São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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Boliviano crê ser alvo de uma conspiração

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LA PAZ

Morales está convencido de que existe uma conspiração contra ele: "Nessa conspiração existe uma corrente da oligarquia e de algumas multinacionais petrolíferas, de políticos nefastos, corruptos, neoliberais", acusa. "Temos informações dos serviços de inteligência e das Forças Armadas." Ele está preocupado? "Não, pelo contrário, me sinto forte."
No aeroporto militar do Grupo Aéreo de Caça, um jatinho executivo comprado em 1976 pelo ditador Hugo Bánzer aguarda o presidente. A Bolívia não possui um avião capaz de atravessar o oceano. Mas Morales percorre a América com o jatinho para seis passageiros, fazendo paradas a cada duas horas e meia de vôo. Ao entrar, vemos uma gravura da Virgem Maria. Quem a colocou ali? Morales não sabe.
Voamos até Chimoré, no Chapare de Cochabamba, a região cocaleira tropical onde ele iniciou sua luta sindical. O presidente já ficou detido num centro de Chimoré, onde ele agora aterrissa como presidente. Morales vai assistir à formatura de 67 policiais antinarcóticos do curso "Garras de Valor", junto com o diretor da Agência de Assuntos Antinarcóticos dos EUA, William Francisco.
Durante o ato, ele promete identificar os chefões do narcotráfico e adverte que eles "podem estar sob a proteção de algumas autoridades". Francisco concorda, entusiasmado. Ao final, eles se sentam à mesma mesa para comer um churrasco. Morales pergunta como anda a vida dos tenentes que um dia o detiveram.
Novamente no jatinho, a caminho da inauguração de uma feira internacional em Cochabamba, Morales pede a opinião de seu porta-voz governamental, Alex Contreras, que, a seu lado, tecla num laptop enfeitado com adesivos de Che Guevara. "Gostou da minha intervenção?". Morales sempre improvisa seus discursos.
É noite. O presidente repassa a situação da Bolívia. "Eu não tenho poder", diz. "Se estou na Presidência, é pelo esforço dos companheiros e dos movimentos sociais. Eles são o poder, foram eles que me conduziram ao Palácio, e chegar aqui custou sangue, luta, marginalização e discriminação. Faltam horas no meu dia, porque tudo está por fazer."
O jatinho aterrissa em Cochabamba para que Morales inaugure a feira internacional, quase carregado pela multidão.
Às 21h, partimos novamente em direção a La Paz. O presidente está esgotado e dorme. Contreras conta que Morales costuma recuperar minutos de sono durante as viagens. Às 22h chegamos ao Palácio. A agenda continua: Morales se reúne com os representantes do departamento de Tarija, um dos mais ricos em gás e petróleo do país. Seu ajudante-de-campo olha o relógio, nervoso. Morales precisa acordar às 4h da manhã para embarcar no avião que Hugo Chávez lhe emprestou para voar até Havana. Em Cuba, ao lado de Castro e Chávez, Morales vai se somar à Alternativa Bolivariana para a América Latina (Alba), um projeto comercial sem tarifas. (MERCEDES IBAIBARRIAGA)


Tradução de Clara Allain


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