora mais segura", disse no final de abril o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, ao explicar oficialmente o movimento.
Por trás da justificativa, que se mostrou precipitada, contou a forte pressão do governo saudita de retirar os americanos de seu território, onde se encontram duas cidades sagradas para os muçulmanos, Meca e Medina.
Durante a maior parte do tempo, as tropas dos EUA ficaram restritas a uma base afastada, na qual reproduziram uma espécie de "subúrbio" americano.
Embora esse "confinamento" tenha ocorrido em boa medida como resposta a dois ataques terroristas, em 95 e 96, que mataram 24 soldados americanos no país, o governo saudita sempre fez questão de limitar ao máximo a presença física dessas tropas.
Nas duas recentes guerras, no Afeganistão e no Iraque, a Arábia Saudita não permitiu que ataques aos dois países partissem de seu território.
A relação entre os EUA e a Arábia Saudita começou a ficar envenenada após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Os sauditas comemoram pelas ruas de Riad o sucesso dos ataques. Quinze dos 19 terroristas diretamente envolvidos eram sauditas, assim como Osama bin Laden, que, em vídeo divulgado pelos EUA, admitiu responsabilidade pelos atentados.
Imediatamente, a imprensa americana voltou-se contra o governo saudita, que, rapidamente realizou algumas prisões de supostos terroristas que operavam no país.
Ontem, em resposta aos novos ataques, Bush anunciou que vai "punir os assassinos" que cometeram os atentados. Resta saber com que meios, já que o movimento americano era exatamente o inverso, de retirada.
De qualquer modo, os ataques voltam a reforçar a posição dos chamados "falcões" da atual administração e devem desviar novamente a atenção da opinião pública da fragilidade econômica.


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